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Duas Importantes Figuras: meu Vô e meu Vô

Sinto-me uma privilegiada: neta de duas pessoas especiais e ao mesmo tempo diametralmente opostas – ambos da mesma cidade do interior paulista.

Enquanto um deles esbanjava inteligência e distribuía conhecimento, o outro era todo carinho e dengo.

Enquanto um registrava suas idéias no jornal da cidade, o outro se atinha ao sabor da leitura.

Enquanto um, com sua sagacidade coloria seu pensamento com ironia e irreverência, o outro era cúmplice de sua própria vida com sincera intimidade.

Enquanto um deles “pulava” de cidade em cidade com mulher e filhos, o outro aprofundava raízes na terra onde nascera. O “pulador” irrequieto buscava experimentar sensações novas; o “assentado” necessitava de uma platéia para demonstrar seus dotes intelectuais conquistados no curso dos anos. Um satisfazia-se com as emoções vividas que surgiam pela exploração do desconhecido (troca de emprego, aventuras amorosas); o outro agarrava-se à rotina.

Enquanto a sisudez e seriedade acompanhavam o semblante de um, o outro me ensinava a sorrir, a brincar, a amar. Eu tinha de um lado a frieza racional acompanhando um modelo de inteligência impecável, cultura exacerbada advinda de uma atitude autodidata e de outro lado, o calor extremado pois assim se colocava no mundo – bastava-lhe alimentar-se de afeto e doar ternura.

Revendo o quadro numa distância de 50 anos, sinto o quão forte foram estas referências para mim; permitiram que vivenciasse simbolicamente o binômio razão/emoção: pensar e sentir. Estas comparações levaram-me a crer ainda mais no dito da psicologia – o homem é muito mais emoção do que razão pois, enquanto meu vô materno era transparente, permitindo-se ser natural e espontâneo, desejando e sendo desejável, o vô paterno com seu pseudo-distanciamento, lidando aparentemente só com a razão como única fonte de vida, era movido pela vaidade que pertence ao campo emocional.

Sou privilegiada por terem sido fortes modelos durante o decorrer da minha vida, cada qual a seu modo. Como somos em parte fruto do ambiente externo, penso no quanto colaboraram para a minha formação. Causa-me tristeza ao saber o quão pouco a sociedade atual valoriza a velhice, o pouco espaço que tem dentro da própria família. O falecer, através do olhar médico, muitas vezes significa soro, sangue, UTI, alimentação artificial, o prolongar de algumas horas e/ou dias. Até que ponto é benéfico? Não sei ... apenas reflito ... Meus vôs foram respeitados: morreram nas próprias camas, em suas casas; o mais racional, de acordo com a vida que escolheu para si, faleceu só; os ouvintes que o sustentavam não faziam parte de sua intimidade. O outro foi-se, rodeado das sementes que plantou: filhos e netos. Ambos puderam escolher.

Eneida Souza Cintra
Psicóloga
eneidasouza@uol.com.br


 

 
 
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