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  Da solidão à depressão na Terceira Idade  

Sociopsicodrama: igual e/ou diferente?


Por Profª Dra. Marilia J. Marino*

Este ano a “Universidade Aberta à Maturidade” (UAM) / Faculdade de Educação participou da IV Semana da Inclusão de Pessoas com Deficiência da PUC-SP (de 20 a 25 de setembro de 2019), com a Oficina: “Sociopsicodrama: igual e/ou diferente?”, realizada no dia 25 de setembro.

Com um conteúdo rico a ser trabalhado, a organização da oficina contou com a participação da psicodramatista Maria Cecília Santos (ex-aluna do Curso de Formação em Psicodrama, convênio SOPSP/PUC-SP), que responde pelas Relações Institucionais da DERDIC. E foi fundamental contarmos com o intérprete em Libras, Alexandre, que além de intérprete, teve uma atuação como ego-auxiliar – figura que em sintonia com a direção, compõe a unidade funcional.

O conteúdo vale ser compartilhado, para que outros tenham acesso à realização do objetivo proposto e possam, se for o caso, se encantar com o Psicodrama.

Elegemos como Objetivo Geral (o para quê estarmos juntos): Possibilitar o resgate da nossa condição humana, em que importa ser, darmos conta de ser (verbo) que se expressa em diferentes modos concretos do existir em diferentes papéis. O pressuposto foi: somos “iguais” em nossa condição humana, “diferentes” nas possibilidades e limites: corporais, cognitivos, socioemocionais (...) conforme nossa inserção no mundo, marcado pelas contingências histórico-socioeconômico-culturais.

Com um tempo limitado em 1h30min, esperando um público diversificado de cadeirantes, cegos, surdos, diferenças étnico-raciais, idosos e outros, vários roteiros possíveis foram previstos, tendo como referência as etapas de trabalho de um sociopsicodrama, em que o aguardado é uma co-criação, partindo do que o grupo revela como necessidade, após um reconhecimento de “quem somos nós que estamos aqui”...

O esperado era: abrir-se ao encontro consigo mesmo e com o outro, identificando dificuldades e ações vividas que possibilitam superação – empoderar-se, resgatando autoconfiança em espontaneidade-criatividade.

Momentos

Os participantes foram recebidos com um simpático café da manhã preparado pela DRH. Um clima de camaradagem foi visível entre os agentes de campus (surdos) e de outros setores (ouvintes) que chegaram. Foram 12 surdos e 4 ouvintes... Abrimos o encontro chamando a atenção para o título do trabalho e o convite para a “Oficina” – atividade em que produzimos algo juntos – uma co-criação.

Da palavra sociopsicodrama, derivam-se o “nós” (a dimensão coletiva de quem somos) e a “singularidade” (a dimensão pessoal – expressão do “eu”). No “drama” o convite à ação, um acontecer em que vamos trabalhar juntos.

Todos gostam de “teatro” e, por isso, trabalhamos nossas experiências em uma linguagem expressiva. Duas cadeiras que se voltam uma para a outra, convidaram ao Encontro e, também, marcaram a abertura das “cortinas”. Chamamos ao centro do espaço, nosso “palco”. O andar, apropriando-se do ambiente, sentindo o contato dos pés com o chão, o respirar profundamente (contato com a vida), o alongamento, o convite para cumprimentarem-se de forma criativa, fazendo contato visual, cria o clima de proximidade esperado... Um trabalho espontâneo, criativo, implica em preparação, em grupalizar.

Solicitamos o agrupamento pelas atribuições que têm no trabalho e formaram-se grupos: agentes de campus, setores administrativos e do PAC (Programa de Atendimento Comunitário). O desafio: conversarem entre si e chegarem a uma palavra ou uma frase em consenso que expressasse a disposição que apresentam em suas atividades. As Palavras chegam como: acolher, comunicar-se, estar atento... os gestos falam da abertura ao outro.

Retornamos ao grupão, à roda, solicitamos o mergulho em seus mundos internos e o filme individual do cotidiano. Localizaram uma situação (cena) do dia a dia que os desafiava. Fotografaram a imagem para uma investigação mais profunda. Pelas palavras similares formaram-se 3 grupos, que compartilharam entre si a experiência, e foram chamados a construírem uma expressão criativa comum, na forma de cena (onde estou, com quem e o que acontece) ou simbólica. Podiam utilizar tecidos, cordas, lenços e objetos deixados à disposição como recursos expressivos.

Houve envolvimento vibrante com a tarefa e nosso intérprete-ego auxiliar circulou entre os grupos que traziam surdos e ouvintes.

