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EUTONIA E IDOSO:
VIVÊNCIA COMO CONSCIÊNCIA NA MELHOR IDADE


Por Claudete Bandeira Takahashi*

O cotidiano da vida das pessoas cada vez mais exige um ritmo acelerado e estressante. Falta tempo para pensar em como funciona o corpo até mesmo nos movimentos e/ou ações mais simples do dia-a-dia, por exemplo: como sentar frente a uma televisão ou a um computador, como ficar em uma mesma posição na fila do banco ou do supermercado e até mesmo como sentar e levantar da cama.

A Eutonia é uma ferramenta de trabalho facilitadora da aquisição da consciência corporal profunda e da flexibilidade tônica. Ela aprimora também as habilidades específicas, oferecendo condições de manejo físico (equilíbrio das tensões), da emoção e da razão durante as atividades cotidianas do idoso, tornando os movimentos mais harmônicos, articulados e fluentes.

A palavra Eutonia (do grego eu = bom, justo, harmonioso e do latim tônus = tônus, tensão) foi criada em 1957 para expressar a ideia de tonicidade harmoniosamente equilibrada e em constante adaptação com as diversas situações da vida.

Esta prática criativa deve-se à pioneira Gerda Alexander (1908-1994), alemã e fundadora da 1ª Escola de Eutonia (1940) em Copenhague, na Dinamarca. Desde seus primeiros anos de vida, Gerda sempre teve sua saúde acometida e precária. A cada inverno, adoecia com várias gripes e crises reumáticas mesmo com todos os cuidados de sua mãe.

   

Fig. 01: Gerda na infância

Vítima de uma endocardite, devido constantes febres reumáticas, Gerda se viu obrigada a buscar novas formas de se movimentar e manter seu tônus com o mínimo de esforço possível. Descobriu em si mesma, o método de trabalho corporal que ajudou a superar sua doença e recuperar seus movimentos. Aprimorou seu método, pesquisando e ensinando durante toda vida.

Um dos focos principais desta prática corporal é auxiliar no realinhamento ósseo, proporcionando uma reorganização neuromuscular profunda. Estabelece um diálogo com o próprio corpo e contribui para o equilíbrio das emoções, sendo um trabalho psicossomático.

Essas experiências geram um processo dinâmico de profunda transformação interna levando o idoso a uma reflexão sobre seu corpo tanto em movimento quanto em repouso.

   

Fig. 02: Aula de Eutonia com Gerda Alexander

   

Gerda Alexander na terceira idade: sublime e alegre

Mais do que uma prática, a Eutonia é uma proposta (ou filosofia) de vida que busca desenvolver nas pessoas, a consciência não apenas corporal, mas a consciência de si enquanto unidade psicossomática integrada (corpo e mente). É também uma prática corporal terapêutica e criativa, que possibilita às pessoas uma “apropriação” de seu corpo, ensinando-as de uma forma consciente a utilizarem seus reflexos posturais. (Fig. 03)

   

Fig. 03: Vivências de Eutonia em Grupo

A Eutonia promove o restabelecimento da ordem pessoal, podendo compará-la com a arte, pois é uma atividade que cria uma ordem no mundo, ordem essa própria de cada artista que se expressa. Sendo assim, pode-se afirmar que todo ser humano é capaz e tem a necessidade de realizar sua própria obra artística (Vishnivetz, 1995).

REALIZAÇÃO DE VIVÊNCIAS

Um dos objetivos da Eutonia de Gerda Alexander é possibilitar que o homem “chegue a sua própria essência, encoberta pelos hábitos e pelas exigências do meio, atuando de forma criativa e dinâmica” (Alexander, 1983).

Esse objetivo se alcança por meio de exercícios que, no entanto, não devem ser orientados pela imitação de modelos. E, para isso, Gerda criou diversos meios, dentre os quais, podemos aqui citar: a consciência do corpo e o contato consigo mesmo; as variações do tônus; a consciência da mente (estado de presença); a técnica do contato e da irradiação; o contato com o espaço; os “microestiramentos”, os micromovimentos; o compenetrar-se de cada segmento da pele e cada espaço interior do corpo, incluindo os vasos sanguíneos, o tecido muscular e esquelético etc. (Fig. 04)

Fig. 04: Vivências em Eutonia com alunos (diferentes faixas etárias)


O interessante é que para que tudo isso ocorra, a Eutonia recorre a “meios simples”, com os quais num mínimo de esforço alcança-se um máximo de resultado.
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“Por isso, a Eutonia não é absolutamente um método no sentido tradicional, mas uma postura perante os homens e a vida. Os procedimentos específicos que ela oferece, representam hoje em dia um instrumental coerente de propostas de trabalho, que só têm sentido dentro desta perspectiva” (Alexander, 1983).

Gerda Alexander com toda sua sabedoria, simplicidade e afetuosidade nos abre aqui um “leque” de possibilidades de comunicação com nosso mundo interno e externo, para cada vez mais nos aproximarmos da verdadeira essência humana.

