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Vida que vai, vida que vem, vida que tem que continuar...

O Jornal Maturidades, através de suas repórteres Célia Gennari e Ignez Ribeiro, entrevistou Sylvia Macário Scavone. Uma sorridente senhora, nascida em 28 de outubro de 1939, dia de São Judas Tadeu, em Santos. Coincidências à parte, Sylvia morou em Iguape na infância, cidade que Ignez freqüenta há muitos anos.
“Fui para lá com uns 4 a 5 anos de idade, fiquei  até uns 15 e, depois, vim para São Paulo. Morei na rua Tiradentes, 29, no centro da cidade, ali no miolinho, logo na direção da Igreja do Bom Jesus [hoje Basílica], onde fiz a 1ª Comunhão”, contou a nossa entrevistada. Tudo indicava que as duas [entrevistada e entrevistadora] já se conheciam. Coisas da vida! E, assim, em uma conversa informal, as duas foram colocando as memórias em dia... e eu? Tentava puxar as rédeas da entrevista.
Sylvia tem uma história interessante de vida. Seu testemunho nos recorda  que as atividades intelectuais e sociais podem tirar as pessoas de calabouços pessoais e, ainda, prova que nunca é tarde para fazer o que se quer.

Jornal Maturidades – Qual era sua brincadeira preferida de criança?

Sylvia Macário Scavone – Quando menina a gente brincava muito de bola queimada, aquela brincadeira que a gente bate a bola no outro. A professora odiava, porque íamos com o uniforme suado para a classe. Estudei no “Grupo Escolar Pero Vaz Caminha”, um monumento lindo que tem na cidade de Iguape. Gostava, também, de ir à praia da Ilha Comprida. Ali era aquela imensidão, aquele mar imenso... Eu tive uma infância muito gostosa e prazerosa.

JM – Como era sua família?

Sylvia – Bom, meu pai era português. Macário – um nome conhecido. Era uma pessoa simples de sítio. Minha mãe, também humilde, casou com meu pai, já viúvo pela terceira vez. É... ele enterrava as esposas, viu? [risos] E desse casamento nasceram quatro filhos. Eu sou a mais velha.

JM – Como você veio parar em São Paulo?

Sylvia – Vim morar com a minha tia Maria do Carmo, hoje com 97 anos. Minha tia era casada e sem filhos. Tínhamos uma convivência muito gostosa, porque ela me tratava como filha.

JM – Como foi sua adolescência em São Paulo?

Sylvia – Eu completei o Colegial e parei de estudar. Prestei concurso para ser funcionária pública, passei e trabalhei no Tribunal de Alçadas durante 31 anos. Terminei a minha carreira como escrevente-chefe. Mas, já com 16 anos conheci e comecei a namorar aquele que se tornou meu marido, o Scavone, na época com 18 anos. Antigamente era tudo tão simples. Esse namoro foi maravilhoso, graças a Deus. Scavone fez Contabilidade e depois foi servir a Aeronáutica e eu fiquei esperando pelo retorno dele. Casei com 23 anos e ele já trabalhava na Eletropaulo. Aliás, trabalhou 44 anos lá. 

JM – Teve filhos?

Sylvia – Sim. Dois filhos maravilhosos: Regina Helena e, dois anos depois, o Hélio. A moça e o rapaz são dentistas. Helena casou-se e tem 2 filhos, lindos, um já está com 16 anos e o outro com 14.

JM – O que é ter orgulho de filho?

Sylvia – Acho que é saber o que a gente fez por eles, e ver que eles estão devolvendo em alegrias, não é? A minha vida não foi fácil, eu era uma menina muito pobre quando casei e meu marido também, apesar de ele vir de uma família bem-sucedida. Para formarmos os filhos foi uma coisa louca, agüentamos porque fazíamos uma tremenda economia.

Sylvia na Universidade Aberta à Maturidade da PUCSP

JM – Quando você entrou na UAM?

Sylvia – Em 1999 e fiquei só um ano. Meu marido tinha falecido e eu fiquei numa depressão brava. Senti muito a morte dele, sabe? Um dia, vendo a televisão, vi a propaganda desse curso da Terceira Idade, que hoje é Maturidade. Eu decidi fazer. Adorei o curso, conheci pessoas ótimas... Fui aprender informática com a Profa. Vitória...

JM – Você melhorou da depressão quando entrou aqui na UAM?

Sylvia – Sim, mas comecei a sentir necessidade de mais. Eu precisava fazer alguma coisa que tomasse todo o meu tempo e meus pensamentos. Foi quando decidi fazer o vestibular para Direito, curso no qual me formei em 2005. Foi lindo! Fiquei um pouco em casa, e este ano [2007] resolvi voltar para a PUC. Mas, já estou com novas idéias.

JM – Nos fale um pouco sobre a perda do seu marido?

