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Tecnologias a favor dos idosos

Eric Marcel Viana fez uma pesquisa interessante de mestrado e que, já decidiu, irá continuar no doutorado. Ele procurou respostas para a dificuldade do idoso em se relacionar como usuário com a tecnologia. E, como produto final, criou o protótipo digital “Facilita”, que, como o próprio nome diz, tem por objetivo facilitar a relação entre envelhecimento e aparelhos digitais.

O conteúdo da pesquisa percorreu o caminho das definições de nativo digital, imigrante digital e sotaque tecnológico, traçou paralelos de como a desigualdade tecnológica e a defasagem intergeracional criaram grupos de pessoas que possuem diferentes níveis de interação e entendimentos dos instrumentais tecnológicos contemporâneos e de como esses níveis afetam o convívio das pessoas mais velhas. Tratou, ainda, sobre o processo de envelhecimento e de como os limitantes físicos e problemas sociais levam o idoso a se distanciar dos aparelhos digitais que poderiam lhe trazer maior contato social.

Na sua abordagem inseriu definições sobre interface, usabilidade, design, tecnologias, estruturas e encerrou com novas tecnologias e futuros pontos de evolução do trabalho.

JM Poderia falar um pouco da sua trajetória profissional?
Eric Claro! Tenho 41 anos, sou formado em Design pelo SENAC e Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP. Trabalho com Design desde os 20 anos. Inicialmente, ensinava o uso de programas gráficos para a produção de Design, progredindo para a consultoria in loco e atendimento de clientes, principalmente na área de telecomunicações (Nextel, TIM). Sou pesquisador e cofundador do grupo de pesquisa Comunidata (comunidata.org) por onde, em parceria com minha professora e orientadora Dra. Pollyana Ferrari, tive a oportunidade de escrever capítulos em livros, tratando da temática do idoso e do envelhecimento. Sou também cofundador da Editora Pontobook, especializada em edição e publicação de livros digitais acadêmicos.
Ainda mantenho minha conexão com o mercado de aparelhos móveis e telecomunicações, porém, hoje, sou designer sênior para a Arquidiocese de São Paulo e Fundação São Paulo, atuando dentro da PUC-SP, mas atendendo também as demais unidades integradas como o Centro Universitário Assunção (UNIFAI), Hospital Santa Lucinda, Colégio Luiza de Marillac, Colégio Lumén Vitae e Derdic.

JM - O que o fez se interessar pela faixa etária dos idosos?
Eric - Um grande fato é que todos nós iremos envelhecer, outro é que o mundo todo está envelhecendo. Até 2030 o Brasil vai ser um país de maioria idosa (segundo IBGE) e até 2050 teremos uma inversão no quadro de número de nascimentos X número de pessoas consideradas idosas (segundo relatório da ONU).
Pouca atenção é dada ao idoso em todos os aspectos da vida social, inclusive como consumidor. Isso deverá ser um grande problema em busca de solução pelos laboratórios das empresas de eletrônicos e telecomunicações em um futuro que não é distante e, como pudemos perceber pelas informações acima, é sabido e bem datado.
Me interessei justamente por perceber que é possível realizar a aplicação prática do Design (meu campo de estudo) na melhoria do uso de aparelhos que vão estar nas mãos desses idosos e que ainda não foram pensados para tal público.

JM - A sua pesquisa de campo abrangeu quais nichos, de quais locais, por quê?
Eric - Minha pesquisa envolveu o uso de aparelhos como celulares e smartphones por idosos. Como o uso de tais equipamentos é bastante diluído em nossa sociedade não houve um local exato. Como os smartphones são os “computadores” mais acessíveis e utilizados e por onde a grande maioria das interações sociais e comerciais é realizada nos dias de hoje, ficou claro qual o tipo de eletrônico deveria ser analisado para apresentar melhorias ao usuário idoso. É importante expandir o conceito de computador para além do PC com monitor, teclado e mouse e dos notebooks, pois os celulares de hoje possuem capacidades técnicas bem além de vários modelos de computadores, agregando a essa capacidade a mobilidade extrema e a conexão permanente à Internet.

JM - Qual sua relação, dia a dia, com pessoas da terceira idade?
Eric - No momento, no hiato entre o mestrado e o doutorado, tenho vivenciado experiências apenas através da relação com professores e professoras que nos procuram na PUC-SP, bem como na ONG Media Lab São Paulo da qual participo. Nessa ONG houve a recente criação de um núcleo de estudo da terceira idade que está gerando temas para pesquisas científicas.

