Saudação aos antigos e novos alunos da Universidade Aberta à Maturidade
Caras amigas e caros amigos que continuam conosco em mais uma jornada da Universidade Aberta à Maturidade, prezados alunos novos que estão chegando, e que, certamente, vão também se tornar nossos amigos e amigas ao longo de nossas atividades neste curso,
Li, no caderno “Aliás” no Estadão, matéria que me chamou muito a atenção para uma ou várias questões que estão acontecendo “neste país”, como costuma dizer certa pessoa que finge dirigir esta Nação.
A matéria, com o título de “A Era da Performance”, examina os trabalhos de dois escritores americanos, Lee Siegel e Susan Jacoby, que comentam as conquistas e problemas do triunfo da era digital vivida atualmente, não só pelos Estados Unidos, mas também pelas implicações do chamado processo de globalização, espalhadas pelo mundo todo, inclusive no Brasil, hoje, o quinto país do mundo em venda de computadores e telefones celulares, para não falar dos aparelhos de TV e outras geringonças eletrônicas, como os tais IPOD’S, por exemplo.
Sem entrar profundamente no assunto, destacamos alguns pontos que julgamos mais relevantes, para expô-los brevemente, nesse nosso primeiro contato do ano, incluindo as razões pelas quais achamos interessante e oportuno colocá-los para a platéia presente, a fim de provocar algumas reflexões e, talvez muita indignação e inconformidade.
Vivemos, segundo os autores citados, numa era quando grassa a epidemia da mediocridade e, o que é pior, sem perspectiva próxima de cura.
Numa era quando, sob forte influência da televisão e da Internet, o anti-intelectualismo está fazendo escola (vide, por exemplo, como o nosso próprio Presidente se orgulha de suas limitações nesse sentido); quando a privacidade virou espetáculo (vide, por exemplo, essa indecência ética e moral chamada “Big Brother Brasil”); quando o valor pessoal se confunde com a popularidade (vide, por exemplo, as chamadas celebridades que povoam as telas de TV, as páginas de jornais e revistas, tipo “Caras” e “Chiques e Famosos”), quando talento e mérito pessoal competem com a falta de conhecimento e arrogância de atletas, artistas, políticos, modelos e toda fauna incompetente e ignorante, tão badalada pela mídia.
Lembram também Siegel e Jacoby, no início da era digital, da importância dos estudiosos do meio de comunicação em conhecer e trabalhar, de forma adequada à nascente cultura de massa, mas o que se observa, nos tempos atuais, não é mais uma cultura de massa, e sim uma cultura produzida pelas massas, ou seja, são elas que, devidamente manipuladas, determinam a forma e o conteúdo das informações disseminadas aos mais diferentes tipos de público e classes sociais.
Na realidade, face à tal forma de manipulação e produção cultural, o que se tem no mundo contemporâneo, é uma avalanche de informações, mas despidas, na sua grande maioria de conhecimento genuíno.
A enxurrada de informações a que somos expostos todo dia, principalmente pela TV e Internet, dá muito mais destaque e importância àquilo que é popularesco, violento ou sexy, deixando de lado ou abordando de forma totalmente superficial, os importantes aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais das notícias ou fatos veiculados, deixando pouquíssima margem para reflexão ou crítica.
O resultado mais visível dessa situação é evidenciada pela criação de uma geração de jovens cada vez mais padronizados, cautelosos e calculistas, surdos aos conselhos e orientações dos mais velhos, talvez por seus ouvidos estarem bloqueados pelos fones dos IPOD’S ou, pelo fato de terem recebido uma educação extremamente permissiva, sem estabelecimento de limites, o que os torna arrogantes e agressivos o suficiente para acharem que os pais, avós ou tios são coroas que estão por fora e que esse negócio de ética e moral é coisa por demais careta para ser levada em conta.
Enquanto isso, as gerações mais velhas assistem a tudo de forma quase sempre impassível, sentindo-se impotentes para reverter a situação, porque elas mesmas estão perdidas e desorientadas dentro de uma sociedade de valores cada vez mais escassos, e o que é pior, cada vez mais conflitantes uns com os outros.
Na verdade, o próprio mundo parece se debater com questões insolúveis do ponto de vista econômico, político, religioso, étnico e ambiental, empenhado não em encontrar, honestamente, uma solução para elas, mas em disputas de blocos nacionais ou de domínio imperial, contribuindo para uma visão cada vez mais pessimista de igualdade, justiça e paz mundial.
E como proceder diante de um quadro tão assustador, tanto a nível local, como universal? Será que devemos aceitar que as coisas são assim mesmo e que viemos de um tempo onde havia algum pudor, diversos modelos de compostura, respeito considerável pela ordem, preocupação com a disciplina, acatamento da autoridade legítima, nada podemos fazer senão lamentar tudo o que aí está?
Claro que, a curto prazo e de forma imediata, estamos bastante limitados. Mas podemos resistir intelectualmente e por meio de várias formas de protesto e denúncia e, sempre que possível, por alguma ação concreta, desde o boicote das baixarias dos meios de comunicação, até o estabelecimento de limites à invasão da nossa privacidade, além de exigirmos nossos direitos civis como cidadãos e cidadãs maduros.
Nós, como pais, avós, tios, padrinhos ou qualquer outra forma de relacionamento familiar e mesmo social, temos que agir principalmente dentro de nossos lares e no âmbito dos contatos de amizade, chamando a atenção e alertando filhos, netos, sobrinhos, afilhados afins e amigos para que não se deixem levar facilmente pelas excrescências e pela manipulação escandalosa de consciência de que estamos sendo vítimas nessa cultura produzida pela massa, a qual, maquiavelicamente, é dominada pela indústria cultural, pela sociedade de consumo desenfreado, pelos políticos corruptos e pelos falsos e debochados líderes populares.
À maneira de Karl Marx, mas jamais concordando com ele na sua análise falaciosa do capitalismo, eu conclamaria aqui: “Homens e mulheres maduros de todo mundo, uni-vos e lutai para salvar o Brasil e o planeta da mediocridade, vós que tendes a sabedoria legada pelo tempo e a lucidez da dignidade e do bom senso adquiridos ao longo de sua história de vida”.
Prof. Antonio Jordão Netto
Coordenador executivo da Universidade
Aberta a Maturidade da PUC/SP - COGEAE
anjornetto@ig.com.br