Sylvia – Logo que ele morreu eu me senti muito perdida e desamparada, porque meu marido ela aquele pai que supria todas as necessidades da família. Ele foi uma pessoa muito importante na vida da família no geral. Era muito responsável, íntegro, honesto e cuidadoso com todos. Eu chorava muito e não tinha coragem para ir sozinha a um restaurante sequer mas, com o tempo, fui me libertando... Já faz 12 anos que ele morreu.

JM – Qual foi o “remédio” que você tomou para sair dessa depressão?

Sylvia – Não suporto tomar remédio. Vim para a PUC e encontrei amigos maravilhosos que me ajudaram muito. Você pode até pensar que é a única viúva, mas percebe que quase todos são e acaba se tocando que aquilo não aconteceu só com você. Aconselho às pessoas a procurarem atividades fora da casa, mesmo que seja por poucas horas, pois dá um ânimo novo e volta a vontade de viver.

JM – Mudou alguma coisa na relação familiar depois desse fato?

Sylvia – Meu filho, que morava em Bauru, veio para casa, foi mexer com o inventário e decidiu ficar. Eu agradeço a Deus por ele morar comigo, mas ele tem a vida dele e eu a minha. Trabalha muito, viaja bastante na época de férias e algumas vezes me leva com ele [risos].

JM – Quer registrar algum momento marcante do casal ?

Sylvia – Em 1992, meu marido me disse que estava com uma vontade de ir para a Itália conhecer a terra dos pais dele, camponeses da cidade de Tito, na Província de Potenza, Sul da Itália. Era o seu sonho dourado ir para lá. É um lugarzinho maravilhoso, montanhas, aquelas casas de pedras, ruas estreitas, um sonho de lugar. Foi uma felicidade só! Ah! E, detalhe: a família Scavone era tão importante na cidade, que há um monumento aos mortos da primeira guerra. Eu me lembro da emoção dele naqueles dias...

Pensamentos e Atitudes

JM – Como é a Sylvia?

Sylvia – Eu? Sou nervosa, brava, mas ao mesmo tempo eu me dôo muito. Gosto de ajudar. É meio ruim ser assim, eu sofro.

JM – O que é o amor?

Sylvia – O amor para mim é tudo o que eu vivi com o meu marido. Amor é o que você acaba transparecendo, o que você sente e passa para as pessoas que estão ao seu redor. Essa coisa de estar bem consigo mesmo e de se sentir realizado... Tive uma infância ótima: meus pais do meu lado, minha vida com meus parentes aqui em São Paulo, com meu marido [noivei, casei, tive meus filhos e enviuvei]... Fiz tudo o que um ser humano pode desejar fazer. Então, para mim, isso é o amor, entendeu?

JM – E família?

Sylvia – Só o fato de você saber que tem uma já é a coisa mais linda do mundo. Da maneira que ela seja, com seus altos e baixos, seus problemas e encrencas... Mas, quando você precisa está todo mundo ali do lado. Família é o esteio da sociedade, sem família não há nada, o mundo fica vazio. Fui muito dedicada ao lar, ao marido e aos filhos, apesar de trabalhar fora. E, até hoje, eu sou assim.

JM – Casamento...

Sylvia – Casamento lindo foi o que eu vivi. E, acredito que ninguém viveu igual ao meu [risos]. Valeu a pena!!! Por isso, quando alguém me pergunta: “quer um namorado?”, digo que não preciso, que tive um e ele continua sendo meu namorado.

JM – Infância.

Sylvia – Infância para mim é alegria. Gostava de pescar, andar de canoa, pegar camarão, aquela coisa bem bagunceira. Era uma delícia. Coisa que meus netos hoje não têm...

JM – Netos.

Sylvia – [suspiro] São aqueles que dão preocupação para a gente, não é? Eu fico preocupada, porque eu vejo que a sociedade é tão complicada, drogas e tudo o mais. A primeira coisa que faço quando acordo, é rezar para que eles nunca se metam com essas coisas, quero que eles tenham uma vida boa como eu tive, como os pais tiveram, porque eles nunca me deram trabalho.

JM – Fé e religião.

Sylvia – Eu tenho muita fé e não vivo sem ela. Acho que Deus nunca me abandona. Ele sempre manda uma resposta para tudo que eu preciso, sabe? A minha religião é a Católica, mas respeito todas as existentes. No fundo, todas levam a Deus [um único e verdadeiro Deus]. Acho que isso é que é importante. Tanto é que eu vou à Sinagoga, participo e acho bonito. A energia é boa e é isso o que importa.

JM – O que é ter saúde?

Sylvia – Eu sempre fui saudável. De repente, eu vejo que todas as minhas articulações estão doendo [risos]. Mas de qualquer maneira, saúde é você estar mentalmente em condições de saber o que é bom e ruim e saber separar um pouco as coisas, só assim pode-se considerar que a saúde está equilibrada.

JM – Como você encara o envelhecer?

