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Pequena Grande Mulher

PEQUENA GRANDE MULHER


“É nos pequenos frascos que se encontram os grandes perfumes”.

Este dito popular, a princípio, parece uma coisa tola, mas para mim tem um grande significado.

Vejamos:

Rosinha ou gata, cujo nome verdadeiro é Rosária, era assim chamada por Eugênio, porque ele tinha uma gata e uma namorada ambas de olhos verdes, e como a gata era chamada de Rosinha, a namorada, que ficou com o apelido de gata.

Moça de estatura pequena, gestos graciosos, sorriso alegre, grandes olhos verdes emoldurados por longos cílios negros, apaixonou-se por um operário niquelador, que conhecera todo sujo de graxa, enquanto descansava no horário de almoço.

Moço pobre, filho de imigrantes italianos, quase analfabetos, Eugênio – apesar de ter um defeito, pois aos 13 anos, polindo a alça de um cabide, perfurou um de seus lindos olhos negros, também emoldurados por longos cílios – era um belo homem, forte em todos os sentidos, vigoroso, porte atlético, sério e pouco falante.

Ao ver Rosinha, que se dirigia ao seu local de trabalho (oficina de costura), encantou-se com sua graciosidade. E todos os dias, na mesma hora, ficava a sua espera.

Certo dia tomou coragem e dirigindo-se a ela disse: ”Eu vou namorar e casar com você”.

Isso ocorreu!!! Não sem sofrimento, pois que, naquela época, as pessoas eram muito preconceituosas e sua família não podia admitir que uma moça bonita, elegante, bem vestida e com bons pretendentes, pudesse se apaixonar por um rapaz que se escondia atrás de óculos escuros, para que ela não tivesse que dar explicações aos parentes.

Depois de casados foram morar em uma casa de tábuas junto com os pais dele, outra vergonha para a família dela que nunca iam visitá-los e nem contavam aos outros a situação da filha, que morava com a sogra velhinha. Com sua jovialidade, Rosinha conquistou o coração da sogra – nona Maria, mulher analfabeta, mas cheia de sabedoria adquirida com os sofrimentos da vida, amou e foi muito amada por Rosinha.

Apesar de tudo, Rosinha e Eugênio, apaixonados, foram muito felizes, principalmente por ela ter uma alma compreensiva, caridosa e desinteressada de bens materiais, mas com grande vontade de vencer e conseguir oferecer aos filhos tudo que não pudera ter. Com muito trabalho, força e determinação conseguiram a realização de todos os sonhos. Venceu o verdadeiro amor, e com ele venceram todas as dificuldades da vida. Lutaram, instruíram-se, trabalharam arduamente e realizaram seus sonhos, dando boas escolas, bons exemplos e muito amor aos filhos.

Mesmo atingindo as glórias e realizações, Rosinha continuou sendo sempre a mesma costureirinha graciosa, simpática, elegante mesmo com alguns quilinhos a mais, alegre e cheia de histórias bem humoradas com psicologia inata que só as pessoas ricas interiormente podem ter. Possui a humildade dos grandes e a bondade dos iluminados, a retidão de caráter e a justiça dos sábios, a inteligência dos privilegiados. O grande amor que ainda guarda de seu sempre presente Eugênio, fazem com que esta pequenina mulher de 98 anos seja a mais compreensiva e menos incômoda mãe-avó-bisavó que Deus colocou neste mundo.

Feliz eu que posso sentir este delicioso perfume contido neste pequeno frasco, cujo nome é minha mãe.


Por Eunice Manfredi Palazzi

 

 
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