História do envelhecimento
Não podemos falar do envelhecimento sem a sua contraparte, a imortalidade, este ideal que sempre perseguiu o homem desde tempos remotos. A finitude e a falibilidade da vida, para seres conscientes, é algo estranho e a perda da sua consciência uma coisa que tememos muito. Mas então como conviver com a falibilidade da vida?! Será necessário encontrar alguma explicação, ou uma possível continuidade... talvez uma além-vida ... talvez na ciência moderna!
A continuação da existência numa imortalidade espiritual firma as suas raízes nas sociedades humanas arcaicas. Verificamos isto nas histórias míticas de formação e fundação de culturas pelo planeta afora. Como vemos em nossas aulas, o homem inicia sua saga como órfão de sua tribo original e se vê diante da morte como caça de seu possível predador. Inventa, para sua própria sobrevivência, a linguagem e a partir desta elabora signos ritualísticos para justificar aquilo que não conhece ou que teme ao ponto de paralisá-lo. Criamos assim a idéia de justiça divina ou moral; o "outro mundo", um céu ou um inferno, onde o prolongamento da vida é concedido a todos, podemos verificar essas ficções na leitura de Dante e seu inferno. Mas mais fundamental que o castigo ou a recompensa divina está o conceito da imortalidade, a ressurreição. Raiz comum a muitas religiões e crenças. A dicotomia mortalidade / imortalidade é um pilar de várias culturas ao longo da história, desde sumérios, arcádios, principalmente hebraicos (fundantes que são de nossa cultura religiosa) e está presente na própria mitologia fundante da era cristã. Os egípcios, por exemplo, acreditavam numa vida noutro mundo em tudo semelhante ao nosso, onde todos conhecem a mesma existência; o faraó mandava construir pirâmides para sua vida futura e hoje é ponto turístico de peregrinos munidos de suas máquinas fotográficas. A ideologia budista sugere o princípio da reintegração corpórea: a reencarnação. No entanto, a busca pela vida eterna ganha o seu real expoente com a busca da pedra filosofal pelos alquimistas chineses, árabes e europeus, coisa deplorável no mundo dominado pelo Papado romano, mas recuperado pela ciência moderna. Estes proto-cientistas avançaram para a tentativa de eliminar a mortalidade humana. Como o medieval, o espanhol Ponce de León, na sua procura pela fonte da juventude, nos mostra que os bioquímicos estão a reatar este velho mito apoiando-se na ciência. Pois se o código genético é a caixa de Pandora, todo o mecanismo de envelhecimento é o enigma da Esfinge! Só não deciframos a pedra de roseta em sua integralidade! Calma: chegaremos lá!
Só no último terço do passado século XX é que realmente o estudo do envelhecimento e doenças associadas deixou a província de charlatães e vendedores de banha de cobra, amuletos e passou para o ramo central do desenvolvimento científico. Esta mudança foi, todavia, impulsionada pela explosão do número de cidadãos idosos em países desenvolvidos e não propriamente por avanços na biologia do envelhecimento. Mas mesmo assim as descobertas efetuadas contribuíram muito para a explicação dos fenômenos ligados com o avanço da idade, relacionados, no entanto, com a cura ou tratamento de doenças ditas da "idade", e não necessariamente com a sua causa; o porquê do aparecimento dessas doenças. Nos últimos séculos o aumento da esperança de vida em países desenvolvidos passou de 48 para 76 anos, e não para de aumentar, o mesmo ganho ocorrido nos prévios 1900 anos, lá no início do século XX. O exemplo da Roma antiga, onde a esperança de vida era apenas de 20 anos reflete somente os tremendos valores de morte à nascença ou durante a infância, tal como acontece presentemente nos países não desenvolvidos, como o nosso Brasil. Na sua maioria é o controle de doenças infecciosas na juventude que explica o aumento da esperança de vida (Já parou para contar a quantidade de vacinas que tomamos para sobreviver?), e no entanto o que pessoas idosas se beneficiam em termos de desenvolvimento biomédico na cura de doenças crônicas. É na gerontologia, o ramo da ciência que estuda o envelhecimento, que as suas causas e conseqüências encontram algumas respostas, mas esta não é minha área e estaria tateando respostas se o tentasse descrever.
Em traços largos, desenvolvimento corresponde a todas as mudanças que parecem conduzir a um aumento da eficácia do funcionamento do organismo; enquanto o envelhecimento reporta a todas as alterações, que levam a uma diminuição nas habilidades de um organismo. Das muitas teorias sobre o envelhecimento, quase todas são plausíveis e possuem, na sua maioria, base científica sólida. Uma das razões porque não se chega a um consenso e a uma sistematização de todas as teorias, é a complexidade inerente ao universo vivo, não se podendo cometer a ingenuidade de atribuir um determinado efeito a uma só causa, pois estaríamos contrariando a noção de organismo vivo, como sistema integrado.
Como falou um professor alemão de nome Harry Pross: Envelheçam o quanto puderem, mas não percam a consciência!
É isso ai.
Prof. Dr. Roberto Coelho Barreiro Fº - PUC/SP
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