Neste momento de preparação para ação, recebemos duas pessoas do curso da UAM (ouvintes). Integradas como plateia no trabalho, puderam dar sua contribuição ao que se seguiu.

Ação dramática-expressiva: experiência vivida

Em cada apresentação, a direção solicitou ressonâncias da plateia, que entrevistou os participantes em cena. Em alguns momentos, inclusive, foi solicitada uma nova encenação para maior apropriação da plateia. Os trabalhos foram nomeados, de acordo com sua finalização.

Grupo 1. Personagens com tecidos coloridos nas costas seguram a ponta de uma corda; do outro lado, uma personagem com um tecido branco nos ombros, vê que quem está ao seu lado não chega a tocar na corda. Com gestos delicados e contato visual, o convida a segurar junto a ponta da corda. Aparece um momento leve, lúdico na ação comum que toca a todos. Em síntese, nomeiam a construção: Vínculo, Confiança.

Grupo 2. Tecidos de várias cores estão enrolados, formam um nó. A personagem que está no centro, segurando “o nó” com os tecidos embolados, diferenciada por ter feito “um turbante” na cabeça, com um tecido prateado (representando luz), convida para que juntos desfaçam esse nó. Devagar e com a colaboração dos demais, vão desatando os tecidos e formam um trançado de várias cores. Há sorrisos, alegria e a plateia capta a importância do trabalho conjunto, fala em atenção e cuidado. O nome atribuído é: Desatando nós, Comunicação.

Grupo 3. Uma corda azul esticada é sustentada por todos. Algumas personagens estão enroladas em tecidos, outras não, revelando diferenças... A personagem de uma ponta, com uma garrafa de água na mão, a oferece ao próximo parceiro que repassa para o seguinte e assim por diante. Ao receber “a água” percebe-se gratidão no olhar, um revitalizar-se, fortalecer-se. Terminam enlaçando-se na corda em círculo: a sustentação de um trabalho em equipe.. O nome a que chegam: Ajuda, União. Expressam-se com as mãos em um gesto que forma elos, com os dedos entrelaçados que traduzem como Vínculo.

Aplausos seguiram-se a cada apresentação, em libras e com palmas e assim, caminhamos para o próximo passo.

Compartilhar e elaborar

Sentamo-nos em roda no chão com a liberdade também de aproximar cadeiras e criar proximidade. Os recursos que antes eram só objetos, agora são colocados no centro e continuam a falar do que significaram para todos, em cada construção. O que o trabalho trouxe para nós? Como estamos nos sentindo? Há sorrisos e entreolhares que expressam “Valeu”!!!

A direção resgata a intenção do Encontro, antes representados pelas duas cadeiras voltadas uma para outra e agora, no palco social foi construída uma identificação. Revelaram que as dificuldades podem ser superadas com atitudes simples de persistir nos cuidados para que a comunicação aconteça. O grupo revelou seus saberes com muita espontaneidade e criatividade e neste momento nos vimos como cidadãos planetários, brasileiros e puquianos que zelam por relações justas e democráticas, com maior consciência de direitos e deveres.

Uma sociedade democrática se faz com um horizonte ético em que ampliamos cada vez mais o pronome “nós”.

As palavras escritas nas folhas de flip-shart no chão, com canetas coloridas, reafirmaram o que cada um levava do trabalho realizado: Sentimento, Feliz, Alegria, Incentivo, Luta, União, Transformação, Inclusão + Empatia, Confiança e Solidariedade, Comunidade # Social, Desatando Nós, Sucesso!!!, Confiança, União, Lutar para Conseguir, Empenho, Vida.

Nossa palavra: Gratidão! Gratidão ao grupo pela co-criação, compartilhando saberes que nos fortalecem em valores que nos são caros, à Shirlei C. dos Santos pela presença e suporte como DRH e ao Alexandre, intérprete de libras que com sua sensibilidade favoreceu nossa comunicação!

Despedimo-nos com um abraço coletivo e expressões de carinho. Ao nos “encontrarmos” pelos corredores da PUC-SP, ocasionalmente, já não seremos os mesmos de antes do trabalho...

O vivido e compartilhado nos fez mais próximos, no que somos iguais e no que somos diferentes.

(*) Doutora em Psicologia Clínica e Mestre em Educação pela PUC-SP.
Pedagoga e docente da Faculdade de Educação da PUC-SP.
Psicodramatista Didata Supervisora pela Sociedade de Psicodrama de São Paulo (SOPSP).
Coordenadora Acadêmica do Curso de Extensão Cultural “Universidade Aberta à Maturidade (UAM)” da PUC-SP.

 
 
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