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APOSENTADORIA PODE DAR CERTO


“Somos calouros. Chegamos aqui através de uma matéria publicada no Jornal “Bem-Estar”, da Fundação CESP. Na foto estava o professor Jordão e alguns alunos da Faculdade Santana. Busquei informações e soube que na PUC também havia o curso para a Terceira Idade. Gostamos das disciplinas oferecidas e aqui estamos”, contou Irildes B. Toscano, ao lado de seu marido Edson Toscano, nossos entrevistados desta edição.

Maturidades – Como vocês entraram nesse consenso, já existia um interesse? Em que momento da vida isso chegou?

Irildes B. Toscano – Chegou no momento em que nos aposentamos e era importante reavaliar a nossa postura frente a uma nova dinâmica do dia a dia. Resolvemos trabalhar em casa, para ter um tempo mais livre, solto, à vontade, para nos dedicar a outras atividades.

Maturidades – Dois semestres por aqui, como foi esse primeiro contato?

Edson Toscano – Começamos por avaliar o que estava sendo mostrado, o tipo de informação... Na metade do segundo semestre, por aquilo que estava sendo oferecido e, mesmo pela proposta em si, vimos que nos agradava muito.

Irildes – O nível do curso é muito bom, professores excelentes, proposta fantástica. Nem sonhava que pudesse estar em um lugar em que se concentra tanta gente de mais idade, feliz, com o espírito jovem, comunicativa, que faz novas amizades, interessa-se, discute e se movimenta. Fazemos Tai Chi Chuan, que veio ao encontro da nossa proposta de estar melhor, psicológica e fisicamente. Aprende-se a técnica com o Prof. Davi e depois se pratica em casa. O Edson é o único homem no grupo de alunos e é o que mais pratica.

Maturidades – Qual a identificação com o Tai Chi Chuan que vocês encontraram?

Edson – O equilíbrio da mente que essa prática nos propicia e o desenvolvimento da concentração, que, talvez, seja o inicio da tão almejada meditação. É um exercício extremamente difícil, com movimentos lentos, para desenvolver o equilíbrio. É algo que se faz agora, não para receber um retorno de imediato, mas como um investimento para o futuro. Da mesma forma, o curso em geral, também, é um investimento para o futuro.

Irildes – Para mim o resultado foi mais imediato, pude desenvolver a paciência, porque sou mais elétrica, enérgica e rigorosa com as coisas. O Prof. Davi mostrou o outro lado, o lado paciente para desenvolver a concentração, a meditação e buscar nisso a energia interior. Outro resultado fantástico foi superar a minha insônia. Comecei a dormir muito melhor. Além disso, o Tai Chi Chuan previne a Doença de Alzheimer, a depressão e outras. Essas aulas poderiam ser mais valorizadas pelo grande benefício que elas oferecem, com um espaço maior, mais adequado para sua administração. Todas as outras aulas também merecem o nosso respeito e atenção.

Maturidades – Mas tem alguma disciplina que vocês acharam muito importante?
 
Irildes – Muito importante e práticas são as aulas da Profa. Dra. Alda Ribeiro, que nos leva a ações que nos trazem benefícios aliados à cultura. Além do que, temos a Profa. Elisabeth, que nos conduz através da Língua Portuguesa, corrigindo-nos e nos atualizando e, ainda, mescla as aulas com vivências e textos de auto-ajuda. Ela tem uma entonação tão especial quando lê um texto, tão vívida, que nos passa muitos sentimentos de paz, tranqüilidade, carinho e acalento. É muito gostoso dividir a tarde com uma pessoa tão agradável e competente.

Edson – Neste semestre, teremos aula de economia, novamente, com o Prof. Hélio. São muito importantes os porquês de nossa economia, os movimentos econômicos, os estados econômicos do Brasil e de outros países.

FASES DA VIDA

Maturidades – Vocês estiveram 37 anos trabalhando, é um bom tempo de vida. Qual foi o tipo de trabalho no qual vocês se identificaram?

Edson – Sou contabilista, sempre trabalhei nessa área, foi o que me apareceu naquela época, nos meus 18, 19 anos, era uma opção de mercado. Pensei fazer cinema, era uma atividade de hobby e não um desenvolvimento profissional. Estávamos em 1972, então, optei pela Contabilidade. Minha empresa, da qual somos sócios, é uma empresa administrativa, financeira e contábil. Duas pessoas e um computador.

Irildes – Sou psicóloga, formei-me na Faculdade Paulistana e fiz a pós-graduação na FAAP, trabalhei na CEESP. Toda minha experiência profissional foi com Recursos Humanos. Estava no auge da minha vida profissional quando a empresa foi vendida, foram demitidas 1600 pessoas.

