VELHICE
A MELHOR IDADE
Por Ivanise Miranda
Os poetas, em prosa e verso,
Cantam a tal “melhor idade”.
Eu sei que isso é tolice,
Pois não é a realidade.
Dor ali, dor acolá,
Isto é mesmo um horror!
De verdade nós estamos,
Na idade do “condor”!
Andar firme, já não temos,
Deixamos de ser elegantes.
Contamos com uma bengala,
Ou andamos claudicantes.
Os cabelos ficam brancos,
Não sei mais o que se faça.
Tintura, cara amiga, veja!
Quantas loiras há na praça!
A pele, que era de pêssego,
Não é macia, nem lisinha.
Agora, em volta dos olhos,
Só temos pés de galinha.
Os olhos vivos, brilhantes,
Isto agora já passou.
Cataratas e outros “bichos”,
É o pouco que nos restou.
Os dentes ficaram fracos,
Nada de comer coisa dura.
E se não correr ao dentista,
É implante ou dentadura.
Lembram do personagem,
Das Jornadas nas Estrelas?
Não sei por que me recordam.
As nossas pobres orelhas.
Não estão se lembrando?
Porque faço a ligação?
Com a idade, as orelhas crescem,
Vejam se não tenho razão!
As orelhas, tão pequeninas,
Ouviam até sem querer.
E hoje, apesar de tão grandes,
Não se ouve o que estão a dizer.
Cada linha do pescoço
Cinco anos dizia-se valer.
Então tome cuidado,
Se quer sua idade esconder.
Você teria a coragem,
De “Tiau” com os braços dar?
Com o balanço das “pelancas”,
É melhor não se arriscar.
Vestidos bem decotados.
Colo nu, uma beleza!
Mas agora é bom evitar,
O colo vilão, com toda certeza.
Nosso trunfo era o seio,
Apontando sempre pra lua.
Agora, coitado, caído,
Só vive olhando pra rua.
E a famosa cinturinha?
Pilão ou vespa era chamada.
Com os pneus e as dobrinhas,
Mostrar isso é uma cilada.
Essa barriga danada,
Que não para de crescer!
Será possível um milagre?
E logo um bebê vai nascer!
E as mãos, tão bem cuidadas,
Um encanto pra se mostrar.
Pena que as veias vieram,
Pra nossa idade delatar.
As pernas firmes, torneadas
Eram um ponto de atração.
Fracas, “veiúdas” de agora,
Só com calça ou vestidão.
Os pés, em saltos bem altos,
Éramos próprias cinderelas.
As dores e os calos presentes,
Só querem saber de chinelas.
E o banheiro constante.
Nunca vi tanto urinar.
Logo, logo, com certeza,
Teremos que fraldas usar.
E a “bichinha” fogosa,
Onde é que foi parar?
Ficou tão esquecida,
Que não sabe nem como usar.
A memória, foi embora,
É um verdadeiro tormento.
Às vezes se esquece até,
Do que fez neste momento.
Lembrar de pessoas e fatos,
É um esforço dantesco.
Por isso muitas vezes se paga,
Cada “mico” gigantesco.
Se na rua alguém pergunta,
Como estou neste momento.
Respondo, toda sorrindo:
Tudo em cima, eu garanto!
Tudo em cima, de verdade!
Peito em cima da barriga,
Barriga em cima da coxa,
E coxa, coitada, só com “mandinga”.
E para aquelas que acham,
“Melhor idade”, não é desse jeito.
Então, que sejam felizes,
E façam um bom proveito.
Fico aqui com o poeta que disse;
Ai que saudades que tenho,
Da aurora da minha vida.
Da minha infância querida.
Que os anos não trazem mais.
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