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Cronista do Jornal Maturidades

Antonio Waldir Bíscaro é o nome dele. Sua mãe fazia questão de dar nomes pouco comuns aos filhos.

Segundo Waldir, o “bendito entre as mulheres”, das quatro irmãs que possui, todas ganharam nomes relativamente raros para a época: Odila, Zélia, Neide e Mirtes. No caso do nome dele, Waldir, a mãe, religiosa que era, o fez acompanhar de nome de santo. “Não precisava! Waldir é corruptela de Walter que por sua vez é corruptela de Gualter e São Gualter é santo”, explicou nosso entrevistado, que até hoje só se apresenta como Waldir. O sobrenome vem do seu avô paterno: Ambrosio Bíscaro, italiano do Vêneto, que veio para o Brasil na terceira grande emigração, em1888.

Waldir nasceu numa típica família operária. Pai assalariado, mãe costureira e irmãs no grupo escolar. Nasceu em Ribeirão Preto, mas já morou em Rio Claro, Guarulhos, Curitiba e Belo Horizonte. Só chegou em São Paulo em 1957, para lecionar e continuar a faculdade na PUC.

Da infância, ele lembra quando jogava bola de meia na rua e brincava de
“mãozoar”, jogo de mocinho e bandido que nem “farvest”, onde quem primeiro descobria o adversário gritava: mãos ao ar!. Aos 11 anos foi para o seminário em Rio Claro, no qual viveu sua adolescência, sem atropelos e com muita disciplina. Adorava estudar e, segundo ele, lá era o lugar ideal.

JM –
Qual a importância da família?
Waldir – Para mim, família, com todas as restrições que se lhe atribuem, ainda é algo que se faz necessária. Tenho uma filha e um filho, ambos educados dentro do respeito aos outros e em uma disciplina saudável. Nunca foi preciso o uso de qualquer forma de violência, nem verbal e muito menos física. Tenho muita admiração por eles, que nunca me decepcionaram, são ótimos profissionais em suas respectivas áreas – engenharia têxtil, civil e administração, e com eles mantenho comunicação constante.
Minha neta, filha da minha filha, está com 10 anos e estuda no sexto ano do ensino fundamental. Ela é meu encanto. Como única neta, ela representa minha continuidade. Mantenho contato com ela quase diariamente.

JM – Casamento?
Waldir – Penso que seria preciso que os papeis fossem redefinidos e ajustados, segundo as fases vividas pelo casal.

PENSAMENTOS E IDEIAS

JM – Do que você gosta e desgosta?
Waldir – Meus amigos me conhecem como um cara que não sabe dirigir e não sei mesmo. E, mesmo que soubesse, não gostaria de dirigir. Aliás, Einstein não sabia... É desse modo que transformo minhas incompetências em virtude! Não gosto também de jogos de azar. Nunca joguei na loteca nem na sena.
Como gosto de cozinhar, vejo como muito adequado fazer um curso de gastronomia ou, melhor, de culinária.

JM – E nas pessoas?
Waldir – Pessoas “criticonas”, que só sabem apontar as más qualidades nos outros. Pessoas que, não sabendo seu ponto de vista político, fazem crítica sobre questões que você defende.
Ainda bem que tenho mais coisas para admirar do que para desgostar, nas pessoas. Bom humor sempre vai aparecer em primeiro lugar, uma vez que ele facilita a aproximação. Por incrível que pareça, disciplina é uma das qualidades que muito aprecio nas pessoas. “Prestatividade” não consta nos dicionários e, mesmo não constando, a considero uma qualidade humana equivalente à generosidade com algo mais, como disposição para servir, mas sem subserviência.

JM – O mundo e os seres humanos?
Waldir – Minha posição perante o mundo tende a ser realista, mas deixo bom espaço para o otimismo. Vejo o ser humano ainda em processo de evolução que, aos trancos e barrancos, vai construindo algo cada vez melhor. O homem é um ser novato no universo e como tal tem ainda muito a aprender. Como estudioso da história interpreto o caminhar da humanidade não como um progresso contínuo e sim como um ensaio cheio de acertos e erros, com avanços e recuos, mas, em média, com mais acertos e mais avanços.

JM – Por onde caminha a sua fé?
Waldir – Em questão de fé, não vou muito além do racional. Admiro pessoas que crêem e se mantêm tranquilas em sua fé. Sou um racionalista empedernido, mas não ateu.

JM - Amor?
Waldir – Ele é a melhor - se não a única - receita de salvação da humanidade.

