O Poder da Doçura
Por Marilu Martineli
Hoje eu quero falar de uma virtude cada dia mais rara de se ver: a doçura. A doçura é uma força poderosa, tanto é que contagia. Seu poder é irresistível, talvez porque seja a virtude que mais se aproxima do amor. Por isso, ela pode aplacar a cólera, a agressividade e a violência. Somente a doçura tem o dom de demonstrar de modo irrefutável o quanto a crueldade e a brutalidade significam fraqueza de caráter e temperamento egocêntrico e totalitário. Se alguém estiver sendo áspero, grosseiro, enfim, agressivo com outra pessoa, basta que esta olhe o seu agressor nos olhos e pergunte docemente: “Por que você está fazendo isso comigo?” Dificilmente ele continuará a agredi-la: a energia violenta é interrompida pelo chamado da consciência.
Como toda virtude, a doçura é assexuada. Embora seja mais comumente atribuída às mulheres, existem homens cheios de doçura. Na mulher e no homem a doçura aparece como sensibilidade e cuidado carinhoso com o outro, é coragem sem temeridade, disciplina sem dureza, amor generoso que compreende aceita, acolhe e aninha.
A doçura corrige sem constranger, mesmo aqueles portadores de hábitos empedernidos e conceitos rígidos, tendem a se flexibilizar diante da doçura. A doçura é uma virtude que põe o amor e a ternura em movimento. E quando posta em ação se recusa a causar sofrimento a quem quer que seja.
Dentro de nós a doçura produz benignidade para com plantas, animais e pessoas. Ela se apresenta também como respeito, benevolência, atenção e consideração com todas as manifestações de vida. Ser doce é por em prática uma bondade natural, mas não é frouxidão, servilismo, nem impassibilidade frente às injustiças, nem tolice, ou placidez excessiva. A doçura não impede a indignação nem a defesa de direitos.
Aqui cabe uma pergunta: A doçura nos leva à mansidão, à paz interior e à prática da não violência? Acredito que sim, ela demonstra que a não violência não é indiferente ao que não é justo, necessário e verdadeiro, e que pode ser eficaz, como demonstrou Gandhi na luta pela libertação da Índia.
A doçura, o amor, a compaixão e a não violência caminham sempre juntos, mas não desculpam, toleram, nem justificam tudo.
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