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FILHA DA FELICIDADE

Rosa Satiko Oguri deixou a timidez de lado quando teve contato com as aulas da UAM-PUC. Hoje, é uma pessoa extremamente ativa e receptiva e muito otimista. Também pudera, Satiko quer dizer [SATI, felicidade e KO, filho] “filha da felicidade”. Significado ao qual ela dá muito valor e faz jus.




UNIVERSIDADE ABERTA À MATURIDADE

JM – Desde quando você está aqui, na UAM da PUC?
Rosa – Entrei em 1992. Com o meu filho formado, eu já estava mais tranqüila. Vi o Prof. Jordão fazer propaganda na TV do Curso da Terceira Idade, na PUC-SP, que foi o primeiro a ser implantado, aqui na cidade. Resolvi vir... Só que naquela época precisava ter 55 anos para poder freqüentá-lo e não havia vaga. Tive de esperar o segundo semestre.

JM – O que faz você ficar tanto tempo no PUC?
Rosa – Preencheu-me bastante e aprendi, principalmente, a dar mais valor para as minhas coisas e para mim mesma. Muita coisa mudou... Eu tinha vergonha. Não tinha facilidade de chegar perto de uma colega estranha e conversar. Foi um aprendizado gratificante e eu só saio daqui se os coordenadores me mandarem embora. Quer dizer, vai chegar uma hora que eu vou ter de parar, mas enquanto não chegar eu vou levando...

JM – Quais são as suas atribuições na UAM?
Rosa – Na primeira turma quem era a representante de sala [monitora] era a Antonia.  Quando houve o desdobramento da classe, ninguém queria se apresentar para ser representante de sala e não me lembro se fui eu que me ofereci. Os coordenadores me atribuíram algumas funções e eu acatei. Acho que porque fica mais fácil tratar comigo, pelo longo tempo de convivência, afinal são 15 anos...

JM – Qual a matéria, aula, professor que chamou mais a sua atenção até hoje, que marcou você de alguma forma?
Rosa – Se eu sou o que eu sou eu devo à Profa. Ana Fraiman, nossa primeira professora de Neurolingüística. Foi ela quem me ajudou nessa parte da auto-estima e a me desenvolver um pouco mais, não digo a personalidade, mas meu eu.  Em relação não só a mim, mas às pessoas que estão ao meu redor. Foram as primeiras aulas e logo notei diferença no meu modo de agir.

Trajetória

JM – Em que lugar e dia que você nasceu?
Rosa – Sempre morei em Olímpia/SP, próximo de Minas Gerais e nasci em 15 de abril de 1937.  Nessa época, minha mãe já não era mais imigrante, trabalhava na cidade e era proprietária de uma pensão.

JM – Como você veio parar na cidade de São Paulo?
Rosa – Eu tinha uma amiga de ginásio, Maria Tereza, que veio para São Paulo com a família, para fazer o curso de desenho, depois do Normal, e eu, também, pretendia terminar os estudos, então, eu vim atrás dela e fiz o mesmo curso no Santa Marcelina. Fiquei na casa dela até arrumar acomodação no Pensionato Universitário Santa Marcelina.

JM – Como era a relação entre os integrantes da sua família?
Rosa – Eu sou a mais velha, tenho três irmãos [duas irmãs e um irmão caçula], todos vivos. Bom, sabe como é família de oriental... Não é muito chegada à demonstração de carinho. Gostava muito dos meus avós, principalmente dos avós paternos, que moravam conosco. Eu me dava bem com todos os meus parentes e procurávamos estar sempre juntos.

JM – Qual era sua brincadeira preferida de criança?
Rosa – Ah,... em Olímpia eu gostava de brincar com os meninos, era meio moleca. Brincávamos muito de pega-pega, esconde-esconde, essas coisas. Não lembro muita coisa da minha infância. O Rio Grande faz a divisa entre São Paulo e Minas, e esse era o local aonde fazíamos piqueniques. Acho que tive uma infância feliz (risos).