Maturidades – Por que psicologia?

Irildes – Porque sempre gostei do ser humano, sempre acreditei nas pessoas e sempre achei que o ser humano ia dormir de um jeito e acordar no outro melhor, mudado, pronto para crescer e evoluir. Eu trabalhava na parte administrativa de RH, com o pessoal técnico, mas sempre voltada ao ser humano e ao seu bem-estar.

Maturidades – Nesses espaços de trabalho tão diferentes, como vocês se encontraram?

Edson – Não a roubei do convento [risos]. Nos encontramos por acaso. Eu residia no mesmo prédio em que morava o irmão dela e um belo dia ela veio visitar o irmão...

Irildes – Estava no meio de uma desilusão amorosa e quando o vi, disse: “Vou namorar aquele moleque!”. Meu irmão me recomendou juízo, porque ele era um moleque ajuizado e de respeito.

Edson – Talvez porque eu era assim como hoje, sempre mantive essa aparência, mas com mais cabelo e sem os óculos [risos]... Começamos a namorar aos 24 anos, casamos com 28 e nossa filha nasceu quando tínhamos 36.

Irildes – Fui eu quem o convidou para ir ao cinema. Apesar de ter estado no convento eu era mais saidinha [risos], mas eu sou tímida...

VIDA DE CASAL

Maturidades – Como está essa fase da vida do casal?
 
Edson – Nós estamos casados há 25 anos e temos 54. Houve um tempo em que trabalhávamos separadamente e só falávamos “bom dia” no café da manhã, juntamente, com nossa filha que hoje tem 18 anos. Com a nossa aposentadoria, criamos uma empresa de assessoria administrativo-financeira. Agora, além de trabalharmos em casa, fazemos outras atividades juntos e isso é muito prazeroso, porque temos chance de dividir o que os 37 anos de trabalho não nos permitiu fazer. É um novo aprendizado, uma nova relação de matrimônio.

Irildes – Há mais amizade, cumplicidade, é outra relação e muito boa. Casados, com atividades diferentes e independentes, convivíamos muito pouco. Agora está muito gostoso vir com ele, fazer uma caminhada ao seu lado, na vinda e na volta da PUC...

Edson – Fazemos exercícios em conjunto, natação, caminhada no parque...

Irildes – Ele anda de bicicleta, eu não.

Edson – Ela falou que vai aprender, nem que tenha que colocar as rodinhas na bicicleta para andarmos juntos [risos].

Maturidades – O que o Edson e a Irildes acham importante na vida?

Edson – Família. É um conceito muito bonito, mas que só assimilamos quando casamos e temos filhos. Sou filho único, perdi meu pai quando tinha 4 anos de idade,... lembro-me dos meus primos,... mas não temos mais nenhum contato. Já da parte da Irildes, eram em 12 irmãos, hoje são 11 e com o casamento ganhei de presente 18 sobrinhos. Todo final de ano nos reunimos para as comemorações. O grande valor da família é este de agregar todos numa mesma comunhão e confraternização.  

Irildes – A minha família é do Sul, Santa Catarina, o Edson só tem a mãe e uma tia, sendo assim, participamos sempre dos eventos familiares que reúnem parentes dos vários Estados do Brasil. A distância não existe entre nós. Para mim isto é muito importante. Temos uma filha com 18 anos, que faz curso na USP, acorda às 5h30 e mantemos o hábito de acordar com ela para tomar café da manhã juntos. Queria enfatizar, também, o valor da humildade, que me preocupo em passar para minha filha. Ser humilde é aceitar o outro, ter mais respeito para com seu semelhante em qualquer setor de nossas vidas. Gostaria muito que minha filha carregasse esse valor por toda vida.

PENSAMENTOS

Maturidades – O que vocês pensam dos extremos? Vida e morte?

Edson – Vida! Acho que deve ter sido uma grande sacada de Deus, que foi muito mais sábio do que se imagina. Quando Ele colocou o efeito tempo nos mostrou essa grande sacada, porque se a vida não tivesse a constante de tempo ela seria completamente monótona. Somos energia em movimento.
Morte! Na minha concepção é uma mudança de estado de energia. Deus é uma concepção de energia para mim e na hora que ela muda é a passagem desta energia para outra, que se denomina “morte”, como a água do estado líquido para o gasoso. São matérias se transformando em outra coisa, através de um pulso de energia. Então, vida e morte para mim é a grande sacada de Deus.

