AO PAI QUE NÃO TIVE*
Por Suzana da Cunha Lima
Pai, fostes tão cedo...
Não chegaste sequer a ver tua menina
Ir-se tornando moça
E desabrochar como mulher
Não me conheceste carregando no ventre
Um neto teu, um varão, como querias
E como avô, meu pai, como serias?
Pois hoje tens muitos netos,
Mas foi-te roubada a alegria
De vê-los nascer e crescer
Como a mim roubaram o direito de ter um pai
Ainda tão criança, ainda a florescer...
Como faz falta um pai...
Eu me tornei órfã muito cedo
E muito cedo aprendi como machuca
Uma saudade que não se compreende
Um vazio que nunca se preenche
Uma risada que nunca mais se escuta
Perdi aqueles braços fortes
Que me colocavam lá no alto
Tão alto que eu me sentia um gigante
Naquele lugar, onde o mal não nos alcança
Onde só existem certezas e esperanças
Aquele lugar onde apenas os pais
Conseguem colocar seus filhos
*Poesia publicada no livro "Sempre 20 anos" (2014) da escritora
|