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Amigo Irmão

Por Antônio Jordão Netto*

No dia 24 de fevereiro aconteceu, no Tucarena, um dos Auditórios da PUC-SP, a aula inaugural da Universidade Aberta à Maturidade (UAM). É uma ocasião sempre festiva, de encontros e reencontros de alunos, professores e coordenadores do curso, abrindo o ano acadêmico. São momentos de grande alegria, entusiasmo, expectativas para mais um semestre que se inicia.

São os novos que chegam, cheios de curiosidade e ávidos de informações sobre o curso que vão fazer. São os veteranos (principalmente veteranas, em especial dezenas de “meninas”) muitos deles há mais de dez anos frequentando a Universidade e voltando para renovar e reciclar seus conhecimentos e para reencontrarem os colegas de turma, trocando todas as novidades e falando sobre atividades que realizaram após o término das aulas.

Muitos já chegam reclamando do longo tempo que ficam longe do curso, achando, diferentemente dos alunos dos cursos regulares da PUC-SP, que as férias são muito longas... Sinal de que a Universidade Aberta para eles é um lugar especial, ao qual gostam de voltar o mais rápido possível, para aprender e, principalmente, conviver com as pessoas que, mais que colegas, tornaram-se amigos e amigas queridos. Enfim, são momentos muito especiais, belos, sensíveis, gratificantes. Mas, naquele dia, o ambiente estava um pouco diferente.

Permeados com o júbilo havia um sentimento de tristeza, de desalento, de frustração. Junto com a animação, sentia-se um mal disfarçado abatimento. Porque estava faltando alguém naquela festa. Alguém sempre presente nesse evento. Alguém cuja presença representava muito para todos.

Alguém que todos haviam aprendido a respeitar ao longo de 22 anos pelo seu caráter, educação, conhecimento, extrema atenção a tudo e a todos. Alguém cujo trabalho, como um dos Coordenadores do curso, representou uma força e uma competência elogiada em todos os momentos. Alguém que nunca abriu mão da honestidade e dos bons propósitos no trato das coisas do curso e procurou incessantemente oferecer o melhor produto educacional possível. Alguém que teve uma trajetória acadêmica notável, ocupando cargos e posições de alta relevância na PUC-SP e fez da Universidade Aberta o ponto culminante de sua carreira de professor. Ele não estava lá porque ao pedir – sob uma certa pressão, é verdade – aposentadoria do quadro docente da Universidade, não se sentiu à vontade para participar de uma atividade oficial do curso, numa demonstração, mais uma vez, dos seus rígidos princípios éticos.

Não estava lá um querido amigo, colega, companheiro, irmão, que foi o meu grande apoio para fazer o curso crescer e deslanchar, impondo-se diante de toda a comunidade “puquiana” a partir de um projeto pedagógico por mim criado em 1991.

Após mais de duas décadas de convivência, labutas, sacrifícios e vitórias conseguidas frente a tantas dificuldades, obstáculos, incompreensões e limitações, tive de abrir a sessão inaugural sem tê-lo mais uma vez ao meu lado. Senti um imenso vazio, uma lacuna sem tamanho...

Claro que devemos estar preparados para os golpes do destino, para as injustiças, para a falta de reconhecimento para grande parte das coisas que a gente faz na vida, mas foi muito duro de aceitar algo tão cruel, tão iníquo e tão arbitrário como a ausência dessa pessoa, provocada por meio de uma decisão equivocada e lamentável da burocracia institucional.

Que falta você nos fez, que falta você nos faz, que falta você nos fará, querido amigo, colega, companheiro, irmão Fauze Saadi!

Professores Fauze e Jordão ao lado de suas esposas Maria Inês e Elvia

 


* Coordenador da Universidade Aberta à Maturidade da PUC-SP

 

 
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Edição Nº 29
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