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Meu Livro de Cabeceira - Livro de Braço

Quando minha amiga Albanita me pediu que escrevesse este pequeno ensaio me vi diante desta questão: Eu não tenho livro de cabeceira! Nunca leio à noite, só durante o dia e na realidade eu tenho é Livro de Braço! Isto mesmo! Eu ando com um livro debaixo do braço, aonde vou o levo.

Leio por ano mais ou menos cinqüenta livros fora as publicações que assino (jornais da ONG da qual sou membro, revistas femininas e literárias, e outros...) e aprendi a aproveitar todo o meu tempo livre na condução, na espera destas, na fila do banco, no médico para adiantar a leitura. Aprendi a ler andando, sacudindo na condução, no meio do burburinho, no maior barulho e quem me conhece pode dizer que eu leio mesmo e que sei o que estou lendo e o porquê.

Então como escrever sobre um livro de cabeceira? Ah, tantos livros... posso falar sobre um que me vem a cabeça, li recentemente e o denominaria o "Meu Livro de Cabeceira " se pudesse manter meus olhos abertos depois que me recosto nesta: "O Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa.É um anti-romance. Isto mesmo, algo que inquieta e recosta-se ao mais incógnito de nós e a primeira obra em prosa do grande poeta português. Leio e releio este livro com muito prazer. A exposição dos pensamentos do poeta muitas vezes fizeram-se porta voz dos meus; tenho-o todo grifado, anotações nos rodapés e páginas. Faz-me refletir em alguns trechos, paro e retomo a leitura. Não sou eu quem ditou ao poeta? Conversávamos então e ele lia meus pensamentos. Cito alguns trechos: "Nunca amamos alguém. Amamos tão somente a idéia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso- em suma, é a nós mesmo –que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual buscamos um prazer dado por uma idéia nossa. O Onanista é abjeto, mas em exata verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana."

"Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para o universo? O universo não é meu: Sou eu."

"Para compreender destruí-me. Compreender é deixar de amar. Nada conheço mais ao mesmo tempo falso e significativo que aquele dito de Leonardo da Vinci de que se não pode amar ou odiar uma coisa senão depois de compreendê-la."

"Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro com a realidade de nada...."

Embora alguns trechos sejam lúgubres, alguns irônicos, a poesia e a percepção de Pessoa é sempre pretensiosa, leva à reflexão, ao sorriso de entendimento. Um estilhaço intelectual, devaneios, confissões privadas, insights. Para quem conhece o poeta, uma leitura instigante e reconfortante. Como é bom sentir reverberar no pensamento as suas dúbias conjecturas! Eu leio, releio e sempre me encanto!

Jania Maria
jm.adap@ig.com.br

PESSOA, Fernando, “O Livro do Desassossego". Organização de Richard Zenith - 2ªed. - São Paulo - Companhia das Letras, 1999

 
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