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A verdadeira menina que roubava livros

Essa existe mesmo, em São Paulo.

Lá vem ela, toda pimpona, andando ereta, “barriga pra dentro, peito pra frente”, caminhando pela Rua Augusta.

Pela desenvoltura do andar, parece ter setenta anos; mas na realidade são mais de oitenta! Sua atitude é decidida; um livro dentro de uma sacola, um meio sorriso nos lábios...

Que estará pensando? Que arte estará planejando?

É conhecida em todas as lojas por onde passa.

- Oi, D. Guiomar, como vai a senhora, tudo bem?

Com um simpático sorriso ela responde:

- Tudo bem, Lurdinha, e você? E sua mãe, melhorou?

- Aaah! Graças a Deus! Aquele remédio que a senhora mandou pra ela é uma ma-ra-vi-lha!

- Que bom! Fico contente.

- A senhora não vai entrar? Chegaram uns sapatos muito bonitos. E tem tamanhos pequenos com salto alto, do jeito que a senhora gosta.

- Hoje não, Lurdinha, mas amanhã eu passo aqui e experimento todos. Hoje estou com um bocado de pressa pra resolver um probleminha.

- É grave?

- Não, não é grave não, mas é meio urgente.
As duas se despedem.

Guiomar continua muito elegante pela calçada, sem se distrair com as vitrines maravilhosas das lojas por onde passa. Está tão concentrada que não escuta outra pessoa chamando seu nome:

- D. Guiomar?... Oi, D. Guiomar!

- Oi, nossa, nem tinha percebido que você estava me chamando...

- É, a senhora está muito compenetrada... Eu só queria avisar que chegou a lã que a senhora encomendou, pra fazer o suéter da sua sobrinha. Encontramos a cor que ela gosta. A senhora não quer aproveitar e levar já?

- Iiiih! Vim sem dinheiro, não tenho como pagar agora.

- Não tem importância, a senhora leva e paga outro dia, quando passar por aqui.

- Mas agora estou com pressa pra resolver um assunto ali adiante.

O vendedor, solícito, resolve a questão:

- Eu deixo o pacote pronto; e quando a senhora vier de volta, é só pegar. Tá bom assim?

- Então tá! Até daqui a pouco!

E lá vai ela, toc-toc, toc-toc, no salto de seu sapatinho 34... Por onde passa sua figurinha chama a atenção.

- Como vai, D. Guiomar?

- Tudo bem, e você? Agora estou com pressa, amanhã eu passo pra gente bater um papinho.

Continua seu caminho com jeito determinado. É magrinha, pequenininha, cabelos grisalhos sempre arrumadinhos, o tipo da vovozinha que dá vontade de abraçar.

Entra numa livraria.
Lá vem o vendedor atencioso, pois D. Guiomar é cliente antiga.

- Seu Mario, - diz ela - vim trocar aquele livro que eu levei anteontem pra dar de presente, pois minha amiga já leu.

- Pois não, D. Guiomar, pode escolher outro!

Ela vai na direção das prateleiras e o vendedor atrás a ajudar:

- Já conhece este? Está na lista dos mais vendidos. É romance histórico, como a senhora gosta. Sua amiga gosta do mesmo tipo de livros que a senhora?

- Aaaah, ela é muuuito parecida comigo! No gosto pelos livros somos como irmãs gêmeas!

- Então não tem erro, ela vai gostar. ...Se ela ainda não leu...

- Vou levar; acho que este ela não leu.

- Quer que eu embrulhe pra presente?

- Claro! Faz um pacote bem bonito!

O vendedor capricha no pacote enquanto conversa com Guiomar. Ela faz perguntas sobre outros livros, sobre a família do rapaz, dá conselhos e se despede com um sorriso.

Sai da loja toda contente.

O livro “da amiga” foi trocado depois de ter sido lido às pressas, por ela mesma, com todo cuidado, sem abrir muito as páginas para não marcar. Leu um livro de graça e está levando outro. E, quando acabar de ler este, ainda estará novinho, para ser trocado outra vez... O vendedor, claro, percebeu o golpe, mas finge nada entender. E assim, Guiomar vai lendo grande parte dos romances pelos quais é apaixonada.

Essa sim é a verdadeira “Menina que roubava livros”.

Maria Helena Salles Penteado

 
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