JM – Como foi sua adolescência?
Rosa – Por exemplo, quando tinha 17 anos [1953], houve o primeiro concurso de Miss Olímpia.  Eu, logicamente, representava a colônia do Japão. Ganhava quem vendia mais votos. Consegui o terceiro lugar e o título de princesa. Mas o mais interessante é que, recentemente, quando aconteceu o Centenário da cidade, convidaram-me para participar da festividade. Voltei após 50 anos. Foi muito bonito. O Prefeito homenageou-me com uma placa de prata.

JM – Na época de adolescência, o que você pretendia da vida?
Rosa – Eu gostava muito de esportes, tanto que praticava vôlei e basquete. Pensava em me formar professora de Educação Física. No fim, acabei fazendo curso de Desenho Decorativo e Geométrico. Só dei aula durante um ano depois de formada e logo casei.

JM – Você costuma voltar à sua cidade natal?
Rosa – Costumo, mas a passeio, porque minha família ainda mora lá. Meu pai já é falecido, mas minha mãe, minhas irmãs e meu irmão continuam lá.  Minha mãe fez 90 anos agora no dia 26 de agosto, está bem.  Meus pais tinham um bazar onde ela continua trabalhando, eu acho bom para ela movimentar o cérebro.

JM – Quando se casou e como conheceu seu marido?
Rosa – Falava para minha mãe que nunca iria me casar. Eu não sei se eu queria alçar grandes vôos... Mas, então, conheci o Augusto... a princípio éramos só amigos de grupo.  Filiamo-nos à Aliança Cultural Brasil -Japão, onde comecei a estudar o japonês, organizamos muitos bailes. Ficou famoso o baile “Uma noite em Tóquio”, na Casa de Portugal. Tínhamos nossos namoros... E um dia, assim, sem mais nem menos, na casa de uma amiga, num chá da tarde dançante, fomos flechados pelo cupido, porque de repente virou namoro. Foi engraçado aquele dia. Sempre dançamos de rosto colado, porque o Augusto não sabe dançar se não for de rosto colado. Mas aquele dia foi diferente... Como a gente já se conhecia, entre casar e noivar, não chegou a um ano. Casamos em 1962.

JM – Tem filhos?
Rosa – Filhos é meio complicado... Esperei a primeira filha, Sandra, em 1964, que morreu com poucas horas de vida. Com meninas não tive muita sorte. Depois da gravidez do Renato, meu único filho vivo, perdi a Agnes, com poucos dias.

Atividades, Pensamentos e Idéias

JM – Como você aproveita o seu tempo livre?
Rosa – Se eu tenho algum tempo livre vou ao computador ou sei lá... televisão ou, então, estou na rua fazendo alguma coisa. Ás vezes, eu venho até aqui na faculdade.

JM – O que você valoriza e o que te preocupa?
Rosa – Valorizo a amizade e me preocupo com a violência.

JM – Do que você gosta e não gosta nas pessoas?
Rosa – Admiro a retidão das pessoas. Porque tem pessoa que olha e você vê que ela enrola, enrola e não chega a nada... não diz nada. Pessoa assim, geralmente, mesmo como amiga, você fica meio com o pé atrás, porque acha que não é sincera. Sinceridade é o principal.

JM – Se fosse para repetir a sua vida você mudaria alguma coisa?
Rosa – Não. Acho que iria querer ter a mesma vida que tive até hoje. A não ser em um ponto. Eu deveria ser mais econômica (risos).

JM – Tem alguma coisa que ainda não fez, gostaria de fazer e que está ainda nos seus planos?
Rosa – Não, acho que já fiz tudo. Mas, acho que nunca vou sossegar nesse ponto, acho que sempre tem coisa para fazer. Uma coisa que eu gostaria de fazer muito é de conhecer o mundo.

Rapidinhas

JM – O que é infância?
Rosa – É uma época em que eu fui muito feliz. Não me lembro de nada ruim. Hoje em dia as crianças vão logo estudar, fazer isso, fazer aquilo. Eu mesmo, coitado do Renato, às vezes eu me arrependo de não ter deixado ele brincar mais, acho que as coisas que eu não consegui fazer, eu queria que ele fizesse. Hoje, acho que criança tem que brincar bastante.

