Passagens da memória e falta de memória
A narrativa em 1a. pessoa dá um tom de confidência para as memórias. Assim, o leitor pode de perto acompanhar o fio narrativo e participar do pequeno mundo da personagem, dentro da história vivida, ele, ainda escritor e poeta aos 90 anos. “Nunca fiz nada diferente de escrever, missão em que confio na luz do mito que li pela vida afora”, e se propõe a narrar “do jeito que conseguir nesta memória do meu grande amor”.
A vida vivida, as dores naturais da idade, mas esquecidas, sintomas da velhice, quando a gente começa a se parecer com o próprio pai, é a matéria do seu romance, que não abandona o sonho e o amor, mas esse se torna presente numa menina de 15 anos. Assim segue, entre passagens da memória, da falta de memória e da meditação sobre seus amores, como as primeiras experiências com o desejo de pôr à prova o encontro com uma menina “encomendada”, segundo os seus desejos e que se transforma em amor contemplativo.
O leitor segue a narrativa com o humor que o Autor dá às passagens que não deprimem, mas ao contrário, torna natural o sonho do amor ainda aos 90 anos, numa velhice sempre adiada, em vida sempre vivida. A linguagem é natural, sem a preocupação de impressionar, mas pelo contrário, reafirma o desejo de transmitir com naturalidade a vida como ela é, simples, corrente, natureza de cada um, mas vivida aos 90 anos e à espera dos 100.
*Garcia Marquez,Gabriel; Memórias de Minhas Putas Tristes. Tradução Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2005 |