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MATURIDADE, TRANSFORMANDO SUA IDENTIDADE


Por Ezio Okamura*

Embora possamos empregar o termo maturidade para crianças, jovens e adultos, vamos aqui relacioná-lo a pessoas que há tempos ganharam – e talvez tenham deixado para trás – o status de apenas adulto. Então, imediatamente, vem ao nosso pensamento: gente da maior idade, da melhor idade, da terceira idade ou idosos etc...

Na verdade, a imagem em nossa mente é de pessoas envelhecidas. Preferimos, entretanto, não utilizar a palavra “velho” por não ser politicamente correto. Mais que isso, ela evoca certos aspectos negativos que procuramos não enxergar, disfarçar ou mesmo não admitir.

Assim, quando falamos de gente na maturidade ou caminhando para a velhice, falamos de quem já não apresenta a mesma flexibilidade e agilidade física e mental de antes, pessoas que têm os movimentos ou o funcionamento da memória um pouco mais lentificados, por exemplo. Seu círculo de relacionamentos se modifica ou tende a diminuir, pois, em geral, estão aposentados ou desempregados. Amigos e parentes apresentam mais doenças ou são perdidos por motivo de falecimento.

Surge a sensação de solidão e isolamento, bem como de improdutividade.

Nossa sociedade de consumo prefere não enxergar as pessoas na velhice. Daí chamarem-nas de terceira idade, maior idade ou idosas, o que evita considerar esses aspectos indesejáveis.

Isso, certamente, se relaciona também com a ênfase nos procedimentos de retardamento do aparecimento dos sinais da velhice (produtos e drogas conservadoras e rejuvenescedoras, academias específicas etc.), além da evolução de tecnologias médicas de prevenção e curas de doenças que absolutamente parecem miraculosas.

Observa-se recentemente, inclusive, alguns sinais de glamorização do envelhecimento.

Mas como realmente recuperar a verdadeira identidade da pessoa madura ou envelhecida?


SUCESSÃO DE PAISAGENS



O velho não está indo ladeira abaixo, perdendo, sofrendo e evitando a todo custo a ideia da morte. Quando se fala “ladeira abaixo” existe a suposição de que ele esteve no topo da montanha, a qual teve que subir com esforço ou a todo custo. Essa imagem do transcorrer da vida é enganosa.

Preferimos ver a vida como uma sucessão de paisagens. Assim, transcorremos caminhos ora desérticos, pedregosos, escorregadios e perigosos, com sol escaldante ou frio enregelante em que sofremos e perdemos. Outras vezes, a estrada é plana e segura com árvores frondosas, frutíferas, acolhedoras. Ganhamos fôlego, bem estar e alegrias.

Na estrada da velhice podemos passar por sofrimentos, tristezas, mas também gozar motivações e alegrias, assim como em qualquer outra etapa do ciclo da vida.

Devemos admitir com coragem o que já fizemos ou o que deixamos de fazer, reconhecer que acumulamos experiência. As tarefas saudáveis no ciclo de vida da velhice requerem ressignificações dos fatos e ações passados com essas perspectivas. Já não vamos competir com os mais novos. Vamos procurar interagir para trocar experiências.

Há, certamente, nos mais velhos maior tranquilidade, mais sabedoria, mas, talvez, não necessariamente mais conhecimento. Essa é a identidade a construir pelas pessoas na velhice e que se transforma conforme as tarefas psicológicas adequadas que têm possibilidade de cumprir.

 

   
Professor Ezio Okamura

 

* Ezio Okamura é psicólogo formado pela PUC/SP e atualmente trabalha na área de Neuropsicologia Clínica. Informações: www.ideac.com.br



Foto: Arquivo Pessoal


 
 
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