JM – Amor?
Rosa – O amor deveria existir em todos os âmbitos, em todos os lugares, não é só o carnal, entre homem e mulher. É você se sentir bem com a pessoa que está ao seu lado.

JM – Família?
Rosa – Deveria ser grande e unida. Às vezes eu sinto inveja de ver amigas minhas que têm a família sempre junto, os filhos, os netos, os pais... A minha é só eu e meu marido.  Vamos ver quando chegar o neto...

JM – Casamento?
Rosa – Eu já fiz 45 anos de casada... O principal é ter compreensão e respeito entre os dois, porque briga sempre tem. E os casais de hoje se destratam. Lógico que cada um tem um modo de pensar. Nem sempre as duas metades que se encontram vivem em harmonia, mas continuam juntos.

JM – Netos?
Rosa – Vou ter o meu primeiro neto agora, com 70 anos. Eu achava que nem ia ter mais netos, porque eu só tenho o Renato.  E aí, de repente, resolveram ele e a Cristiane, encomendar um bebê, neste ano. Estou na maior expectativa. Estou muito contente.

JM – Fé?
Rosa – Fé é uma coisa que cada um carrega. Se você acredita, não tem o que te abale.

JM – Religião?
Rosa – Sou católica, respeito as outras religiões e fui criada na religião budista.

JM – Como você encara: o envelhecer?
Rosa – Está aí uma coisa na qual eu não penso. Envelhecer para mim é o dia-a-dia em que sei que estou envelhecendo... Há pessoas que falam: “nossa, nasceu uma ruguinha aqui, um cabelo branco, nossa...”, eu não penso nisso mesmo. A hora em que acontecer de eu achar que estou velha, vou estar velha, por enquanto não me vejo assim.

JM – Sua mãe tem 90 anos, você está preparada para viver bastante?
Rosa – Sabe que eu não penso na idade, como já falei. Meu avô paterno dizia que na família dele todos viviam mais de 100 anos. Então ele tinha feito um “yakussoku”(promessa) de viver até 100 anos. Meu avô viveu 102 anos. Agora meu pai devido a um câncer morreu com 89 anos.

JM – Vida e Morte.
Rosa – Vida é o dia-a-dia da gente. Morte? Só penso nela quando perco um ente querido. Senão, também, não penso.

JM – Felicidade.
Rosa – Felicidade é você se sentir bem, alegre, estar bem e ter amizade de todo o mundo. Eu acho que felicidade é mais a parte espiritual.

JM – Lembra de algum momento feliz em sua vida?
Rosa – Foi quando comecei a namorar e quando me casei com meu marido. Parecia que eu estava pisando no ar. Quando eu estava entrando com meu pai, eu dizia: “pai, vamos entrar mais depressa. Eu quero chegar logo no altar”.

JM – Você atingiu o seu objetivo de vida?
Rosa – Não sei se posso dizer que já atingi meu objetivo. Acho que isso é infinito...

JM – O que você faz para ter saúde?
Rosa – Procuro me alimentar bem, comer bastante fruta, verdura... Alimentar-me certo para ter uma saúde boa também. Às vezes a gente tem algumas doencinhas. Eu tenho artrose nos dedos [genético] e tenho que tomar remédio, porque não tem cura.

JM – Como é que você se vê? O que você vê em você?
Rosa – Eu não sei... Não gosto muito de me ver, internamente, fico com um pouco de receio. Procuro não pensar. As coisas que eu não gosto, eu afasto.

“Procuro pensar sempre positivamente, assim atraio bons fluídos. Tem muita gente que é negativa e amarga. É preciso levar a vida da melhor maneira possível. Acho que é por aí.”
Rosa Satiko Oguri, 70 anos

Célia Gennari
celia-gennari@uol.com.br
f. 11 9252-3379
Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br

 
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