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SONIA FUENTES: ESTUDOS SOBRE ENVELHECIMENTO PROPORCIONAM CRIAÇÃO DE OFICINAS

Sonia Fuentes, psicóloga, que com a vida e com a chegada da fase do envelhecimento, foi buscar respostas para si e encontrou um mundo de idosos cheios de dúvidas e precisando interagir.


Jornal Maturidades – "As muitas faces do cuidar de si mesmo", o que seriam as muitas faces? Ou quais seriam?

Sonia Fuentes – Quando a gente se refere ao ser humano e ao idoso em especial, devemos ter um olhar abrangente, este olhar seriam as muitas faces. É preciso olhar todas as facetas da vida para compreendê-la. Somos seres humanos, temos corpo, esta é a faceta biológica. Temos uma psique, uma alma, esta seria a faceta emocional, a psicológica. Moramos, habitamos num planeta X, esta é a faceta referente ao nosso meio ambiente. Necessitamos nos relacionar com outros, é preciso socializar, esta é nossa faceta social. Precisamos de dinheiro para sobreviver, faceta monetária/ material. Convivemos com desejos, anseios, angústias, são nossas facetas subjetivas. Enfim, nos relacionamos com todos os aspectos de nossa vida biopsicossocialmente e espiritualmente falando.Tudo é importante e tudo está interagindo a todo instante. Portanto, cuidar de uma face, de um aspecto é importante. Mas este entrelaçamento também e importante e necessário. Não vivemos só corpo. Não somos divididos em partes, mas vivemos em constante interação com todos estes aspectos; biológico, psicológico, ambiental, social e espiritual.

JM – Quais as dificuldades de se cuidar de si mesmo?

Sonia – Uma das maiores dificuldades que vejo nos envelhescentes atualmente é querer se enquadrar num determinado modelo. Um modelo de saúde perfeita, por exemplo, que é praticamente impossível. É como investir num só segmento da vida. No caso, a saúde perfeita, o corpo perfeito é frustrante, pois é impossível. A não ser que congelemos nosso corpo, mas daí é morte. E a vida traz essa movimentação e desgaste também. A dinâmica da vida traz mudanças a todo momento. É preciso vislumbrar as mudanças, aceitando-as, caso contrário, o envelhecer vai trazer muito sofrimento.

JM – Quais são as abordagens utilizadas na oficina que oferece aos alunos da UAM – Universidade Aberta à Maturidade da PUC/SP – "As muitas faces do cuidar de si mesmo"?

Sonia – Primeiramente contei sobre minha tese de mestrado, motivos interesses e resultados. Mostrei os filmes das entrevistas com os profissionais entrevistados – médicos, assistente social, jornalista, psicóloga e administrador e, na sequência, discutíamos o conteúdo das entrevistas. Utilizei trabalhos com os cinco sentidos, técnicas de relaxamento e discussão de filmes.

JM – Qual a receptividade? Perguntas mais comuns? Indagações?

Sonia – A receptividade foi boa. Gostaram muito de conhecer os profissionais e prestavam muita atenção nas entrevistas. Também apreciaram as Oficinas e os trabalhos com os cinco sentidos.

JM – Qual foi o tema do seu mestrado e qual o motivo da escolha?

Sônia – O interesse pelo mestrado em Gerontologia surgiu a partir de meu próprio interesse pelo envelhecimento. A partir do momento que percebi que eu estava envelhecendo. Daí me questionava; e agora? O que posso fazer para viver com mais qualidade e bem a minha velhice? Foi um interesse inicial bem particular. Busquei pessoas de renome no ramo da Geriatria e Gerontologia para entrevistar. Queria as respostas. Mas com o passar do tempo percebi que não há uma cartilha, uma resposta pronta. Há sim a subjetividade de cada um. Cada pessoa vai envelhecer 90% conforme viveu. Se o indivíduo sempre se cuidou, e preocupou-se com sua saúde, a tendência é que continue assim. Mas, por outro lado, até os especialistas e doutores não estão encontrando tempo para "cuidar de si" e vão protelando e postergando, na espera de poder tomar a rédea do "cuidar de si" depois da aposentadoria. Mas nem sempre é possível.

JM – Me fale de você, do seu momento, da sua idade e dos seus projetos?

Sonia – Tenho 55 anos, geminiana, psicóloga, com especialização em Cinesiologia, Medicina Psicossomática, Geriatria e Gerontologia, mestre em Gerontologia e Doutoranda em Psicologia Clínica. Sou uma pessoa que dá muita importância para a saúde, mas sem exageros. Não fico sem um chocolate de vez em sempre. Faço muitos esportes: corro, nado, ando de bicicleta, jogo tênis quando posso e adoro caminhar. Mas não faço por obrigação, faço por puro prazer, apesar de saber que esta continuidade tem me beneficiado muito. Também adoro ler, ir ao cinema, teatro e especialmente viajar. Conhecer outros países e cidades é algo que para mim que não tem preço, é alimento para a alma. Meu projeto atual é desenvolver e criar novas oficinas de criatividade para idosos com formatos originais. Tenho desenvolvido trabalhos com sucata. Além de não desperdiçar materiais, acabo usando a imaginação e a criatividade de todos os envolvidos. O diferencial nestas oficinas é a tentativa de inclusão dos familiares e funcionários dos idosos nas Instituições de Longa Permanência.

