A Fragilidade das Relações
Este questionamento faz parte do assunto de muitos consultórios psicológicos hoje em dia.
Vivíamos em uma sociedade mais rígida em questão de valores e normas. Aceitávamos mais facilmente que nem tudo era como desejávamos, e com isso aceitávamos muito mais nossas frustrações, medos e angústias.
O ser humano sempre foi e sempre será um ser sociável, mas por incrível que pareça, até hoje as pessoas não sabem e não conseguem viver em grupos ou comunidades. Aliás, por isso os programas de reality shows são tão vistos e comentados no mundo todo, aquilo que vemos no micro é o que acontece em nosso macro, rua, prédio, trabalho, clube, condomínio. No início tudo são flores e risos, no final brigas, intrigas e difamações. É claro, a culpa sempre é do outro... Todos os erros estão no outro...
No começo de uma relação em geral tendemos a nos mostrar apenas como desejamos, ou seja, nossas qualidades, nosso digamos que lado A (bacana, flexível, amigo, parceiro); com o tempo vamos deixando nosso lado B aparecer e junto com ele nossas manias, intolerâncias, medos, neuroses não resolvidas (que, aliás, todos temos, e por isso devemos conhecer, para cuidar, para melhor vivermos).
O fato aqui é, quase todo mundo sabe disso e já passou por isso, mas muita gente não pensa o porquê isso ocorre. Uma música de Oswaldo Montenegro chamada ‘A Lista’ fala...
“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...”
Isso hoje em dia passou a ser mais uma vez comum, o que infelizmente não deveria ser.
Muitas coisas hoje em dia são descartáveis, mas um ser humano não é, ou pelo menos não deveria ser. O que não significa que temos ou devemos continuar a viver ao lado de pessoas que não nos são mais caras, queridas, amadas e desejadas. Deveríamos sim comunicar de forma clara e assertiva o porquê não desejamos mais manter este vínculo afetivo; afinal ninguém tem bola de cristal para saber, ou apenas, digamos, que é honesto e digno dar uma explicação a quem estava na relação. Afinal, todo relacionamento envolve mais de uma pessoa.
Mas hoje o que vemos infelizmente são anos e anos de amizade, de carinho, de afetos, de cumplicidade jogados literalmente no lixo sem a menor explicação como se este ser humano jamais tivesse existido ou estado a seu lado. Por isso fiz o gancho aqui com a matéria do Comprometimento, pois isto é estar comprometido com a sua vida acima de tudo.
Se você se sentiu magoado, traído, enganado, lesado, é um direito seu não querer continuar este laço afetivo, mas sumir simplesmente sem dizer o motivo, ou dar uma satisfação, como hoje em dia virou normal fazer, isto não leva ninguém ao crescimento, aprimoramento do ser, e muito menos você dá à pessoa em questão, a possibilidade de algo que também está tão em falta hoje em dia, o velho e bom “PERDÃO”.
E por uma questão bem simples, todas as suas relações acabadas desta forma, digamos que se transformam em lixos psíquicos e que um dia você terá que dar conta deles.
Podemos sim mudar de rumo, de caminho, de direção, mas sempre com dignidade, ética pessoal e caráter. Não somos obrigados a manter relacionamentos que não queremos mais, não desejamos. Mas da mesma maneira que temos que ter ética e caráter, para entrar numa relação, devemos ter ética e caráter para sair dela.
Hoje todo mundo tem uma boa justificativa para sumir, abandonar um parente, um amigo, um colega de trabalho, e pior, sem a menor justificativa, ou peso na consciência. Como se este ser humano não valesse nada, nem sequer tivesse existido em sua vida.
Não é abandonando nada que nos tornamos mais inteiros e felizes, mas sim tendo ao longo de nossa vida relações mais puras, nobres e verdadeiras, aceitando que todos nós temos nosso lado A e nosso lado B.
Acredito que amar alguém muitas vezes é realmente saber a hora de falar tchau, mas sumir ou fugir de alguém sem dizer o motivo não é justo nem com sua vida e nem com a vida de quem um dia você chamou de “amigo”.
Se comprometa com a vida e ela se comprometerá com você.
Prof. Luis Picazio Neto
picazio@uol.com.br
Reprodução, com pequena adaptação, do artigo publicado no Blog Macaco Civilizado dia 16/08/2011, no qual o autor mantem a coluna Macaco no Divã.
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