A Indiferença
Por Silas da Cunha Ribeiro*
Ser ou não ser, foi e sempre será decisivo para o sucesso ou insucesso existencial de todo animal, que provido de sistema sensorial, é sempre ativado por estímulos auditivos, visuais ou táteis, e reagem à sua maneira a cada estímulo.
O homem, “homo sapiens”, agrega ainda os estímulos psicológicos que atuarão na sua mente supra cortical, produzindo conhecimento, desenvolvimento intelectual, criação e cultura, que levarão a respostas inteligentes ou não; e os estímulos emocionais, atuantes no hipotálamo, com respostas de amor ou de ódio, que formarão a nossa memória ou de indiferença, isto é, ausência de respostas.
Fisiologicamente, cada estímulo deve produzir uma resposta, uma reação sensorial: sensório motora, sensório fonética, ou sensório emotiva. Uma chapa quente faz-nos puxar, rapidamente, a mão da chapa; uma pergunta qualquer, faz-nos falar, respondendo; e um abraço pode ser respondido com beijo. Até os macacos sabem disso e se exercitam em respostas a todo estímulo.
Conta-se que um jovem louco invadiu um necrotério e começou a levantar todos os cadáveres e a pô-los de pé; vendo que todos caíram concluiu: “falta alguma coisa”... Se o vivo não responde a qualquer estímulo, “falta-lhe alguma coisa”, e assim torna-se apático, sem ação, insensível, indolente, negligente, desinteressado, inconsciente doentio, indiferente, pois a falta de reação a qualquer estímulo é sintoma de doença, somática ou psicológica. Um bloqueio neural impedirá a transmissão sensorial e a resposta motora; assim como um bloqueio psicológico impedirá uma resposta mental inteligente, afetiva ou emocional. Com ambos os bloqueios perderemos a capacidade de julgamento do certo e do errado, do bom e do mal, do conveniente e do inconveniente e, assim, também perderemos a capacidade de reação, que nos levará à indiferença, ao desdém, ao desprezo por tudo, e amorfos diremos: “não estou me lixando por nada”.
É preciso e necessário, para o desenvolvimento psicomotor, para o crescimento da intelectualidade e da emocionalidade, e para a construção da nossa memória, reagirmos a tudo que passa ao nosso redor, ou seja, os estímulos de vida. Não vale nada ser morno nem quente nem frio, apático, insensível, indolente, indiferente.
Agora sim, poderemos entender a carta que o Espírito de Deus mandou ao povo de Laudicea, como relata a Bíblia, no livro do Apocalipse de São João, capítulo 3, versos 15 e 16: “Eu sei das tuas obras, que não és quente nem frio. Oxalá foras frio ou quente, mas como és morno, vomitar-te-ei da minha boca. Podes dizer: sou rico, estou enriquecido, e nada me falta; e não saber que és um desgraçado, um insensível, pobre, cego, e nu”. É assim, segundo o relato de São João, como Deus vê o morno, o apático, o insensível, o indiferente. Infelizmente, é como todos o vemos também, é pobre coitado, que não soma nem subtrai, não cheira nem fede, não esquenta, nem esfria, é morno.
O jeito é ser esperto, estar ligado a todos os estímulos da vida e ser quente para tudo aquilo que é bom e frio para tudo que não dignifica, que não engrandece o humano e sua gente. Esquentando as nossas respostas com reações positivas, de sim ou de não, teremos cor e cheiro, uma identidade, estaremos nos lixando por tudo que acontece, e não seremos vomitados publicamente pelos imperativos da vida, e não ficaremos em cima do muro feito gatos vadios, vendo a banda passar...
Descendo do muro, participaremos da banda que passa e cantaremos com ela sonoras e lindas canções de coisas de amor...
São Paulo, 14 de maio de 2009.
* O Prof. Dr. Silas da Cunha Ribeiro, dentista aposentado, é marido de Ignez Ribeiro, colaboradora do jornal.
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