DE QUEM É A PRAÇA DA SÉ?
Por Sérgio Paz
(1978)
De quem é a Praça da Sé?
É dos jesuítas, Manoel e José,
que subiram a serra
pr'á trazer pr'os da terra
um pouco de amor e de fé?
Da oca, choupana, chalé,
casebre, palhoça, palafita,
barraco, taipa, pau‑a‑pique e sapé?
Ou da mansão, do prédio, arranha‑céu,
a cobrir tal qual um véu
esta São Paulo infinita
cujo centro é lá na Sé?
Será que é da garoa,
que rega o milho da broa,
e faz brotar o café?
Será da Catedral, imponente,
construída lentamente,
entregue às beatas:
sede na fé?
Ou será do vadio, manco,
dormindo num seu banco,
entregue às baratas:
fede na Sé?
Será do Mendes Caldeira
que, implodido, levantou poeira,
mas herói na acepção verdadeira,
realmente caiu de pé?
Será da poluição,
do barulho,
da fumaça,
ou da diversão,
do bagulho,
da graça
da bela mulata que passa
rebolando pela praça,
só não seguida pelo olhar de quem disfarça,
ou então por quem homem não é?
Será do banco pr'o pobre sentar,
ou do banco pr'o rico depositar,
ou da banca pr‘ás manchetes dar,
ou do sanfoneiro, do pipoqueiro, do cabaré,
ou do corintiano, de um gol do Pelé,
ou das pastelarias, das ofertas, dos bares de petiscos,
ou das padarias, da moda, das lojas de discos,
ou dos mascates, dos pentes, dos espelhos, de coisas quaisquer?
Será da gente apressada
que passa pela nova calçada
sem tempo pr‘á ver o que se inaugura:
árvores, relógio, águas a grande altura,
pois andam rápido, correm até?
Ou dos milhares que se servem dos subterrâneos,
vindos do Jabaquara ou de Santana,
ou da gente ingênua que se engana,
como os dois conterrâneos:
Belarmino e Mané,
pois, como um confessou:
“o termo é que tremo de temor de terremoto e morte no trem do Metrô!”
e, por isso, andam a pé?
Que a praça seja bem‑vinda, por estar, de novo,
sendo ocupada pelo seu povo
a ela, digo de quem acho que é:
ÉS A DA VIDA,
A DIVA DA SÉ !!!
|