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DA IMANÊNCIA À TRANSCENDÊNCIA NUM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
            
A construção do conhecimento significa um percurso enfatizado no processo educativo conhecido como construtivismo, de todos bem conhecido. Trata-se de não trazer para o aluno nada "pronto", mas incentivá-lo a "construir" seu próprio conhecimento, num processo de busca e pesquisa.
A imanência é uma visão vinculada estritamente ao plano material, sendo, portanto, uma vivência que se completa num plano físico. Já a transcendência ultrapassa o plano físico, nos remetendo a uma dimensão que poderíamos denominar de "espiritual".
Claro que a questão do ponto de vista filosófico ou religioso oferece várias versões para o plano da transcendência. Mesmo os limites da imanência provocam visões distintas numa discussão filosófica.
O grande inspirador do construtivismo foi Piaget, que buscava conduzir o processo educativo para um plano psicológico, no qual o educando não fosse um mero receptor de conhecimentos, que, em outras palavras, é o denominado "conteudismo".
Piaget insiste na realização integral do ser humano. Tal afirmativa feita em sua obra "Para Onde Vai a Educação" não diz respeito a uma transcendência propriamente dita, porém ao se referir a uma "realização plena do ser humano", abre o espaço para uma perspectiva daquilo que Jung denominava de encontro do "ego" com o "self", o que não deixa de ser uma visão transcendente.
Assim, quando Paulo Freire nos traz sua preciosa afirmação no sentido de "conscientizar antes de alfabetizar", ele dá um passo adiante de Piaget introduzindo, com mais clareza, a transcendência antes somente implícita.
Poder-se-ia ainda questionar que a expressão "conscientizar" não significaria objetivamente um caminho rumo à transcendência. Ocorre que tal verbo nasce com Teilhard de Chardin, que utiliza a expressão "conscencialização", na mesma direção de Freire e seguramente com a dimensão transcendente explícita. A referência de Chardin diz respeito a que o ser humano percorreu largamente o caminho da análise, até chegar à luminosa síntese: o ponto ômega... A conscencialização é exatamente a "superação" do caminho da "análise", ou seja, da pura racionalidade. Assim, vejo como ponto de partida da transcendência na educação, a busca da "conscientização" apontada por Freire. Pessoalmente tenho sustentado que, no processo de conscientização, está incluído o autoconhecimento, ou seja, a consciência profunda de si mesmo. Parece-me claro que, no processo de ampliação da consciência, será inevitável deixarmos de incluir tal dimensão. Assim, um dos Caminhos que podem nos conduzir da imanência à transcendência é o voltarmos para o autoconhecimento.
Há outros percursos, como por exemplo, o trazido pela Pedagogia Waldorf, com a inclusão das artes de forma essencial no ensino elementar. As artes significarão sempre uma mobilização da sensibilidade, em direção à espiritualidade do ser humano. Na verdade há uma interessante metáfora para significar a relevância das artes. Assim é que Leonardo da Vinci, com tintas, pincéis e tela criou a Mona Lisa - obra singular de grande significado, e o ser humano cria, para si mesmo, com sangue, músculos e tecidos, a partir do "despertar do artista interior". Tal metáfora nos conduzirá mais uma vez ao autoconhecimento, que seguramente tem esta direção. Por isso a expressão autoconhecimento.
Não tenho dúvidas de que o investimento nas Artes, como instrumento de ampliação da consciência, é fundamental.
Como exemplo prático de uma atividade de sala de aula, que não deixa de incluir o universo artístico, posso citar a realização de seminários, a partir da escola fundamental e, até mesmo, na graduação universitária, que visam uma verdadeira iniciação à transcendência.
Assim é que o educador escolhe um tema para a realização dos seminários, por exemplo, o tema da sexualidade, que considero de larga importância para discussão, a partir da adolescência. O educador dirá na proposta de realização dos seminários, que quatro grupos deverão ser formados. O primeiro pesquisará a sexualidade no plano físico; o segundo grupo, o fará, no plano emocional; o terceiro, no plano racional e, finalmente, o último grupo no espiritual. Neste último grupo surge imediatamente uma dúvida: "sexualidade" no plano espiritual? Cabe então ao educador explicar que não se trata de uma reflexão religiosa, mas sim, buscar a capacidade do ser humano em produzir beleza, alegria e amor. Ou seja, em que medida a sexualidade poderá ensejar a realização de tais realidades?
A seguir, o educador trará aos alunos uma regra para os seminários, que é fundamental: nada deverá ser apresentado por escrito, pois o resultado da pesquisa será transformado numa dramatização. Para tanto os alunos deverão utilizar o espaço da sala de aula, dispondo-o de forma a colaborar com a apresentação. Poderão utilizar outros instrumentos, como a música ou outras expressões artísticas para também compor a dramatização. Cada grupo, ao fazer sua apresentação, deverá buscar uma conexão com toda a classe, como parte do trabalho.
Pois bem, o resultado é surpreendente e caminha na direção da transcendência. Sim, na medida em que o trabalho for dramatizado, o corpo estará inevitavelmente presente. Ao dramatizar, o corpo expressará inevitavelmente as suas emoções. A racionalidade estará presente na montagem do trabalho, no qual se inclui a pesquisa. E, finalmente, a espiritualidade estará presente no despontar da beleza, da alegria e do amor. Este último resultante da conexão surgida dentre os alunos, e não só naqueles do grupo que apresenta, mas de toda a classe. Tal conexão é, exatamente, um fenômeno de amor. Este "amor" assim "surgido" será o "fio de Ariadne" que nos conduz à saída do labirinto existencial...
Sim, as Tradições trazem como metáfora para o Criador a conhecida expressão de que "Deus é Amor" e o ser humano "Sua Imagem e Semelhança". Assim, nossa essência será explicitada pela metáfora do "Amor". Em outras palavras, saímos do labirinto da imanência, para a transcendência com o despertar da consciência de que "somos Amor", abrindo nossa conexão com o planeta e com o Outro... Sei que a questão não é simples, porém curiosamente irá significar um encontro da "ciência com a Fé", pois a física contemporânea nos apresenta a curiosa percepção de que no coração da matéria, o que existe são "possibilidades de conexões", conforme Capra nos apresenta em sua obra "Ponto de Mutação".
Assim, a matéria considerada "sólida", que seria o "coração" da imanência, traz em sua interioridade o princípio apontado pela transcendência, de que a "conexão", cuja metáfora é o Amor, está ali presente... Constatamos, desta forma, que o Mistério existencial presente, naquilo que chamamos de Vida, está no "Amor"... No caso do ser humano, tal "Amor" precisa tornar-se "consciente", na linha já aqui examinada, apontada por Teilhard e Freire de conscencialização ou conscientização... Tal Caminhar nessa direção trará ao ser humano a percepção de sua capacidade de promover sempre "novas conexões", ou seja, dos sons a música, das tintas um quadro, da argila uma peça e assim por diante...
Assim, a passagem da imanência para a transcendência será fruto daquilo que Sócrates apontava como "princípio de toda a sabedoria": o "conhece-te a ti mesmo", ou seja, o autoconhecimento.

Prof. Ruy Cezar do Espírito Santo

 
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Edição Nº 29
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