JM – O que lhe encanta na questão do envelhecimento e o que lhe desencanta?

Sonia – O que me encanta é a possibilidade de ser, a cada dia, mais verdadeira. Me permitir ser mais e mais honesta com os outros e comigo mesma. Não desperdiço mais meu tempo com gente que não me faz bem, ou que não tem uma boa sintonia comigo. O que me desencanta: o enfrentamento dos limites e fragilidades. Mas é preciso, assim se valoriza o tempo sem problemas, que às vezes é tão fugaz!

JM – Dar aula para idosos? Por quê?

Sonia – Porque aprender e ensinar é pra toda a vida, até o fim. Ensinar compreende aprender. Idosos têm muita experiência de vida. Têm muitas histórias boas, interessantes e divertidas. Sempre é um grande aprendizado e uma troca com eles.

JM – Quando essa vontade ou essa atividade de dar aula para os mais experientes começou?

Sonia – Quando percebi que podia dividir e compartilhar com eles minhas próprias descobertas e escutar a deles. Também é importante saber escutar. Não gosto da situação de pódio do professor. Ele lá em cima ensinando e os outros mudos, escutando. Quero dividir, trocar e apreciar também. A troca pode ser muito rica.

JM – Atualmente seu doutorado é um projeto de capacitação para funcionários, voluntários e familiares de idosos nas Instituições de Longa Permanência. Por que resolveu desenvolver esse tema? Quais as problemáticas que encontrou? Quais as respostas que procura?

Sonia – Escolhi desenvolver este projeto ao identificar esta lacuna (deficiência) na grande maioria das Instituições de Longa Permanência (ILPIs) que visitei. Existe em São Paulo um número grande de ILPIs, mas nem todas conseguem atender a todas as demandas encontradas nestas casas, principalmente, quando a verba é pequena. A prioridade destas casas são as necessidades básicas do idoso; medicação, alimentação e limpeza. O que não é pouco. É preciso ter um bom contingente de profissionais para dar conta. Que dirá atender as necessidades de entretenimento, exercícios de memória, criatividade e musicalidade? Com paciência e tempo, pode-se ensinar estratégias simples com os funcionários e parceiros (familiares), para aproximar as ILPIs um pouquinho mais de um modelo de casa de família.

JM – Você tem desenvolvido Oficinas diversas na Casa de repouso que está voluntariando, certo? Quais oficinas? O que sente dos idosos (retorno, dificuldades, necessidades)?

Sonia – Tenho não só desenvolvido, mas criado Oficinas originais com muita sucata e brincadeiras diversas. Tenho que me adaptar à realidade que encontro. Na casa que vou semanalmente, a maioria tem graus de demência variados. Mas isto não as impede de participar de quase todas as atividades que proponho. É preciso paciência para escutá-las. Cada qual tem seu ritmo e capacidade própria.

JM – O que aconselha para quem quer desenvolver esse tipo de atividade nesses locais?

Sonia – É preciso paciência com os idosos. Quem não tem que não se atreva. Apesar da lentidão e das dificuldades, de um modo geral, as idosas demonstram muita afetividade e carinho para com aqueles que as acolhem, as abraçam e as escutam. Seus olhares dizem mais que quaisquer palavras que possam não saber mais dizer.

JM – Qual a situação hoje do idoso do seu ponto de vista e como acredita que deveria ou poderia ser?

Sonia – Os idosos de hoje estão sofrendo muito ainda com o preconceito e falta de oportunidades. As aposentadorias são insuficientes. Muitos não encontram trabalho, nem espaço para lazer. As famílias estão mudando. Hoje quase já não existe uma matriarca que fica em casa cuidando de tudo e também dos idosos da família. Existem muitas lacunas, apesar de existirem muitos trabalhos importantes sendo feitos: vilas de moradias, centros de referência e tantos outros arranjos, mas há muito ainda para ser realizado. Só para se ter uma ideia, em Paraisópolis existem 100.000 habitantes, dos quais 10% é idoso. Isto é, em torno de 10.000 idosos ocupam aquele espaço físico, onde não existe um olhar para eles, salvo por duas voluntárias da Associação dos Moradores que semanalmente passeiam com eles, fazem caminhadas regulares, em espaços de campinho de futebol. E é só. Não há ali um Centro de Referência para Idosos. O sonho destas duas almas humanas é criar um Centro de Referência do Idoso. Existem profissionais interessados em viabilizar e trabalhar neste Centro. Eu sou uma delas. Mas não há verba, não há espaço nem tão pouco interesse dos governantes. E o pedido final da querida Juliana, Assistente Social da Associação dos Moradores de Paraisópolis, fica aqui: uma ceia de natal para pelo menos 200 idosos.

Os interessados em fazer doações para a Associação dos Moradores de Paraisópolis, citada pela entrevistada, podem entrar em contato pelo email: juliana@paraisopolis.org

Entrevista: Célia Gennari
csgennari@gmail.com
Colaboração: Ignez Ribeiro
ignisignis@uol.com.br


 
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