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NAÍADE – A NAIDINHA VENCEDORA!


Naidinha, 89, é aluna de carteirinha da UAM da PUC-SP, desde seu início em l991. Sempre participativa, interessada e animada, merece o título de “garota-propaganda” do curso, um grande mote para que seja a primeira a fazer parte deste quadro do Site Maturidades.

Jornal Maturidades – Naidinha, qual o seu nome verdadeiro?

Naidinha - É Naíade Aucester... – porque papai dizia que a palavra que termina em “er”, quer dizer “que tudo vence” – ...Cordeiro Montenegro Galo.

JM – Por que Naidinha?

Naidinha - Porque eu fui ser mãe dos meus irmãos. Perdi minha mãe aos 19 anos e fiquei responsável pelos dois menores, uma menina de nove e um garotinho de seis anos, e acho que foi a maneira carinhosa que a minha irmã achou de me chamar.

JM - Em que lugar do Brasil e em que dia que você nasceu?

Naidinha – Estou com 89 anos. Nasci em 3 de setembro de 1917, Ceará, em Porangaba, um município pertinho de Fortaleza, apenas a 10 minutos da Capital.

JM – Como você veio parar em São Paulo?

Naidinha – Meu pai era fiscal federal lá em Pesqueira/Fortaleza, mas como minha mãe – Maria Benvinda – estava muito doente, logo nós mudamos para Recife, onde ela ia se tratar. Quando chegamos, minha mãe foi direto para o Hospital. Chegamos em dezembro de 1937 e ela faleceu em fevereiro do ano seguinte. Acredito que foi em 1939 que viemos para São Paulo. Mas isso só aconteceu depois de muitas mudanças. Meu pai foi transferido. Nós saímos de Recife e fomos para Bagé (RS). Eu lembro que saía cedo, com uma porção de gente armada, para proibir o tráfico das coisas...

JM – Como foi sua trajetória em São Paulo?

Naidinha - Passei por diversas cidades aqui em São Paulo: Santos, depois Agudos, em seguida Piraju – onde conheci meu marido. Quando eu cheguei lá, fui convidada para ser professora no ginásio, sem honorários, porque eu vinha de uma escola de preparação para medicina, eu estava estudando para isso, meu sonho desde criança... Estava com muito conhecimento de biologia, de história natural, sociologia e me aproveitaram. Mais tarde, concluí meus estudos para professora na Escola Normal do “Colégio Batista Brasileiro”, aqui em Perdizes (SP), em 1942.

JM - O que você pretendia da vida?

Naidinha - Olha, pretendia ser médica, mas modéstia à parte, eu fui uma ótima professora. Eu me sentia muito gratificada, porque as mães dos meus alunos tinham muito respeito por mim. Em 1950, logo que cheguei em São Paulo, lecionei na Escola de Vila Guilhermina, em seguida na
"Escola Almirante Barroso”, depois “Colégio Marechal Floriano Peixoto”, onde me aposentei. Gostava de lecionar. Sentia-me muito orgulhosa de ser professora.

JM - Como foi a vida com seu marido?

Naidinha - Eu me casei em 1942 com Miguel João Gallo e voltei para morar em Piraju, onde eu o havia conhecido. Foram os cinco anos mais felizes da minha vida. Eu me entrosei muito com a vida do meu marido. Estive casada com Miguel por 47 anos, quando ele veio a falecer. Eu participava da vida dele, entendeu? Tivemos 2 filhos e 4 netos. Depois vieram os 2 bisnetos.

JM – Como você se sente hoje: cearense ou paulista?

Naidinha - Olha, amo a minha terra, mas quando estive no Ceará e numa apresentação ouvi cantar “São Paulo da Garoa”, eu me senti paulista e fiquei surpresa... Eu fiquei surpresa, porque eu me senti paulista.

JM - Por que você ingressou na PUC?

Naidinha - Entrei na PUC em 1991. Sempre gostei muito de estudar. O motivo foi esse, que eu queria me atualizar.

JM - E o que você encontrou nesse primeiro contato com a PUC, com a turma? O que chamou mais a atenção, o que mexeu com você?

Naidinha - Era uma turma pequena, mas muito grande em amizade. Nós éramos imensamente unidas, muito alegres, entusiasmadas. Eu ainda continuo muito entusiasmada, mas os anos passam e pesam. Esse negócio de dizer que a gente não sente, sente os anos passarem, sim, e como sente!

JM - O que faz você ficar tanto tempo no PUC?

Naidinha - Tudo. Temos bons professores e estamos sempre nos atualizando. Estudamos aquela guerra do Irã, do Iraque... Tudo nos foi dado com detalhes, tantos detalhes que enchia a cabeça, mas foi muito bom. Ninguém sabe o valor desta faculdade. Para mim, tem um valor extraordinário.


J M -
O que você extraiu do curso?

