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Pequena Grande Mulher

NÃO MAIS


Fim do dia.

Ela propõe um cineminha.

Ele concorda.

Que bom, pensa ela – sente como se aquela saída fosse o primeiro encontro deles, há 49 anos.

Ainda tem viva, muito clara, a imagem daquele dia.

Até da roupa que vestia ela se recorda.

Sobe correndo as escadas.

Vai se arrumar.

Toma um banho, tipo banho de spa, pensa...

Daqueles bem demorados, com sabonete líquido, hidratante, esfoliante.

Aquele que deixa a pele macia.

Coloca o perfume preferido dele,

Fleur de Rocaille.

Nem precisava de tango e nem de Al Pacino,

bastava estar com ele.

Se maquia.

Veste um vestido há muito esquecido no armário,

Calça um par de sandálias de salto alto, também há muito esquecido.

Ele chega.

- “Oi!”

- “Oi!”

Demora um pouco para vê-la, vê-la mesmo e diz:

- “Ah! É mesmo – nós vamos sair”.

Liga a TV.

- “Um documentário interessante”, diz ele. “É rápido. É curto”.

Como esperaria mesmo, decide adiantar as tarefas domésticas da manhã seguinte.

Vai à padaria.

Na fila, sente-se observada.

Desconcerta-se, mas se interessa.

Será mesmo?

Vira para um lado, para o outro, sempre disfarçadamente.

Quer se certificar se era verdadeira aquela sensação.

Até que seus olhos dão “de cara” com os olhos dele.

Um homem não velho, não jovem, nem bonito era, porém charmoso, elegante.

Um olhar intenso.

Sente um frio repentino.

Um calor abrasa seu rosto.

Adrenalina à mil.

Puxa! Havia se esquecido destas sensações...

As pernas tremem,

as batidas do coração se aceleram.

De repente se dá conta que estes sentimentos estão bem latentes dentro dela.

Só estavam escondidos, desmaiados, dentro de seu baú interior.

Sente-se viva,

mulher de verdade, inteira.

Tudo foi rápido demais. Mas como valeu, como marcou!

Chega em casa.

O homem fala:

- “Vamos?”

- “Não mais. Perdi a vontade”.

Nada interferirá naquele momento tão mágico, só dela...

Uma coisa ela sabe,

nunca mais irá à padaria, ao supermercado, à farmácia, ao sapateiro, a qualquer lugar sem este poder que ela agora sabe que tem, que existe dentro dela.

O poder da sedução.

Será mulher inteira todos os dias.



Por Sueli Pastore

 

 
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* Os artigos publicados no jornal Maturidades são de inteira responsabilidade dos autores
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