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O tempo cronológico e a música

Ao escrever este texto não tive o intuito de demonstrar os benefícios de uma escuta musical dirigida apenas à terceira idade, mas verificar o que essa escuta teria de comum para todos os indivíduos, independentemente da faixa etária, credo cultural, preparo musical ou qualquer outra especificidade.

Reporto-me a diferentes escutas musicais: os estudos de Alexander Scriabin, um show de música sertaneja, rock ou música popular, uma apresentação folclórica, uma missa cantada... Diferentes espaços culturais: uma sala de concerto, um teatro, uma praça pública, um museu, uma igreja... Diferentes faixas etárias, pessoas de padrões culturais distintos e etnias variadas...

Tento uma aproximação mental com cada um desses indivíduos e nos diversos ambientes culturais elencados, e imediatamente sinto uma maravilhosa sensação de atemporalidade percorrer todo o meu corpo e espírito. Deixo de lado o tempo cronológico, adentro em um tempo que é eminentemente musical. Um tempo sem tempo, um tempo que nasce em cada nota executada e que traz consigo uma imbricada relação do presente com o passado e o futuro. Um tempo que não é pensado, mas vivenciado, mas que também é pensado musicalmente e na sua especialidade executável. É um tempo que não pode ser medido, a não ser na sua dimensão sonora, é o próprio movimento vivificado. Um tempo que se impõe às demais dimensões de tempo e que ocupa um espaço de natureza ontológica. Um tempo que nos afasta das nossas preocupações diárias e do nosso cotidiano e nos coloca em contato com a nossa subjetividade mais profunda, com a nossa sensibilidade. Ele não se expressa na palavra, ele simplesmente se manifesta e quanto mais percorre o espaço, mais ativa o nosso sensório.

Num breve segundo eu tento imaginar se essa maravilhosa sensação poderia se estender a todos os indivíduos, independentemente do psiquismo manifesto, preparo musical, faixa etária, cultura, gosto musical e repertório executado. Seria essa sensação uma percepção apenas afeta aos músicos, ou ela poderia se estender a qualquer ouvinte, sob a interferência de qualquer repertório?

Nesse fluir de idéias, vejo um tempo musical produzindo sínteses simbólicas instantâneas, ele nos conecta com eventos significativos do passado, mas também projeta imagens futuras e vivifica um tempo sempre presente. Ele é o agora perpétuo que manifesta uma criação humana fluídica e consciente. É nele que reencontramos e ordenamos as nossas imagens, nossas vivências, nossa existência, num fluir que não se manifesta, o Cronos, mas o Kairós que habita o mundo. É um tempo fruto do tempo pensado. Ele se manifesta na dialética dos instantes ativos presentes numa realidade musical que, ao mesmo tempo manifesta a nossa própria realidade. Uma realidade única, interior, que não é partilhada com o outro, porque não se manifesta na palavra, a não ser na generalidade das emoções, dos símbolos e das imagens que ela evoca e que lança o homem para um tempo diferenciado. Este tempo manifesta o espírito e tenta compreender o mundo nas representações sonoras presentes na obra musical e ao tentar compreendê-lo, percorre a memória que retém o que se tornou significante para os homens.

O tempo da música, portanto, não é uma qualidade específica a um ou mais indivíduos, a uma determinada faixa etária, a um determinado repertório musical, é um tempo presente em qualquer obra, porque é o tempo do espírito.

Profa. Dra. Sonia Regina Albano de Lima

 

 
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Edição Nº 29
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