Ser Professor
Dentre as carreiras escolhidas pelo jovem, a mais bela dentre todas elas, era a do magistério, por encaminhar o jovem para o ideal do espírito, com a recompensa de bem servir a Nação e à Família. Desejava-se uma filha professora e um filho doutor, mais pelos valores morais que se viam em cada profissão, respeitadas e amadas pelo valor de cada profissional. Lamentavelmente esses valores, hoje, são questionados, pois o professor vive, no momento, uma crise aguda. As suas dificuldades vêm desde a falta de conhecimentos essenciais para a profissão, do baixo salário, da condição econômica para a sua atualização, da impossibilidade de adquirir livros imprescindíveis para o seu aperfeiçoamento, até a falta de estímulo para prosseguir no magistério. Isso por quê? O professor não só enfrentou a realidade de um ensino básico de má qualidade, mas também uma faculdade que não o preparou para profissão que lhe abrisse caminho para o futuro. Como aperfeiçoar-se? O seu salário só lhe dá condições de sobrevivência. Ao entrar numa sala de aula, o aluno sabe que conta com a promoção continuada, ou seja, só será avaliado no último ano do curso básico. E o aluno enfrenta o professor, dizendo: - “O professor me reprova, mas as diretrizes do curso determinam que eu seja aprovado". E o professor, desmotivado, continua o seu trabalho. A vida continua, com o resultado de alunos da 8ª série do curso básico, não saberem ler.
O professor é o malabarista da educação. Se dependeu da escola pública, nem ele mesmo, conseguiu, no decorrer dos cursos feitos, um ensino de qualidade. Isso já vem de longe, comprovado pelos últimos números do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), uma prova de português e matemática que é aplicada a cada dois anos. Foi o pior resultado, desde a introdução desse teste (1995).
As faculdades se transformaram em empresas e já não se preocupam com a formação profissional do aluno. É melhor ter um funcionário com curso superior do que contar com outro despreparado e sem conhecimento básico. É como tentam justificar a falta de qualidade dos cursos considerados de baixa qualidade. Daí encontrarmos, no jornal, O Estado de São Paulo, a lista das piores faculdades do País. E o que se faz? É a pergunta da população. Ter um filho numa faculdade particular não é para qualquer cidadão.
E o professor? Ele não cumpriu a sua obrigação didática? Ele é respeitado pelos alunos, pelo diretor?
Se o professor completar o seu doutorado, ele é preterido e substituído por professor mestre ou por aquele que esteja fazendo curso de especialização (pós-graduação lato sensu). Assim custará menos o valor-aula para a "empresa".
E os alunos? Em geral estão cansados, desatentos, muitos fazem da faculdade seu ambiente social, falam durante as aulas, não acompanham o que diz o professor, perturbam, enquanto o professor tenta desenvolver a aula preparada, para lhes abrir o horizonte e completar-lhes a formação.
O professor ainda é refém da violência e, amedrontado, enfrenta alunos dos cursos diurno ou noturno, no centro ou na periferia, que o interpelam e ameaçam, se a nota não for suficiente ou do seu agrado.
E o que motiva o professor? A consciência da sua missão, o desejo de abrir para o jovem o mundo desconhecido e confirmar a especialização por ele escolhida, quando tem verdadeiramente vocação para o magistério.
Ser professor, hoje, é viver em perigo. “Viver é perigoso". Até quando?
Profª Drª Antônia de Almeida Cunha
antoalmeida@superig.com.br