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A GRANDE ESQUECIDA

Todos nós envelhecemos. Esta é a lei da vida. No entanto, apenas os que já passaram da meia idade e estão na fase da lua no seu quarto minguante têm mais consciência do seu processo de envelhecimento. A falta de consciência de muitos – e são legiões – não permite perceber que essa fase da vida, afora os achaques normais do corpo, pode e deveria ser uma etapa da vida muito rica em crescimento espiritual. Isso porque enquanto por um lado o corpo decai e se deteriora, por outro, do ponto de vista psico-espiritual, os que "envelhecem", ingressam numa fase de grande riqueza, onde arquétipos próprios da terceira idade emergem do inconsciente pessoal e coletivo, transformando a vida de homens e mulheres. É preciso, pois, estar consciente para perceber as mudanças que se operam em nossas vidas.

O corpo inexoravelmente dá os sinais que nos fazem dolorosamente sentir que não temos mais 18, 20 ou 30 anos, que já não somos o "carro do ano". Os sinais e sintomas desse estado todos sentimos. Para alguns a perda de um emprego ou mesmo a morte de pessoas amigas nos fazem mergulhar num estado depressivo e, em alguns casos, no desespero. Alguns procuram o psiquiatra que geralmente receita medicamentos ou mesmo o auxílio de um terapeuta ou exercícios físicos. Para outros tais situações podem vir acompanhadas de fracassos no seu relacionamento amoroso. A vida perde seu sentido, bate uma tristeza e, muitas vezes a depressão se instala. Estamos envelhecendo e caminhamos para o fim. Sim, fim de uma etapa da vida e início de uma outra. Esse fim não significa a morte derradeira, mas o fim de um processo e o prelúdio, como numa sinfonia, de algo mais importante em nossas vidas.

Enquanto o mundo seca à nossa volta, confusos, só podemos lamentar. Por estranhos lugares vaga a nossa mente enquanto procuramos respostas... Para alguns a saída é a malhação do corpo. Os cardiologistas estão sempre recomendando atividades físicas. As grandes cidades estão cheias de academias, geralmente sempre repletas de jovens. Além da inegável eficácia para o bem-estar físico e mental, nem sempre a malhação do corpo é acompanhada da indispensável malhação psico-espiritual. Aqui nem sempre a maioria está aberta para os também inegáveis benefícios do cultivo da alma e do espírito.

Os que malham o corpo o fazem tentando escapar da velhice, esquecendo-se, por sua vez, que o ser humano não é apenas um sistema físico, mas uma totalidade constituída de corpo-alma-espírito. Creio que todos nós não discutimos nem colocamos em dúvida o valor da higiene pessoal, da necessidade do banho diário, da escovação dos dentes, da atividade física; mas nem todos têm consciência do valor e da importância de cuidarmos de nossa alma. Será que sabemos que temos uma alma? Cuidamos de nossa alma? Para o grande psiquiatra e psicólogo C.G.Jung, a alma é uma instância curadora que age em nós ocultamente, assumindo uma direção de nossa vida quando nos falha o eu consciente. Sabemos, por um lado, que se não alimentarmos o corpo, este pode adoecer e até mesmo morrer.

O mesmo ocorre com nossa alma. A alma pode adoecer e até mesmo morrer. Podemos encontrar pessoas com o corpo malhado, sarado, e, infelizmente sem alma ou com a alma doente. Urge, pois, que nos conscientizemos que a nossa alma se relaciona com a nossa vida interior, à consciência interior de que somos mais que o nosso corpo. A nossa alma – psyche para os gregos – apesar dos cientistas terem horror a essa palavra, nos eleva acima dos problemas do cotidiano e nos permite um refúgio quando os problemas da vida nos sufocam. Podemos dialogar com a nossa alma, nos refugiarmos nela. A nossa alma é a instância mais íntima de nós mesmos, do mais profundo e do mais precioso que temos. O fato é que muitos de nós se esquecem daqueles que possuem uma alma.

Esse esquecimento não nos faz bem. E para que esse esquecimento não aprofunde o senso de direção de nossas vidas e também aumente o nosso sofrimento, a nossa angústia e o nosso desespero, é necessário se relacionar com a nossa alma não apenas com o auxílio da filosofia, da psicologia profunda, da literatura, mas da indispensável colaboração de uma sadia espiritualidade. Importante nessa busca da alma é não vê-la em oposição ao corpo, mas como dimensão integrante da pessoa humana. Nessa busca da alma sairemos mais engrandecidos e mais ricos.

Na precisa medida em que a procurarmos e, quando a encontrarmos, como na cena do Evangelho, quando quem encontra uma pérola preciosa, vende tudo o que possui para adquirí-la, seremos mais aquilo que somos. Iniciaremos o processo que constitui a razão do nosso ser e do nosso viver: o nosso processo de individuação. Então a nossa alma não será mais a grande esquecida, mas, ao contrario, a nossa grande amiga, o local por excelência, onde a própria divindade vem habitar.

Pe. Antonio Pereira Neto
pereira.neto@uol.com.br


 
 
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