Sylvia – Envelhecer? O que eu posso dizer? Que é maravilhoso poder envelhecer, porque se você envelheceu é porque você está vivo. Isso é maravilhoso! Eu acho ótimo fazer 68 anos e com certeza eu quero fazer muito mais, como a minha mãe [94] e minha tia [97]. Envelhecer é trazer uma bagagem enorme, coisas que aprendemos e que podemos modificar ainda. Respeito muito as pessoas, em particular, os idosos, porque à medida que envelhecemos percebe-se como que a vida é. A vida é bem diferente de tudo aquilo que imaginamos quando éramos jovens, quando pensávamos que éramos donos da verdade. As coisas não são bem assim. A bagagem que trazemos ninguém tira. Isso é sabedoria!

JM – Morte e vida.

Sylvia – A morte é uma coisa natural. Um dia ela vai chegar e a gente tem de aceitá-la naturalmente. Sentimos dificuldade de aceitar a morte dos familiares, é muito triste, mas temos que aceitar, não tem jeito. A vida [risos] é maravilhosa. Vida é tudo! O que eu posso dizer dela? Eu quero viver!

JM – Então, o que é viver bem?
 
Sylvia – É fazer isso que a gente está fazendo agora, estamos conversando. Conheci uma pessoa maravilhosa [Ignez], que talvez já tenha até cruzado com ela nessa vida... E quando ela for à Iguape vai perguntar pela Sylvia, alguém vai lembrar, porque eu conheço muita gente lá.

JM – O que é felicidade para você? Como você sente a felicidade? Como você sente que as pessoas vêem a felicidade?

Sylvia – Olha, na visão das pessoas é “ter” muito. Como se o “ter” fosse tão importante. O que você precisa é paz, aquela paz de espírito, tranqüilidade... Meu marido era muito sábio, ele dizia “nega, dinheiro não é tudo na vida!”. E não é mesmo. Hoje em dia baseia-se toda  a vida no material e não se pensa muito naquela parte boa da convivência, da estima, do momento feliz. É completamente diferente. Quando jovem, por exemplo, eu queria casar, ter minha casa, meu marido, meus filhos e, para mim, isso era felicidade. Hoje não é assim.

JM – Então, você atingiu o seu objetivo de vida?

Sylvia – Com certeza. Atingi, porque era o que eu queria, o que eu sonhei. Para você ter uma idéia, eu sempre idealizei e sonhei com uma casa. Aquilo que você pensa, você atrai e volta para você. Quando eu olhei a casa que iríamos comprar não acreditei, era exatamente a dos meus sonhos.

JM – E, por que “nega”?

Sylvia – Pois é. Por que será? Eu não sei. Nunca soube. Ele chegava, ficava na porta do banheiro enquanto eu estava me arrumando e dizia - “essa minha nega é bonita para caramba”. E é uma coisa de que tenho remorso, porque eu falava assim - “é, não se cuida que você vai ver. Eu fico viúva, fico com sua aposentadoria...” [emoção] tenho remorso, juro por Deus. Aí ele dizia - “nega, você não vai fazer isso comigo não”. E não é que acabou morrendo e eu acabei ficando com a pensão dele. Abri uma Caderneta de Poupança e deixei lá o dinheiro. Mais tarde meu filho aplicou de uma maneira melhor. Sentia-me mal indo lá pegar a pensão... Ele foi uma pessoa que trabalhou tanto, ficou um ano aposentado e faleceu. E eu... Mas, faz parte da vida e eu estou aqui.

JM – Como é seu dia-a-dia hoje?

Sylvia – Minha vida é bem movimentada. Faço hidroginástica, vou ao cinema. Saio muito com minha filha e família. Trabalho bastante, tenho muitos passarinhos, louro, cachorros e tartarugas. Vejo muita televisão e durmo tranqüilamente. Meu marido falava que eu tinha uma coisa de bom, que era saudável para mim, porque eu me desligava muito facilmente. E eu sou assim mesmo, ele não, ficava pensando... e não dormia.

JM – Você tem uma história de longevidade na família, está preparada para viver bastante?

Sylvia – Com certeza. Enquanto tiver PUC e essa gente maravilhosa... Espero viver bastante, mas com qualidade de vida. É bom enquanto se pode sair, não precisa de ninguém. Sou bem independente para fazer as minhas coisas, ando bastante, não suporto é ficar dando trabalho. Do resto, a gente indo atrás chega lá, não chega? Estou tendo mais oportunidades que minha mãe e minha avó.

Para concluir Sylvia fez questão de deixar uma mensagem para suas colegas e amigas de PUC e outros leitores que vierem a apreciar suas palavras:

“Quero dizer a todas que o caminho é dar margem para o tempo... O tempo cura todas as feridas! Essa é a verdade mais verdadeira que pode haver”.

 

Célia Gennari
celia-gennari@uol.com.br
Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br

Crédito das fotos: Célia Gennari

 
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