As atividades são realizadas com auxílio de objetos (bambus, bolinhas, bexigas, castanhas, sementes, entre outros) que irão proporcionar novas percepções e posicionamento corpóreo, considerando a força da gravidade e a estrutura óssea (esqueleto que o sustenta).

Os materiais utilizados funcionam como estímulo psicotônico que impulsiona, energiza e possibilita a reestruturação corporal, alimentando o potencial criativo e expressivo de cada idoso.

Corroborando com este artigo, seguem alguns depoimentos de alunos de diferentes faixas etárias:

DEPOIMENTOS

“Se não me falha a memória, faço Eutonia há quase sete anos e sinto-me cada vez melhor. Ao fazer os exercícios, procuro ficar bem concentrada nos movimentos, para poder sentir os benefícios que são muitos. Cada exercício é uma sensação diferente. Gosto muito de trabalhar a coluna, pois saio da aula bem melhor. Quando trabalhamos o fêmur, fico com sensação de que cresci e sinto as pernas bem esticadas. Quando trabalhamos a cabeça, sinto-a muito leve e uma sensação muito boa e gostosa. Não posso enumerar todas as sensações, pois ficaria muito longo. Para finalizar, se a Eutonia não fosse útil e boa para nossa saúde e corpo todo eu não estaria na escola até hoje. Muito obrigada!”
(M.M., 82 anos, sexo feminino)

“Com a Eutonia aprendi a me exercitar de maneira tranquila e equilibrada, sem exageros, respeitando meus limites, mas com ótimos resultados. Quando as tensões do dia-a-dia trazem alguma dor ou mal estar, é só praticar alguma das coisas que aprendi nas aulas e consigo logo uma melhora. Tudo isso me traz bem estar físico e mental. A Eutonia não é somente um exercício físico, mas nos leva a mudar a maneira de ver e lidar com os acontecimentos do dia-a-dia!”
(L.O.M., 71 anos, sexo feminino)

“Depois que comecei a fazer Eutonia melhorei em tudo. Aprendi a deitar, a me virar e a me levantar da cama. Isso fez com que eu passasse a dormir melhor. Aprendi a respirar diferente. Tudo foi mudando. Aprendi também a sentar corretamente; corrigi a forma de pisar no chão e, por causa disso, subo e desço escadas com muito mais facilidade. Vejo pessoas mais novas do que eu que não conseguem fazer metade do que faço. E então percebo que é porque estão fazendo tudo aquilo que eu fazia antes: tudo errado! Hoje deito até no chão! E vou melhorar muito mais! Graças a minha querida professora Claudete e à Eutonia!”
(B.P.B., 71 anos, sexo feminino)

“Faço Eutonia há 1 ano... Antes me sentia muito agitada e com muitas dores em todo corpo. Agora me sinto mais calma, relaxada e as dores diminuíram consideravelmente. Gosto muito das aulas, pois me sinto muito bem!”
(M.J.B., 66 anos, sexo feminino)

“Comecei a praticar atividades físicas em 2009 por recomendação médica após tratamento para cervical. Com a Eutonia consegui realizar melhor vários movimentos. Aprendi a entender como os movimentos que realizava no dia-a-dia podiam interferir nas dores que sentia na cervical, ou seja, mudei hábitos e tive uma melhora no abaulamento que diminuiu da Ressonância Magnética em 2007 e 2010. Já com a lombar foi mais complicado... Tudo foi muito rápido e em menos de um mês perdi a mobilidade e a confiança. Em um intervalo de 10 meses duas cirurgias: de artrodese e revisão. Quando fiz a segunda cirurgia já sabia das limitações iniciais. Um mês após a cirurgia, comecei a fazer Eutonia. Nesta fase, a Eutonia me ajudou a ganhar confiança para realizar a minha movimentação sem medo. Reaprendi aos poucos, a colocar a meia, amarrar os sapatos, pegar objetos no chão, levantar da cadeira, andar, sentar melhor nas cadeiras do trabalho e observar melhor o meu corpo e ver o que é prejudicial a ele.”
(M.L.B., 52 anos, sexo feminino)

“Ao fazer a ‘propaganda’ da Eutonia, sempre associo a prática à ‘sintonia de mim comigo mesma’, ao aumento de disposição, ausência absoluta de lesões, bem estar corporal, à prática de alongamento sem dores e conscientização dos movimentos do corpo. Estou felicíssima com a descoberta desta prática e contentíssima por ter uma profissional altamente competente para acompanhar minha evolução.”
(R.T., 49 anos, sexo feminino).

 

*Claudete Bandeira Takahashi é eutonista, bailarina, coreógrafa e profissional de Educação Física. Proprietária e diretora artística da Ekilibrium Studio de Dança, local onde ministra vivências em Eutonia para idosos e outras faixas etárias.


 
 
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