JM - O que é o Media Lab São Paulo?
Eric - O Media Lab São Paulo surgiu em 2013 como uma iniciativa de professores, pesquisadores e profissionais liberais que percebiam a necessidade de desenvolver projetos sociais e culturais que integrassem universidade, sociedade civil, poder público e iniciativa privada, sempre focados na melhoria das condições de vida nas cidades. Nossos projetos têm como premissa fundamental a combinação integrada da arte, da ciência e da tecnologia. São pontos de interesse permanente a pesquisa e a inovação, a educação, a transformação urbana e social, a cultura, a tecnologia e a arte, a cidadania, a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

JM - De onde surgiu a ideia de criar um novo programa (tecnologia) para facilitar a relação idoso-tecnologia-celular?
Eric - A ideia inicial surgiu a partir do acompanhamento da relação entre a minha mãe (que entrou na faixa de terceira idade) e a tecnologia. Ela percebeu a real necessidade (e às vezes obrigação) de se manter conectada não só com a família, mas com a sociedade como um todo através do celular. Percebi que nos primeiros aparelhos que utilizou a aprendizagem foi difícil. Os conceitos e metáforas utilizados lhe eram estranhos e só continuou com o esforço de aprendizagem porque percebeu que sem aquele aparelho teria problemas de comunicação, posteriormente, não só com a família mas com amigos (as) e relações comerciais como bancos, empresas de energia e água, laboratórios, cartões de crédito... A frustração dela era grande e entendi que, como designer, poderia tentar reduzir esse atrito, utilizando melhor os recursos da área.

JM - Como está sua mãe (tecnologicamente)?
Eric - Hoje, minha mãe me chama com menos frequência para perguntar sobre como funciona isso ou aquilo no celular. Apesar de todas as dificuldades, acabou se adaptando e aprendendo que nem tudo que ela faz e/ou quando comete algum erro vai necessariamente apagar o aparelho. Acredito que acabou se “digitalizando” e aprendeu com os erros (o que leva tempo e pode fazer com que alguns desistam). Ainda existe atrito e nesses momentos recebo uma mensagem no WhatsApp com áudio (preferido dela por ser rápido e evitar erros ou demora na digitação).

JM - Por onde caminhou com a sua pesquisa?
Eric - Me coloquei na posição de entender o processo de envelhecimento, os limitantes físicos e psicológicos, a acessibilidade, as questões referentes às diferenças entre os imigrantes e nativos tecnológicos, o inter-relacionamento entre as gerações digitais e as que estão tentando se adaptar ao mundo digital. A partir desse entendimento do público idoso comecei a construção do processo criativo do Design, da busca de cores, dos ícones, dos melhores textos e da melhor organização visual para facilitar o acesso direto e com menor atrito às funções principais do aparelho celular pelo público idoso.

JM - Qual será o próximo passo?
Eric - Como este é um projeto em dois atos, o próximo passo, que virá no Doutorado, é o teste com usuários reais desses elementos e todas as alterações que serão realizadas para chegar a um conjunto de melhores práticas. Essas poderão ser consultadas e utilizadas por outros designers e desenvolvedores na criação de produtos mais acessíveis, não somente ao idoso, mas a todas as pessoas com algum limitante. O objetivo é integrar e possibilitar a utilização da tecnologia para toda a sociedade.

JM - O que aprendeu e acha relevante destacar sobre o processo de envelhecimento?
Eric - Aprendi (verdadeiramente) muita coisa. Vou pontuar 3 itens:

1. Nem todo idoso está disposto a deixar a tecnologia entrar em sua vida (claramente, isso é um fato que acontece não somente com idosos, mas dentro do âmbito da pesquisa posso afirmar isso). É preciso respeitar a decisão dessas pessoas de não se manterem conectadas. A família precisa encontrar maneiras de integrar o idoso à sua rotina por mais que essa rotina seja digitalizada em nossos dias. Serviços privados e públicos não podem exigir conectividade e uso de celular ou computador para o acesso a serviços. Isso segrega o idoso não conectado e só atrapalha seu dia a dia.

2. As relações de aprendizagem mudaram. Antes, o idoso assumia o papel de receptáculo do conhecimento e experiência, hoje o jovem assume essa postura (principalmente se focarmos a utilização e relação com aparelhos e ambientes digitais). Essa inversão é interessante, mas ao mesmo tempo perigosa, pois o idoso pode entrar no ambiente digital sem as estruturas necessárias para o entendimento de como tal local funciona. Golpes digitais de roubo de dados, acesso a contas bancárias, golpes via telefone/SMS/WhatsApp e as já famosas fake news (notícias falsas) atingem, principalmente, o grupo dos idosos ainda não acostumados com a “digitalização da criminalidade”. É preciso investir na educação digital do idoso para o reconhecimento de ações negativas da Internet e também para ensinar que não é porque temos esse tipo de ação que a Internet, como um todo, deveria ser desligada/desativada. A Internet é, em parte, nosso reflexo. Enquanto sociedade, precisamos extrair o que há de bom e entender as facetas ruins para poder combatê-las.

3. Os jovens de hoje serão os idosos de amanhã. Eles já estarão adaptados ao uso do celular, mas não pensam nos limitantes que os acompanharão no processo de envelhecimento: redução de coordenação motora, acuidade visual e auditiva (o uso intenso de fones de ouvido em volume não saudável já está deixando os jovens “mais surdos” hoje). É preciso pensar no idoso de hoje que necessita e quer ser integrado digitalmente e, também, é preciso pensar no idoso de amanhã que já estará integrado mas terá dificuldades em utilizar seu celular não adaptado.

Eric Viana nos mostrou que é possível aprender muito com a convivência e pesquisas em prol da qualidade de vida dos idosos. Das relações diárias e de um olhar sensível é que podem surgir estudos que viabilizem uma melhor relação entre essa faixa etária, a família, a sociedade e as tecnologias, respeitando sempre a individualidade de cada um.

Equipe Jornal Maturidades

 

 
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