Naidinha
Mario Dias Varela me pediu que escrevesse alguma coisa sobre minha vida, que começou no dia 3 de setembro de 1917 e não sei quando chegará ao fim.
Como os anos percorridos foram muitos, hoje aos 93, devo ter uma longa história a contar.
Vou ver se faço um resumo do que vivi.
Aprendi que ninguém passa a vida em brancas nuvens.
Às vezes o sol brilha e nos ofusca, outras, ele se esconde atrás de pesadas nuvens e seu brilho desaparece.
Assim é a vida. Nem sempre ela se apresenta alvissareira, alegre e sorridente.
O sol desaparece, já não brilha, todo colorido esmaece.
A vida para mim transcorre entre sóis brilhantes e nuvens pesadas.
Nasci em Porangaba. É um subúrbio de Fortaleza. Acredito que logo fomos morar em Baturité, uma mimosa e acolhedora cidade plantada ao pé da Serra Guarapiranga. Papai fez concurso para fiscal federal e foi nomeado para a cidade de Redenção. Lá, o meu tio avô, irmão do vovô, senador João Cordeiro, liberou os primeiros escravos no Brasil. Daí o nome Redenção.
Morei em várias outras cidades do Ceará.
Papai foi transferido para Pernambuco e fomos morar em Recife, onde minha mãe faleceu.
Finalmente viemos para o estado de São Paulo e fomos morar em Rio Claro.
Viemos a seguir para São Paulo, estudei no Colégio Batista, onde me formei como professora.
Com 22 anos me casei e fui morar em Pirajú. Foram os 5 anos mais felizes de minha vida. Meu marido tinha uma firma de ferragens, rolamentos e correias para máquinas.
Ele, já pensando nos filhos, achou melhor vender a firma e montar outra, do mesmo ramo, em São Paulo, na rua Duque de Caxias. Lecionei no Grupo Escolar Almirante Barroso, por 15 anos. Depois me transferi para o Grupo Marechal Floriano, ficando mais 16 anos. Completei assim 31 anos no magistério.
Apareceu a primeira faculdade para a Terceira Idade na PUC. Era apenas uma sala em setembro de 1991, com vinte e poucas senhoras.
A nossa primeira aula foi com a doutora Alda Ribeiro, formada em Milão, em Gerontologia. Alegre como até hoje, simples, autêntica, passou para nós, um carinho de irmã. Está sempre lendo e se atualizando para que fiquemos atentos ao nosso momento de vida.
Agora em 2011, a nossa faculdade completa 20 anos.
Não sei por que o prof. Fauze me apelidou de "Garota Propaganda". Já falei com o professor Jordão que está na hora de me aposentar. Quando sou chamada para participar da mesa de alguma comemoração, lá surge a Garota Propaganda, já com quase 100 anos.
Acho mesmo que devo pedir aposentadoria.
A nossa agora chamada Universidade Aberta à Maturidade da PUC/SP é para o nosso orgulho, uma instituição que se tornou famosa, graças aos esforços de pessoas como os coordenadores Jordão Netto e Fauze Saadi e muitos professores que aqui estão!
Naíade Aucester Cordeiro Montenegro Gallo
(Naidinha)
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