Irildes – Eu entendo assim,... Quando se fala em vida eu penso em nascimento. Não existe alegria maior, energia melhor... A maternidade é a melhor escola e o nascimento é a melhor festa que pode existir em uma família. Morte, nem penso muito nisso, mas eu lido razoavelmente bem com a morte. Senti a morte mais próxima quando eu perdi um irmão de 47 anos, senti o céu e a terra se encostarem, senti que a morte existia, mas não é uma coisa que me assusta. Minha mãe Verônica tem 85 anos e já nos deu alguns sustos, quase morreu em minhas mãos. Quando ela estava quase indo, apertei a sua mão e disse: “Olha, vai com Deus”. Era uma coisa que estava acontecendo, era inevitável, mas não foi um momento desesperador, foi tranqüilo. E ela não se foi.

Maturidades – Fé e religião, como é a relação de vocês com isso?

Edson – Nós somos católicos, mas também acredito no Espiritismo. A Igreja tem seus dogmas, mas fazer com que a fé se mantenha é que é o importante. Você precisa ter fé. Sem ela não conseguimos explicar coisa alguma.

Irildes – Nós temos vários núcleos, mas é a Igreja e a comunidade religiosa que completam o núcleo da gente. Tenho formação religiosa, estive em convento por muitos anos como aspirante, postulante e noviça, primeiro em Caxias do Sul e depois em São Paulo. Quando saí, acabei ficando em São Paulo. Sou de família religiosa. Cultivamos esses valores cristãos e tentamos passar para nossa filha. Mas, com os adolescentes é muito complicado. Raramente ela nos acompanha, sempre tem alguma coisa para fazer naquele horário. Mas, mesmo assim, continuamos a cultivar nossos valores.

Edson – É bom termos alguma coisa para cultivar a fé. As religiões são várias e ter fé é o importante para o bem-estar espiritual de cada um.

Maturidades – Uma curiosidade, Irildes: 30 quilos a menos. Como você era e como é agora?

Irildes – Eu não digo que era frustrada, digo quer era limitada e quase diabética. A intenção foi preventiva, pois procurei um endócrino para não ficar diabética. Daí comecei a emagrecer. As duas melhores satisfações que eu tive nesse processo de emagrecimento foram: primeiro poder cruzar a perna e a segunda foi abrir as portas dos armários, com um caixotão na frente, e fazer um “venha tudo”, uma limpeza, pois nada mais servia. A cabeça fica melhor, muda todo o dinamismo, você é outra pessoa. Todo esse processo durou de 4 a 5 anos.

Maturidades – Edson, como você participou desse processo?

Edson – Eu só incentivei, mas não cobrando. Ela sempre teve consciência de como era. Quando falou: “Chega!”, foi para valer. Agora, tem muito mais preparo físico para uma corrida do que eu e corre 10 km tranqüila.

Irildes – Imagine como é agora: duas mulheres que têm um controle alimentar mais constante e um homem que pode comer absolutamente tudo.

Edson – De vez em quando, preciso perguntar: “Cadê minha calça jeans?” Ou está com minha filha ou está com minha mulher [risos].

Irildes – Ele veste 38, pode?
 
Edson – Ganhei 4 kg ao longo desses anos e se eu fizer muito exercício eu acabo emagrecendo.

NO FUTURO

Maturidades – Quais são as expectativas de vocês na vida?

Irildes – A gente tem um projeto de vida de ficar em São Paulo por mais quatro ou cinco anos, até a nossa filha se formar. Ela havia entrado na Faculdade de Engenharia Ambiental, em Santa Catarina, para onde pretendíamos nos mudar, mas preferiu aqui.  Então nosso projeto fica para depois, até ela deslanchar e poder ficar sozinha. A maioria do nosso núcleo familiar está por lá. Santa Catarina tem belos lugares, praticamente, inexplorados. Temos em mente um projeto de Turismo Rural, fazer algum convênio com hotéis de lá, alguma coisa muito micro, bem caseira, ou mesmo alguma coisa voltada à Terceira Idade.

Edson – Quero ver se faço um curso de padeiro. Adoro comer pizzas!

Maturidades – Querem deixar uma mensagem para os seus colegas e nossos leitores?

Irildes – Uma mensagem que eu deixo para quem vai ler é que a gente precisa ser sempre curioso na vida. A curiosidade nos leva a buscar coisas novas. Ai, você se interessa, vai crescendo, soma conhecimentos. Então, eu diria: “Seja curioso”.

Edson – A minha mensagem é que devemos procurar uma comunidade e vivenciá-la. Viver isolado leva a gente ao desaparecimento rápido. Os momentos que passamos aqui, na PUC, são ótimos e o que os professores nos transmitem é muito importante, um grande investimento.

 

Célia Gennari
celia-gennari@uol.com.br
Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br

 
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