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Encontro com a Utopia


Durante muito tempo, trabalhando em empresas privadas e estatais, me punha a pensar em como poderia ser arquitetada uma empresa ideal, imune às influências individualistas, voltada para um objetivo social e atendendo necessidades reais das pessoas. Quase sempre acabava desembocando em um modelo utópico, longe dos modelos em uso. Nem capitalista, nem estatal, mas muito próximo de algo anárquico.

Mas, como era possível combinar gestão de empresa com anarquia? Parecia uma contradição em termos. Haveria como superar essa contradição?

Se teoricamente a coisa parecia incontornável, quem sabe, na prática poderia acontecer, pelo menos, uma aproximação das duas propostas.

Quem no passado acreditou que essa contradição poderia ter sido superada pelos soviéticos, muito cedo percebeu que "todo poder aos soviets" fora o slogan mais mentiroso pronunciado por Lênin. A Lênin pode-se perdoar pela falta de tempo, mas a Stalin, não há como desculpá-lo. Este encontrou a inspiração para a gestão das empresas em ninguém menos que Taylor e foi ainda mais longe, simplesmente militarizou todo o sistema de administração, aí incluindo as relações de trabalho.

Isso tudo são águas passadas e que não deixaram saudades. O único país socialista que ensaiou formas novas de gestão de empresas foi a ex-Iugoslávia, sob a ditadura de Tito. Só que o modelo de autogestão pretendido se esfarelou e acabou transformado num mero esquema burocrático.

Apesar desses maus exemplos históricos ocorridos bem onde a gestão operária deveria ter tido sucesso, a experiência tipicamente socialista da autogestão teve algum êxito em países capitalistas. Inclusive no Brasil. A democracia ocidental, com todos seus defeitos, consegue às vezes gerar um produto fora dos padrões capitalistas. Nem sempre como um projeto pensado e planejado e sim como solução de emergência.

No Brasil, a história das poucas empresas autogeridas tem quase sempre o mesmo enredo: Uma empresa privada vai pro vinagre entra em falência e, para salvar os empregos, algum órgão estatal intervém e a massa falida acaba sendo assumida pelo sindicato operário. Forma-se então uma cooperativa que, com os fundos provenientes do passivo trabalhista, tenta manter a produção e os empregos.
A única exceção, talvez, tenha sido a Unilabor, uma fábrica de móveis idealizada pelo frade dominicano João Batista Pereira juntamente com outros artistas de vanguarda, como Geraldo de Barros e outros artífices de mentalidade avançada.

A Unilabor se desenvolveu como comunidade solidária fabricando móveis de qualidade e empregando cerca de cem trabalhadores, todos engajados no ideal da autogestão. A cooperativa tinha tudo para dar certo: projeto baseado em experiência com sucesso na França, operários politizados, apoio de intelectuais e da igreja mais engajada e ótima aceitação dos produtos. Tudo ia muito bem, mesmo com alguns problemas internos, mas, com o golpe de 64, a experiência foi encarada como "tendenciosa" e provável mau exemplo para a classe operária. Resultado: em 1967 a Unilabor encerrou suas atividades.

Seria sempre esse o desfecho de uma experiência revolucionária? Haveria, no Brasil, alguma tentativa de autogestão que estivesse funcionando ou isso jamais ocorreria, por conta do baixo nível de formação política do nosso proletariado?

Foi em meio a essas dúvidas que em janeiro de 1992, sem que eu esperasse, me aconteceu um convite vindo do professor Mauricio Tragtemberg. O sindicato dos mineiros de Criciúma pediu a presença de Tragtemberg em um encontro que estava programado para discutir problemas que o sindicato enfrentava na condução de uma empresa de mineração recém-assumida pelos operários.

Por essa época, eu era muito procurado por diversos sindicatos de trabalhadores para assessorá-los na negociação de planos de cargos e salários.

Provavelmente por conta disso, o Professor Maurício achou que minha presença na reunião com os sindicalistas poderia ser de utilidade; seria essa a primeira vez que trabalharia com o grande professor e olha que só nos conhecíamos de papos de rua em frente à PUC.

Esse papo continua.

Prof. Waldir Biscaro
awbiscaro@uol.com.br




 
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