Da solidão à depressão na Terceira Idade
Por Mariasun Montañés
Lidar com a passagem do tempo talvez seja o grande desafio do ser humano.
A criança deseja acelerar o relógio para crescer rápido, o jovem deseja pular essa etapa para ser tratado como adulto e o adulto deseja parar o tempo para não envelhecer. Estamos sempre lutando contra o tempo, suas imposições e caprichos.
Tempo... tempo... tempo... de fato és o senhor do destino.
Gostaríamos de ter mais tempo para fazer as coisas que nos dão prazer. Reclamamos porque aquele momento tão esperado tarda a chegar ou porque ele passou rápido demais. Adiamos projetos e sonhos à espera do momento ideal... que nunca chega...
Até que, num certo dia, o tempo decide impor-se sem evasivas ou rodeios.
Os olhos começam a ficar embaçados. As pernas não correm mais como antigamente. A audição diminui. As mãos ficam trêmulas. O passado insiste em voltar na forma de lembranças. A memória recente falha. Os filhos dão adeus aos pais. Os amigos adoecem e se vão. A aposentadoria chega... A nostalgia e o torpor se instalam.
De repente, a epifania e a certeza de que não adianta fugir do tempo. Ele sempre nos alcança e não poupa ninguém da sua passagem, do envelhecimento, das perdas e dos lutos. Talvez a perda mais dolorosa seja a sensação de estar perdendo o controle do próprio corpo e de si mesmo.
Como lidar com a passagem do tempo?!?, eis a questão.
As limitações físicas, a aposentadoria, a perda de entes queridos, as separações, o sentimento de incapacidade, a ausência de perspectivas no presente e do futuro, para alguns, podem se transformar em sofrimento e dor.
De um dia para o outro, ao acordar, a pessoa não se reconhece mais, sente-se estranha em seu corpo, em sua casa e no mundo que a cerca. Começa a perder o ânimo e a alegria de viver. Diante desse limiar de tormento e desorientação, encontra no isolamento e no afastamento social, um refúgio seguro.
Nesse retiro auto-imposto, perde o interesse de encontrar os amigos; coloca o telefone no mute; deixa de se cuidar; abandona as coisas que antes gostava de fazer; não quer sair do quarto, que por sinal está uma bagunça; dorme em demasia ou tem dificuldade para dormir; apresenta distúrbios alimentares; sente imensa tristeza e uma angústia difusa que a sufoca. A vida perde o prazer. Quando isso persiste por meses ou anos, a infelicidade sem fim e a solidão dão lugar à depressão.
Esse transtorno pode atingir as pessoas em qualquer época da vida.
No entanto, há de se notar que as mudanças de comportamento, de humor e isolamento daquele que já passou dos 60 anos, podem ser vistas e confundidas pelos filhos e os mais próximos, como processos naturais do envelhecimento, retardando a atenção, ajuda e o tratamento que ele necessita.
Essa incompreensão dos outros, diante da dor e do sofrimento que a pessoa sente, apenas contribui para aumentar a sua visão patológica e distorcida do mundo e de si mesma, alimentando e agravando o seu abatimento e tristeza.
Quando alguém nesse estado, diz “a minha vida não tem mais sentido”, “a minha presença é um peso para os filhos”, “a minha morte seria um alívio para todos”, “não me sinto amado”, é preciso prestar atenção ao que ele está querendo dizer. Muitas vezes, isso é um pedido de ajuda.
A depressão é uma doença da alma, que afeta significativamente a saúde mental e física.
Ela consiste em remoer as dores do passado, remexer em feridas cicatrizadas, paralisar diante do medo da morte e do desconhecido, martirizar-se com uma constante sensação de incapacidade e de abandono, que faz a pessoa ir definhando lentamente a cada dia.
Diante desse estado emocional de desânimo e desesperança, o corpo reage não apenas com alterações do sono, mas com a queda do sistema imunológico, ficando vulnerável aos processos inflamatórios e às doenças, psicossomáticas ou não. O maior fator de risco nesses casos são as cardiopatias e as doenças respiratórias, que podem levar até à morte.
Por essa razão, a depressão deve ser tomada a sério. Ela não é algo banal ou uma forma dramática de chamar a atenção dos outros sobre si. Ela é um sofrimento real, dilacerante, que muitas vezes necessita da intervenção de um médico e de tratamento.
O suporte da família e dos amigos, em especial dos filhos, é fundamental e indispensável nesse momento. É preciso entender que aquele que sofre e é prisioneiro da depressão, necessita de apoio externo para reencontrar-se e adaptar-se às mudanças que o tempo trouxe e a realidade impõe.
A depressão é tratável. O caminho está em auxiliar a pessoa a sair do estado de torpor, abatimento e solidão em que se encontra, para que ela consiga e se sinta estimulada a tirar da gaveta os sonhos por anos acalentados; encontrar novos hobbies e atividades que lhe tragam prazer; começar novos cursos e aprender coisas novas que a estimulem e motivem; praticar exercícios físicos, dançar ou cantar num coral, ações que a ajudem a recuperar o bem-estar e o equilíbrio emocional... indo ao encontro daquilo que foi adiado por toda uma vida. Esses são os remédios mais eficazes contra os estados depressivos.
Afinal, envelhecer nada mais é que aceitar o tempo e vivê-lo em sua plenitude.
*Aluna da Universidade Aberta à Maturidade (UAM).