Influência da Televisão na Cultura Brasileira

Cada ser humano, afirma John Powell, traz dentro de si um desejo inato de felicidade. As relações humanas marcadas pela opressão, pela violência, pela insegurança econômica, pela solidão urbana, têm sido uma ameaça constante à realização deste desejo persistente. E é justamente neste confronto entre o ideal sonhado e o real vivido no cotidiano das pessoas que a televisão encontra o espaço de atuação e de influência. Ela não é tão forte quanto parece, mas torna-se forte na medida em que as carências humanas não estão sendo satisfeitas. Ela invade os espaços deixados por uma escola que não conscientiza, por uma família que não dialoga, por um emprego que não gera prazer, por uma política que não inspira credibilidade, por uma Igreja que não acolhe, por uma sociedade que não facilita a vivência da identidade pessoal.

A Televisão apresenta-se como um canal de “reencantamento”, de reencontro com a emoção e com os prazeres banidos da vida social. Mais do que criar necessidades, ela parte de carências reais não satisfeitas. E a sedução se dá na medida em que estas carências vão sendo aparentemente sanadas pelas respostas industrializadas e oferecidas sob a forma de produtos ou identificação. O sucesso das telenovelas está na identificação do telespectador com os dramas apresentados e na certeza de que estes conflitos serão resolvidos, ao menos, no campo das ilusões. É necessário o "final feliz" como compensação da vida real. A identificação chega a ser tão grande que os personagens adquirem vida e passam a fazer parte do universo mental das pessoas e, entre ambos, instaura-se um relacionamento afetivo.

Alguns telejornais exploram a violência e atingem altos índices de audiência. Por que o interesse do público? Talvez por ser este o momento em que o telespectador deixa a escala pessoal do sofrimento e encontra o reconforto na dor coletiva. A relação estabelecida entre a emissora e o telespectador é uma relação de troca, de negociação do poder. A televisão não é a "toda poderosa", mas torna-se forte na medida em que corresponde às expectativas do público. Neste sentido, ela se apresenta como uma instituição conservadora que fala, quase que exclusivamente, o que o público quer ouvir. A maior prova disso é a influência dos índices de audiência na continuidade ou não de determinados programas.

Na televisão, a dimensão ideológica cede lugar à mercadológica. Os modelos díspares de programas convivem em harmonia dentro de um mesmo canal televisivo. Tudo não passa de um grande espetáculo. Ela participa de um processo que a transcende. Portanto, culpar a televisão pela destruição das instâncias pedagógicas e educativas, pela demolição dos valores morais, pelo aumento da violência é errar o alvo, atacar o problema na sua exterioridade e desconhecer, ou encobrir, as causas geradoras destes fenômenos. Mais do que brigar com a indústria do imaginário, é preciso brigar com a realidade. O problema não é apenas a ficção, mas o cotidiano, a estrutura social. Banir a televisão com seus programas considerados nocivos e deixar as estruturas geradoras de atrocidades intactas é, no mínimo, ingenuidade.

Prof. Dalcides Biscalquin
Filósofo e Comunicador
dalcides@gmail.com