JM – Viver bem?
Waldir – Viver bem é buscar a simplicidade como objetivo, aliás, Alguém já falou isso há muito tempo e de forma muito mais poética: olhai os lírios do campo... O consumismo e a abundância de apelos são graves impedimentos para o bem viver.

JM – Felicidade?
Waldir – Felicidade é um estado de espírito em que você está em paz consigo mesmo e com o mundo. Essa paz tem tudo a ver com sua filosofia de vida, com aquilo que você valoriza. Para a pessoa que cultua a posse de bens como valor supremo é provável que ela só vá sentir-se feliz quando possuir tudo de material que puder acumular e, com isso, vai “dar com os burros n’água”.

JM – Encontros e desencontros?
Waldir – Encontros e desencontros são marcas da pessoa humana, um ser ainda em crescimento e, mais do que isso, um ser diverso. Encontro se dá quando se percebe alguma identidade que age como um aproximador, mas como as identidades não são perenes nem tão estáveis, o desencontro ou o afastamento se tornam inevitáveis. 

JM – O que você valoriza?
Waldir – Valorizo tudo o que se refere ao bem-estar humano. Como convicto socialista, valorizo os ideais do bem comum: a defesa da natureza, a igualdade entre os homens, a melhor distribuição das riquezas.

JM – Alguma preocupação?
Waldir – Preocupo-me com a expansão do individualismo entre a jovem geração e com a desatenção dos veteranos em relação à educação dos jovens.

JM – Objetivos a serem alcançados?
Waldir – Objetivos se alcançam ao final de um processo, como ainda estou no caminho, posso dizer apenas que me considero no rumo mais próximo do que seria o ideal.

O TEMPO

JM – O que é envelhecer para você?
Waldir – Envelhecer, pra mim, é apenas mais uma etapa de vida, como foi a adolescência ou juventude. Quanto ao meu envelhecimento, ainda não o assumi e vou adiar o quanto puder, porque, enquanto tiver algum projeto, por menor que seja, ou pequenas metas a cumprir, vou me dando um tempo a mais. Encontro-me na fase de transição entre a maturidade e o envelhecimento e não sei o quanto esse tempo pode durar. Uma coisa é certa, o envelhecimento não me apavora; há mais de 10 anos que me preparo para assumi-lo.
Às vezes quase me sinto velho, por exemplo, quando estou na fila do banco junto com idosos, mas logo me percebo diferente. Enquanto a quase totalidade dos presentes fica falando mal do governo ou sobre doenças e respectivos remédios, estou lá com meu livro aproveitando o tempo. Chego a sentir-me um “ET”.

JM – A morte...
Waldir – A morte também não me espanta. Desde moleque, quando era coroinha, acompanhava os ritos da “extrema-unção” e vi muito velhinhos em estado final. Na época, só duas mortes me incomodaram, a de um primo pouco mais novo que eu e de outro garoto da mesma idade minha. Aliás, até já sonhei que morri em luta contra um governo, atingido por uma bala de fuzil. Foi muito tranquilo. 


“Não tenho certeza, mas acho que estou me preparando para viver bastante. Além dos cuidados médicos, faço regularmente minhas caminhadas diárias e, o principal, sou um consumidor imbatível de frutas, em jejum, seis, sete e mais”
Waldir Bíscaro

DIA A DIA

Waldir levanta às sete horas, faz 15 minutos de exercícios, em uma modalidade do tipo “antiginástica”, come frutas e toma um cafezinho para engolir algumas vitaminas. Pega o metrô para chegar a sua sala de trabalho. Abre os e-mails e responde a maioria. Se sobra tempo, escreve... Semanalmente tem um encontro muito importante com um grupo de pessoas que estudam e debatem temas referentes à maturidade e envelhecimento. Isso há quase 10 anos. Deve a esse grupo – IDEAC [www.ideac.com.br] – sua visão mais tranquila do envelhecimento.

JM – O que você pensa da rotina?
Waldir – Desde que não seja uma fórmula “engessante”, a rotina facilita bem o andamento das atividades. Um mínimo de rotina se torna mesmo necessário.

CRÔNICAS

JM – Como começou o seu gosto pela escrita de crônicas?
Waldir Bíscaro – sempre gostei de escrever, mas apenas temas acadêmicos ou profissionais. Ao fazer a Oficina de Memória Autobiográfica, com a Profa. Vera Brandão, é que descobri o gosto por temas mais livres ainda que meio autobiográficos e, a partir de 2006, comecei a enviar para os amigos, ex-alunos e colegas o que apelidei de “croniquinhas”. A receptividade, no meu entender, foi boa e fui estimulado a continuar. O Jornal Maturidades me pediu para publicar algumas delas e me senti feliz em colaborar.

