O Céu
A casa do sítio ficava em cima do morro. Tinha um terraço gostoso na frente, rodeado de jardineiras de gerânio. Com o calor as portas ficavam sempre abertas. Muitas vezes, à noite, íamos para o terreiro ao lado da casa, onde deitávamos um na barriga do outro, para ver estrelas.
Éramos sete: Papai, Mamãe, Uça, Beto, Quico, Piquá e Tomi – quando não tínhamos hóspedes, como primos e outros visitantes.
Eram muitas as estrelas, pois não havia iluminação próxima para ofuscar nossa visão. Nós as identificávamos com facilidade, pois o Papai tinha um Atlas do céu, com a localização dos astros em diversas épocas do ano.
Era um deslumbramento consultar o Atlas para encontrar a estrela que a gente queria. Assim planetas eram reconhecidos pela sua luz fixa e as estrelas pelo brilho cintilante.
O Tomi era apaixonado por Júpiter e sempre o achava no céu.
– Olha o Júpiter! Lá estava o planeta gigante com o olhar fixo no Tomi e vice-versa.
A Via Láctea, toda branca, fazia uma estrada lá no céu escuro. Dava vontade de passear por ela, como os personagens de Monteiro Lobato.
De tanto procurar as Três Marias no céu, o Tomi as encontrava em qualquer lugar onde houvesse três lâmpadas enfileiradas.
- Aqui também tem Três Marias!
Às estrelas cadentes que riscavam o céu fazíamos um pedido, mas não podíamos contá-lo a ninguém, porque só assim se realizaria. Os satélites artificiais pareciam bêbados trôpegos, com sua rota quebrada, andando de um lado para outro no infinito escuro.
Era gostoso sentir aquela brisa noturna, enxergar a escuridão, ouvir o silêncio só interrompido pelo coaxar dos sapos e o som dos grilos, fazendo cri...cri...cri...
De vez em quando alguém falava uma bobagem e todos riam, sacudindo a barriga e a cabeça que estava pousada nela, provocando mais risadas ainda. Até o céu parecia dar gargalhadas junto com a gente.
Difícil era sair dali para escovar os dentes e ir dormir.
"Ora direis, ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!"
Maria Helena Salles Penteado
nena.penteado@gmail.com
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