MENSAGEM DE 100 ANOS
Por Jayme Kuperman*
Comecei na PUC em 1997. Foi uma “grande coisa” para mim: os coordenadores, os professores, os grandes amigos que a gente faz aqui, principalmente as amigas.
A primeira aula foi com a doutora Alda Ribeiro e na sala tinham 52 mulheres. Pensei: “Vim errado!” Fiquei olhando, fiquei branco, preto, não sabia como é que cheguei lá...
Disse para a doutora Alda: “Como é o negócio aqui? Só tem mulheres, não tem homem?” Ela respondeu: “Você está bem servido”.
No dia seguinte dois amigos se encontraram e um deles falou:
-Você sabe minha sogra não vai me encher mais, ela entrou na PUC, e você calcula, na sala dela tem 52 mulheres e só um homem.
O outro disse:
-É meu pai!
Minha vida é dividida em duas partes: a primeira de 1915 a 1945 e a segunda de 1946 até agora. Eu passei por muitas vidas. Felizmente, depois que me aposentei e entrei aqui, para mim isso é terapia, mas terapia mesmo.
Não sei se o pessoal sabe que eu tenho um pequeno museu em casa, onde também trabalho fazendo caixas. Fui comprar uma caixa que custava R$ 12,00. Hoje pago R$ 2,00 cada uma. Faço diversas coisas pra tentar “economizar”.
Agora o seguinte, pra todos que nasceram antes de 1945:
Nós nascemos antes da televisão, antes da penicilina, da vacina Sabin, antes da comida congelada, das fraldas descartáveis, do xerox, do plástico, das lentes de contato, da pílula e do Viagra.
Nós nascemos antes do radar, dos cartões de crédito, fusão de átomos, raio laser e canetas esferográficas.
Nós nascemos antes das máquinas de lavar pratos, secadoras de roupas, cobertores elétricos, ar condicionado e antes do homem chegar à lua.
Nós casávamos primeiro e só depois acordávamos juntos... Gente estranha, não?
Nós nascemos antes dos direitos dos gays, da mulher que trabalha dentro e fora de casa, da produção independente de filhos, dos berçários, das terapias de grupo, dos spas e dos flats.
Nós nunca tínhamos ouvido falar em fita cassete, vídeo cassete, DVD, máquina de escrever elétrica, vídeo game, computador, Danoninho e rapazes com brinco.
Nos nossos dias fumava-se cigarro, erva era para fazer chá, coca era refrigerante e pó era sujeira. Embalo era como se fazia crianças dormirem, lambada era chicotada, fio dental servia para higiene bucal e malhar era coisa de ferreiro.
Nós nos contentávamos com que tínhamos. Fomos a última geração tão boba a ponto de se pensar que se precisava casar, que precisava de um marido para ter um bebê.
É de espantar que sejamos tão confiantes, tamanha loucura dessas gerações.
Nós vivíamos, sim! Vivíamos e continuamos a viver... Apesar das próximas invenções.
E para terminar, um agradecimento.
OBRIGADO, SENHOR
Por Michel Quoist
Obrigado, Senhor,
pelos meus braços perfeitos,
quando há tantos mutilados...
Pelos meus olhos perfeitos,
quando há tantos sem luz...
Pela minha voz que canta,
quando tantas emudeceram...
Pelas minhas mãos que trabalham,
quando tantas mendigam...
É maravilhoso, Senhor,
ter um lar para voltar,
quando há tanta gente
que não tem para onde ir...
É maravilhoso, Senhor,
amar, sorrir, sonhar,
quando há tantos que choram,
que se odeiam,
que se revolvem em pesadelos,
e que morrem antes de nascer...
E sobretudo,
é maravilhoso, Senhor,
ter tão pouco a pedir
e tanto para agradecer...
*Jayme Kuperman é aluno da UAM-PUC/SP e completou 100 anos de vida no dia 21 de março deste ano. O discurso foi feito após homenagem recebida em março na aula inaugural do curso da UAM.
Jayme foi personagem da matéria intitulada “99 ANOS DE HISTÓRIAS CHEIAS DE ENERGIA E AMOR PELA VIDA” da seção Gente Notável, edição 57.
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:
http://www.pucsp.br/maturidades/gente_notavel/gente_notavel_57.html
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