(Meados do século XIX)
Nunca tantos mestres
Apareceram
Pra nos apontar caminhos
Pra nos convencer
Que havia em nós
Valores não revelados
Ou, talvez, há muito esquecidos.
Na esteira do mártir Babeuf
e do velho Philipo Buonarroti,
Proudhon, Blanqui, Lassale
E muitos outros
Lançaram-se à missão
De nos libertar
Do estigma de servos
Marcado a ferro
Em nossas consciências.
Pouca intimidade
Tínhamos com o poder;
Na realidade, nenhuma.
Nosso horizonte
Não ia muito além
Do fim do dia.
Nossa espinha dorsal,
Após séculos de submissão,
Curvada, atrofiada
Só nos fazia
Olhar o chão.
O maior inimigo
De nossa libertação
Éramos nós.
Ainda bem
Que os mestres persistiam
E foi aos trancos e barrancos
Que entendemos
Nosso direito ao poder
Por mais distante
Que dele estivéssemos.
Vivíamos à margem da história
Onde sempre entramos
Pela porta dos fundos.
Os mestres nos queriam,
Se não protagonistas,
Pelo menos atores
Dessa mesma história
O protagonismo
Viria mais tarde.
Não podíamos decepcionar
Nossos mestres
Aprendemos, pelo menos,
O a,b,c da arte política
Assimilamos a idéia
Do nosso valor;
Fundamos sindicatos
Reivindicamos direitos
Fizemos greve
Organizamos partidos
Acima de tudo
Incomodamos demais
Os do andar de cima.
Não éramos mais
Um bando de resmungões
Tínhamos agora
A senha para acesso ao poder.
De nada valia
Ficar só na retranca.
Era urgente
Transformar a sociedade.
E criar a "Internacional"
Foi nosso maior feito
Com a missão de construir
Um mundo sem fronteiras
Uma sociedade sem classes;
Era nosso direito
Não só pensar utopias
Realizá-las, era preciso!
Trecho do "quase-poema" A SAGA OPERÁRIA, eviado por
Prof. Waldir Biscaro
awbiscaro@uol.com.br