A MÚSICA E A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Por Júlio de Brito Battesti*
O papel da música tem sido muito discutido nos tempos atuais e essa é uma discussão que nos traz opiniões diversas. Para alguns, ela é puramente recreativa, para outros, um veículo de expressão artística. Há aqueles que a consideram uma importante ferramenta na formação das pessoas, porém há, também, os que a consideram dispensável para tanto. Há, ainda, os que estudam o poder que ela tem de curar doenças, pesquisando a atuação dos timbres dos instrumentos e das frequências das notas no corpo e no comportamento humano.
Na verdade, a música é uma manifestação que permeia a vida da maioria das pessoas. Alguns têm uma relação estreita com ela, seja tocando um instrumento, participando de grupos corais ou, ainda, frequentando salas de concerto e shows. Mas mesmo aqueles que não têm o hábito de incluí-la no hall de suas preferências acabam desfrutando dessa arte em algum momento de sua vida, seja no carro, para distrair-se do tráfego intenso dos dias atuais ou mesmo, em casa, para um momento de relaxamento e recreação. Raros são os casos, e alguns podem ser considerados até patológicos, de pessoas insensíveis ou até com aversão à música.
No campo artístico, ela permeia boa parte de suas manifestações, sendo uma ferramenta extremamente útil e quase indispensável para filmes, peças de teatro e programas de TV. Ela está presente, também, nas manifestações religiosas onde é inserida nos cultos em que hinos e mantras são cantados. Faz-se, também, presente no mundo militar com os clarins e trompetes, dando toques diversos para os internos dos quarteis. Outrora, já foi usada, também, em batalhas, a fim de orientar os soldados nas diversas estratégias militares.
Nesse cenário contemporâneo, em que a música se faz tão presente, e onde podemos encontrá-la em uma gama tão grande de manifestações, existem algumas questões importantes a serem levantadas: Como é a música dos dias atuais? Como é a relação homem/música em nossos tempos? Em termos artísticos, a música composta hoje em dia é mais pobre do que as que foram compostas em épocas passadas? A história pode nos ajudar a responder tais perguntas, mas de antemão já deixo claro algo que pode decepcionar alguns: não existe uma resposta definitiva.
Ao estudarmos o desenvolvimento da música ao longo dos tempos, perceberemos que ela tem representado papéis diferentes para a cultura de cada época, pois está intimamente ligada ao contexto social e histórico em que está inserida.
Fase definitiva para o desenvolvimento da música
A música passou por períodos de suma importância para o seu desenvolvimento. Um deles, que para muitos é o mais importante, foi a criação da notação musical. Esse sistema europeu criado dentro da Igreja universalizou o ato de fazer, compor e executar música. Outras civilizações e culturas, como a grega e a chinesa, desenvolveram outros sistemas de notação musical, porém, por serem alguns muito complexos e outros aparentemente sem a mesma eficácia do sistema criado na Igreja europeia, acabaram caindo em desuso.
Alguns estudiosos acreditam que o sistema de notação criado acabou limitando a livre e imaterial manifestação dos sons. Mas o sistema de notação europeu (que é o que nós conhecemos hoje) limitou e simplificou a música ao colocá-la no papel. Por outro lado, ela a tornou acessível, para que todas as culturas do mundo se expressassem por meio dele.
A grafia musical foi criada por uma necessidade religiosa: para que o cantochão pudesse ser aprendido com mais facilidade pelos cantores. Nas abadias e nos mosteiros, os clérigos tentavam encontrar um jeito de fixar no papel o som. Mas como transcrever para papel um fenômeno de tamanha imaterialidade? Foram necessários centenas de anos de pesquisa e esforços para que se começasse a desenvolver a escrita musical. Isso se deu, inicialmente, através dos neumas, sinais colocados acima do texto, que indicavam quando um cantor deveria subir ou descer a entonação ao vocalizá-lo. Funcionava mais como uma lembrança, ainda um tanto imprecisa, da entonação de um canto. Mas foi a partir dessa notação musical, feita pelos escribas para facilitar a assimilação dos cantos, que a grafia musical se desenvolveu, chegando ao que conhecemos hoje quando aprendemos piano, violão ou outro instrumento. Sendo assim, a música europeia se desenvolveu tendo como seu pilar estrutural a notação musical e todas as teorizações e sistemas musicais criados a partir dela.
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Grafia musical séc. X |
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Grafia musical moderna |
Novos rumos da música
Hoje em dia, existem compositores e musicólogos que estudam uma forma de criar uma notação musical que incorpore novos elementos no fazer musical. As partituras contemporâneas trazem novos sinais e informações para o executante, exigindo dele uma exploração mais abrangente dos recursos de seus instrumentos. Será esse fato um despertar para um novo amanhecer musical como foi a criação da notação musical no século X?
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Partitura de Jonh Cage |
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Partitura de Sylvano Bussoti |
*Júlio de Brito Battesti é regente do
Coral da Universidade Aberta à Maturidade – UAM PUC-SP
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