Naidinha - Muito conhecimento, oportunidade para me atualizar em muitos
aspectos. A oportunidade de me relacionar com várias pessoas, o que me é muito gratificante, pois contribuiu para aumentar meu círculo de amizades.

JM - Qual a diferença que você vê do início de quando você começou e hoje?

Naidinha - Eu sinto que dispersou muito, porque são muitas classes, muitos alunos.

JM - Quais são as matérias do curso da UAM de sua preferência?

Naidinha - Gosto muito de filosofia. Filosofia diz muito de mim. Tem uma professora na PUC, Profa . Silvia Pierassi, de quem eu gosto muito. Sou muito mística também. História é a segunda disciplina que eu mais gosto, porque é minha história também. História do Brasil, história do mundo é a minha história. De onde eu vim, pra onde eu vou...

JM - Quais as dificuldades e facilidades que você encontra dentro de uma sala de aula, dentro do grupo?

Naidinha - Quando eu tinha 15 anos a menos eu estava mais disposta, era mais ativa e não me cansava tanto como agora. A coisa vai mudando e a gente tem que se posicionar para aceitar, porque é pior quando a gente não aceita. Eu era antigamente, de peito aberto... "Vamos para o Chile?"... Lá ia eu para o Chile. "Vamos no...". Lá estava eu. Hoje eu não faria mais isso. Altitude, longe da família... são coisas que a gente tem que pensar. Eu já penso.

JM - Como conviver com essa modificação?

Naidinha – Devemos ter aceitação, porque se não tivermos, a velhice ao invés de ser uma coisa que traga conhecimento, ou melhor, experiência, vai trazer decepção. A velhice traz experiências que são válidas para nós. Temos de saber lidar com ela. O negócio é esse.

JM - O que você gosta de fazer no seu tempo livre?

Naidinha - Eu, por exemplo, agora, estou sozinha em casa, não tenho mais os filhos, o marido... Mas, eu passo horas escrevendo. Eu li o livro da Dra. Alda Ribeiro, nossa professora, sobre a avó. Fiquei entusiasmada para escrever sobre a minha avó também e estou gostando, porque a minha avó Umbelina Cordeiro, foi a pessoa que mais me impressionou na vida. Sabedoria! Tinha 10 filhos, ficou viúva e sozinha para criá-los. Ela foi a heroína da minha vida, meu exemplo a seguir. É a foto dela que está ao lado da minha cama.

JM - 90 anos, muita experiência?

Naidinha - E muita perda também... A perda é maior, porque eu vou lhe dizer: você perde até o paladar, você perde a visão, perde a audição, perde a parte sexual também, porque você não tem mais estímulo para ser ativa. Os hormônios já não são mais aqueles... Então eu acho que é muita perda.

JM - Como chegar bem aos 90 anos?

Naidinha - Aí entra a religiosidade. A gente deve se purificar e se espiritualizar. Para chegar bem, é preciso aceitar bem, também. Aceitar bem a vida que vem depois da mocidade, a vida que vem com os anos. Sinto que não tenho mais a facilidade de me levantar, de andar. Eu me canso. Então, os anos para mim estão sendo cada vez mais exigentes.

JM - Mas você estava consciente disso pelos estudos?

Naidinha - Estou consciente. Os estudos acabam ajudando, mas não deixa de ser uma renúncia, viu? É uma renúncia de vida. Você tem que renunciar muita coisa. Mas eu aceito isso. Melhor, deixa de ser renúncia, é uma aceitação. Eu me sinto melhor em ficar em casa lendo, escrevendo do que indo para qualquer reunião.

JM - Então mudou o foco?

Naidinha – Mudou e muda. Muda... A experiência que a gente vai tendo... Por exemplo, quando a gente é moça, você vai numa perspectiva que aquilo é o melhor, é alegre, é festivo, mas com o tempo você vai tendo a certeza de que não é tanto assim. Não são tão grandes os ganhos. Não são. Mais a vontade é maior do que os ganhos. A vontade que você tem de ser feliz é muito maior. Agora eu estou procurando outro foco. Eu tenho mais aceitação. Não sei... A gente vai se purificando, vai se burilando. O espírito vai se sobrepondo à matéria. É quando temos maior compreensão. Vamos analisando com mais clareza e aceitação. Eu sou muito objetiva nesse ponto de encarar as coisas.

JM - Qual é sua religião?

Naidinha - Não tenho religião e nem gosto de dar nome à religião, porque eu acredito em Deus. Agora, acredito que há santos também, pessoas luminosas que nos dão exemplos de vida. Admiro as histórias que me contam deles e as que eu leio.

JM - Como é que a Naidinha se vê?

Naidinha - Eu me sinto uma pessoa ainda muito lutadora. Muito mesmo. Até agora, a minha vida é lutar.

 

Célia Gennari
celia-gennari@uol.com.br
Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br

 
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