Expulso da corporação
Saí do burgo
Voltei ao campo.
Aliado a Guilherme Karle.
Ajudei servos da gleba
A se rebelarem,
Juntei-me aos desesperados
Das jacqueries.
Minha raiva
Não tinha limites,
Meu ódio extravasou,
Arrasei o que via pela frente,
Luta cega e sem direção.
Não me interessava o poder,
Queria saciar minha fome.
Mais ruinosa que a jacquerie,
Só mesmo a peste negra.
Ao final de tanto horror
E de tanta destruição
O que restou?
Derrota, morte, desolação.

Mais experiente
Fui pra Inglaterra.
Lá ouvi a voz do Padre Ball,
Com certeza,
Discípulo do crucificado:
"Descendemos todos
De um só pai e
De uma só mãe...
Mas aqueles que nos submetem
Vestem-se de veludo;
Nós, de rudes trapos.
Eles têm vinho,
Especiarias,
Brioches;
Para nós a água,
A palha,
O farelo.
Eles repousam em belos solares;
Nós temos a chuva e o vento
Do descampado"

Veio em seguida
A senha da revolta:
"John Ball vos saúda,
Acaba de tocar o vosso sino!"
A rebelião explodiu
Wat Tyler nos comandava
Com espadas enferrujadas
Com foices, chuços e forcados.
Nós, camponeses, avançamos.
Os senhores retrocederam,
Londres foi tomada de assalto
Por muito pouco
O jovem rei Ricardo
Escapou de meus golpes.
Vi Wat Tyler ser morto
Em emboscada.
Padre John Ball
Preso, enforcado, esquartejado.

Sem comando,
Camponeses entregam-se
À clemência do rei
Que prometeu a todos perdoar.
Ao invés de perdão,
Distribuiu forcas
Aos milhares.
O velho estribilho se repetia:
Derrota, morte, dispersão.

 

Prof. Waldir Biscaro
awbiscaro@uol.com.br