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O que querem os cidadãos de São Paulo?

Todas as vezes que caminho ou dirijo pelas ruas de São Paulo, eu me pergunto o que desejam as pessoas que por ali passam. Quando vejo o desrespeito dos motoristas que param seus carros sobre as faixas de pedestres ou transeuntes que cruzam avenidas movimentadas em qualquer ponto do local, atirando-se sobre os automóveis e esperando que todos freiem a tempo, penso em quão inconseqüentes podemos ser.

A inconseqüência não se refere somente aos casos citados. Quantas vezes encontramos motoristas que acham que são e sempre ficarão imunes aos efeitos do álcool e não vêem razão para deixar de beber só porque vão dirigir? Ou nossos colegas de trânsito que estacionam nas vagas destinadas aos deficientes físicos, idosos, gestantes e lactantes – o que pensam estas pessoas?

O que pensamos nós quando criticamos publicamente as atitudes de políticos inconseqüentes ou corruptos, mas agimos de forma semelhante em nossos ambientes de trabalho ao aceitarmos comissões duvidosas? Alguns sequer discutem o tema, aceitando o fato como algo normal e que esse procedimento faz parte do “esquema” social. Há quem diga que se queremos chegar a algum lugar, precisamos fazer concessões.

O que acham os alunos que entram para instituições notoriamente duvidosas, com qualidade de ensino e preços igualmente baixos? Divertem-se nos bares que se multiplicam ao redor de seus prédios, invadem as ruas com copos de cerveja nas mãos e depois pegam seus carros com a certeza de que terão um diploma e de que não vão matar ninguém no caminho.

Ou, então, no que acreditam as pessoas que constroem incessantemente, erguendo prédios enormes e enxugando lençóis freáticos ao redor de parques só para vender grandes unidades com uma vista privilegiada... com um ou dois vasos na portaria prometem proteger a natureza e oferecer o verde que seus moradores precisam para aliviar o dia-a-dia de pressões.

Todos os dias saímos de casa com o intuito de enfrentar o trânsito caótico e ganhar o nosso sustento. Mas, não menos primitivos que nossos antepassados, a luta pela sobrevivência tem se mostrado cruel. Xingamos uns aos outros no trânsito, roubamos as vagas de pessoas menos favorecidas, passamos a perna em nossos semelhantes, deixamos de pagar nossas contas se a multa não for muito cara, lesamos nossos consumidores que, cansados, esperam do outro lado da linha que uma voz eletrônica irritante resolva nossos problemas. Ultrapassamos e somos ultrapassados em filas, não devolvemos o troco a que o comprador tem direito e, por fim, como ninguém é de ferro, nos finais de semana corremos para a praia e a montanha a fim de descansarmos das agruras do cotidiano. Quem não pode viajar, vai ao shopping ou aos parques para desestressar – compramos e corremos o quanto for possível para que, anestesiados e sem saber ao certo por que fazemos as coisas que fazemos, recomeçarmos a semana seguinte. Afinal de contas, é isso que querem os cidadãos de São Paulo?

Dra. Mônica Éboli De Nigris - USP
monicaeboli@hotmail.com

 
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