SERÁ QUE VOCÊ CONHECE SÃO PAULO?

Você já ouviu falar das Igrejas: da Boa Morte, das Almas dos Enforcados e dos Aflitos?

Isso mesmo. São Paulo tem uma Igreja chamada da Boa Morte, mais precisamente Igreja Nossa Senhora da Boa Morte. Sabe onde fica? Na rua do Carmo, quase esquina com a rua Tabatinguera. Antigamente, a rua se chamava da Boa Morte. É uma das igrejas coloniais mais simples da cidade, mas de uma beleza histórica grandiosa. No ano de 2010 ela completará 200 anos.

Que importância ela tem na nossa história?

Era nessa igreja onde os condenados à morte faziam sua última oração, pedindo a Deus uma boa morte, rápida e com menos sofrimento. Mas isso havia em São Paulo? Pena de morte? Havia sim, e antes do enforcamento, o condenado tinha que fazer um trajeto pela cidade, passando pelo Palácio do Governo, no Pátio do Colégio, onde o Presidente da Província aguardava postado à janela.

Depois a triste caminhada seguia até o Largo da Forca, hoje Praça da Liberdade, onde finalmente o condenado era executado.

Após a execução, o corpo era enterrado no Cemitério dos Aflitos, criado em 1774 para receber os despojos dos escravos, dos banidos da sociedade, dos condenados à morte, dos suicidas e de todos aqueles que não merecessem ser enterrados na igreja ou no seu entorno.

O que restou deste cemitério?

A Capela. A Capela dos Aflitos, à rua dos Estudantes, num beco feio e sujo, o Beco dos Aflitos,  cheio de caminhões que mal abrem passagem para que possamos vê-la ao fundo. É exageradamente simples, tal qual foi o seu destino.

E a Igreja das Almas dos Enforcados?

Todos a conhecem por Igreja das Almas. Uns passam por ali, mas nunca entram. Outros passam, acendem velas, pedem, agradecem e louvam, mas nem sequer conhecem uma linha desta história.

Houve um caso na cidade, cujo condenado, chamado Francisco José de Chagas, e conhecido como “Chaguinhas”, teve a corda rompida por duas vezes. O povo que acorria ao Largo da Forca, para assistir ao acontecimento, por mera curiosidade, ou porque tinha alguma afinidade com o condenado, entendeu que ele não deveria morrer. Era a vontade de Deus que ele vivesse. Mas ele morreu, não resistindo à terceira investida. Por que fora condenado? Por que liderara uma rebelião de soldados em Santos, que lutava para receber soldos atrasados. A partir de então, passou-se a acender velas nesse local até que se criou a tal Igreja, a Igreja da Santa Cruz das Almas dos Enforcados, na esquina da rua da Liberdade, com o largo do mesmo nome.

As três igrejas guardam uma relação muito íntima entre si: numa se pedia uma boa morte, noutra se rezava pela alma dos enforcados e a outra era a capela da última morada, do cemitério onde os excluídos eram enterrados.

Profª Clélia Person Lammardo
clélia_person_lammardo@yahoo.com.br