Reflexões sobre Moral, Ética e Saúde.
Muitos consideram Moral e Ética como sinônimos. Se, entretanto, estabelecermos uma distinção entre os dois conceitos, teremos um salto de qualidade. O leitor irá compreender, logo, que distinguir Ética e Moral é, em si, uma postura ética.
O termo Moral (MOR/MORES) vem do latim e é empregado como sinônimo de regras rígidas, que surgiram com as conexões estabelecidas entre Filosofia e Religião, na Idade Média.
A Moral, como idéia de normas/regras também é contemplada no Direito, na legalidade. Ainda que, por vezes, a legalidade seja baseada em princípios éticos, muitas vezes está a serviço da dominação exercida por um grupo de poder, para a manutenção de privilégios.
Enfim, a Igreja e as leis respondem pela moral oficial. A Moral pode ser resumida numa expressão: EU TENHO QUE, ainda que em momento algum eu tenha parado para pensar POR QUÊ? E eu saio pela vida, agindo mecanicamente, sem questionamento nem consciência, achando que as coisas são assim mesmo...
A Moral está entranhada na mentalidade da nossa cultura (e também de outras, cada um com a sua) e faz com que coisas absurdas, perante um olhar mais atento, sejam consideradas normais.
Além da moral oficial, a cultura de uma sociedade é impregnada por uma moral oficiosa. São inúmeros os exemplos de todo tipo de propina, suborno, sonegação, espertezas, etc.
Podemos ainda colocar na moral vigente questões de dimensão maior, como a destruição da natureza, o consumismo exacerbado (o poderoso papel da mídia, especialmente a televisão, ditando padrões!), a falta de cidadania, etc.
A Moral nos separa, criando todo tipo de indivíduos donos da verdade, que discriminam os outros grupos, sendo fonte de conflitos, sejam os de natureza religiosa, racial, de gênero (questão da mulher, dos homossexuais), das torcidas enlouquecidas do futebol.
A palavra Ética tem origem na cultura grega, aparecendo em textos de diferentes épocas, com significados diferentes: ÊTHOS (com épsilon) - caráter, hábito, natureza, índole, costume; ETHOS (com eta) - morada, habitat, toca, refúgio, estábulo.
A Ética é o estudo sistemático sobre o modo que devemos agir e por isso também é chamada de Filosofia Moral. É como se déssemos um passo para trás e olhássemos o mundo em que vivemos, com questionamento, perguntando se não poderia ser diferente. É importante pensarmos no mundo em que gostaríamos de viver e viver desta forma.
Ética é algo que vem de dentro, da alma, em contraposição à Moral, que vem de fora. É diferente eu não matar, porque sinto e penso que o ser humano não mata ser humano e eu não matar porque é pecado ou porque posso ser preso.
A Ética implica no exercício de valores: respeito, cooperação, solidariedade, humildade, liberdade, responsabilidade, tolerância, etc. Portanto, ela nos une.
Ser ético é uma questão de vontade. Por um lado, não tem, em princípio, nenhuma recompensa a não ser a de ser ético. De outro, exige um esforço em converter as melhores disposições em hábitos. É um trabalho constante de autoconstrução.
Gosto muito do pensamento de Leonardo Boff, que diz que Ethos é a morada do ser humano: ser ético é cuidar da casa – de nós mesmos, tanto do corpo quanto da alma; da casa física; da relação com as pessoas, no nível doméstico e social; cuidar da cidade, cuidar do país, cuidar do planeta Terra (nossa casa comum).
Dessa forma, a Ética promove Saúde. Se cuidarmos de todas as nossas moradas, ou seja, de nós mesmos (corpo e alma), das nossas relações, da sociedade, do planeta, estaremos promovendo bem-estar, e bem-estar é saúde. Não tem cabimento pensar na saúde da parte, sem levar em conta a saúde do todo, assim como não faz sentido pensar que somos passivos, em relação à saúde. Precisamos ser ativos em relação a nós mesmos, contribuir de alguma forma para o bem-estar do outro, da sociedade, do planeta, para alcançarmos um estado de bem-estar genuíno, que podemos chamar de saúde... ou felicidade...
Professora Lygia Maria Cerviño Lopez
lygialopez@hotmail.com
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