JM – Qual o objetivo das suas crônicas?
Waldir – Para mim era apenas uma diversão que repartia com pessoas queridas e por ser quase sempre de cunho autobiográfico, acabava me dando a oportunidade de me fazer conhecer melhor. Ainda que, até hoje, tenha divulgado cerca de 60 crônicas, tenho já escritas cerca de 80, que aos poucos vão sendo enviadas aos meus conhecidos.

JM – Pretende publicá-las?
Waldir – Já tenho oferta de uma editora de Brasília, mas ainda resisto à ideia. Enquanto escrevo para leitores que me conhecem, me sinto mais à vontade. A transformação em livro vai exigir alguma revisão e com isso quebrar a espontaneidade. Sei lá...

JM – Já escreveu algum livro?
Waldir – Já escrevi um livro: “Maturidade e Poder Pessoal” que saiu pela Brasiliense. Escrevi também capítulos em livros coletivos. Desde meus 14 anos tinha como objetivo de vida ser escritor, mas a vida passa a exigir da gente coisas mais concretas e meu envolvimento no trabalho especialmente em cargos gerenciais não dava espaço para atividades mais criativas.

REFLEXÃO

JM – Como é o Waldir Bíscaro?
Waldir – Essa é difícil. É um cara de fácil trato, pelo menos eu acho. Sou muito econômico, não sou consumista. Dou muita importância a questões políticas e fico uma fera quando algum conhecido me vem com preconceitos nesse assunto. Adoro a natureza, acho que tenho alma de camponês. Minha árvore preferida é a pitangueira, é generosa e os sabiás se divertem quando ela frutifica; não fica uma pitanga para contar história.

JM – Mudaria alguma coisa?
Waldir – Com certeza, alguma coisa seria mudada, mas não sei bem qual... preciso pensar...

JM – Teria sido diferente se...
Waldir – Como tudo que me aconteceu, mesmo alguns solavancos especialmente na vida profissional, sempre me levou para situações de melhor nível, fico com a impressão de que as mudanças que teriam de ocorrer já se esgotaram. Por conta de minhas posições políticas, aprendi a andar no fio da navalha. Não fiquei rico nem famoso, mas mantenho minha tranquilidade e, o mais importante, tenho tempo bastante para me dedicar aos amigos e às pessoas queridas.

DICA DO WALDIR

Em 2006 quando fazia o curso sobre “Educação e Envelhecimento”, no COGEAE, Waldir Bíscaro escreveu um texto no qual falava sobre a “construção da maturidade na 3ª idade”, ao final propunha algumas metas essenciais para o bem-envelhecer:

  • Manter interesse permanente pelo próprio desenvolvimento
  • Aprofundar o autoconhecimento
  • Nunca descuidar do corpo
  • Buscar novos interesses
  • Renovar e ampliar o campo de relacionamentos 
  • Criar novos projetos de vida e de trabalho e 
  • Pensar anarquicamente.     

À primeira vista, esta última proposta mais parece uma heresia. No entanto, Waldir explicou que nada mais saudável do que sair do roteiro traçado desde sempre para enquadrar as pessoas e subjugar sua forma de pensar. “Pensar anarquicamente é fugir do lugar comum, é desgarrar-se do rebanho em que fomos criados, é colocar em dúvida todas as verdades que serviram até hoje para comandar nosso pensamento”, esclareceu. “Todos sabemos o quanto as pessoas mais idosas, talvez por uma questão de segurança, se apegam a determinadas ideias, sem ter sobre elas uma visão mais crítica. Em política, em costumes, em artes, em educação, o velho é sempre apontado como o mais conservador, quando não, o mais reacionário”. Para ele, o pensar anarquicamente funciona assim como exercício de “dúvida metódica” – o que não faz mal para ninguém, muito pelo contrário, atua como massagem nos neurônios. 

“Um conselho que dou para quem lê minhas crônicas: escrevam crônicas. Aliás, quando comecei a mandar crônicas para meus amigos o fiz com a intenção de estimulá-los a também escrever e trocar comigo. Alguns até começaram. De todos os gêneros literários, achei a crônica o mais democrático”
Waldir Bíscaro  

Contato do Waldir Bíscaro - awbiscaro@uol.com.br

Galeria de Fotos:








Reportagem: Célia Gennari e Ignez Ribeiro
Fotos: Célia Gennari

Legenda: Nas fotos Waldir Bíscaro está ao lado de integrantes do grupo de estudos do IDEAC, para conhecê-los acesse: www.ideac.com.br




 
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