Uma vida
Por Ignez Ribeiro
Escrito em 14/11/2001*
Há uma mística eternidade,
no meu momento presente,
que me confunde e constrange,
fazendo-me pensar que sou eterna,
nesta minha presença física,
num mundo, aparentemente, concreto,
qual volátil pássaro etéreo,
neste universo quântico, que:
“No princípio era”, misteriosamente, “o Verbo...
...e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”¹
Hoje uma estrela brilha, enganando-me
com seu trêmulo brilho morto,
suave lágrima de adeus,
que me chega com milhões de anos luz de atraso
e assusta a limitação do meu ser.
O que eu seria quando ela era eterna?
O que sou agora que ela já se foi?
Sou tão eterna como ela era,
ou sou apenas mais uma efêmera e
cálida lágrima de adeus e de amor,
que suplica por uma consciência
mais pura e anímica, que me
dê lucidez e paz, para me saber,
apenas hóspede deste belo pássaro errante,
que não me pertence e está acima do meu querer?
Sinto-me feliz e responsável por me saber
hóspede e depositária de bens que não são meus.
Mas, o que me angustia, enquanto
estou no “agora”, no presente momento,
é o que fazer com as perdas, os sofrimentos
e a dor, se eles são tão profundos
quanto o infinito e, ao mesmo tempo,
dolorosamente, sensíveis como o amor?
Quando me olho no espelho,
e só enxergo meu pálido reflexo,
na penumbra da tarde,
deixo de ver o imenso universo
que tenho dentro de mim.
É com grande esforço que procuro
suplantar a limitação do meu ego tão magoado...
para permitir que o meu eu profundo dentro de mim...
veja no infinito do Eterno a continuidade
e a totalidade do meu ser...
*Poema publicado no livro A Ponte, de Ignez Ribeiro, pela Ed. Scortecci, em 2016
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