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Idosos: o olhar da sabedoria e da experiência


Por Prof. Dr. José Pereira da Silva

O processo de envelhecimento suscita não só problemas médicos e sociais, mas também religiosos e espirituais.

Envelhecer é um desafio para cada um de nós, à medida que avançamos em idade.

Seria simplista falar de "velhice", no singular.  É muito mais exato falar de "velhices", no plural, pois existem inúmeras maneiras e etapas no processo de envelhecimento, em todas as culturas.

O significado do envelhecer e de suas fases varia amplamente segundo fatores como classe social, sexo, estrutura familiar, oportunidade de emprego ou aposentadoria, atendimento médico.

A velhice não é apenas um problema, uma responsabilidade ou um recurso para as gerações mais jovens. Envelhecer é ao mesmo tempo uma tarefa e um desafio para cada um de nós pessoalmente, à medida que nós mesmos envelhecemos, ouvindo empaticamente a experiência daqueles que nos precederam: ingressamos na etapa final de nossa própria vida. É importante ouvir o insight das próprias pessoas idosas.

As culturas não ocidentais têm muito a ensinar às assim chamadas nações desenvolvidas sobre o valor de uma vida longa e sobre a integração social dos idosos.

Como podem as comunidades humanas reconhecer os problemas e o valor intrínseco da velhice e, ao mesmo tempo, orientar instituições como a família, o mercado de trabalho e a assistência médica de modo a incrementar o sentido da vida dos idosos e integrá-los com êxito na sociedade e na Igreja? E a perspectiva cristã: que tem ela especificamente a oferecer quanto a essas perguntas? A busca de uma compreensão cristã mais abrangente do processo do envelhecimento humano.

A Bíblia não ignora o peso que a velhice traz para o homem e a mulher, mas encara especialmente a vida longa como graça e recompensa do céu.  O mandamento "Honrarás pai e mãe", embora suscetível de várias interpretações, implica hoje responsabilidade quanto à proteção e auxílio dos idosos. Lembra-se aos cristãos que Deus criou o povo de Israel a partir de um casal já idoso, estéril, sem esperanças e talvez sem futuro.

A Sagrada Escritura de Israel nos convida a começar e a concluir qualquer estudo sobre nossa vida, que parece às vezes prolongar-se indefinidamente, não se sabe o porquê, à luz do destino do patriarca e de sua mulher, que permitiu pôr a caminho a história de nossa salvação.

Permitir vislumbrar a graça de Deus cumprindo a promessa: "Por mais velhos que vos torneis, permanecei o mesmo, e vos carregarei até ficardes de cabelos brancos: eu o tenho feito, e eu vos continuarei carregando, eu carrego e ponho a salvo" (Is 46,4).

A velhice pode compendiar o mandamento para viver no fim dos tempos. Cabe ao idoso / à idosa saber progressivamente despojar-se de tudo o que possui.

É preciso reconhecer o caráter único de cada pessoa, de cada idoso; saber relacionar-se socialmente com os outros e com Deus; e participar, de alguma forma, numa vida comunitária em que garanta a interpendência pessoal.

É preciso uma ética da velhice em que se aceite o envelhecer como parte da própria condição humana, e na qual amar e servir aos idosos signifique amar e servir ao seu próprio futuro bem como servir a Deus.

Uma das funções dos idosos é preparar a geração atual para preservar a memória das gerações precedentes. Preservar a memória dos valores, enquanto se move em direção à pós-modernidade. Na riqueza de suas experiências, podemos nos reencontrar ou nos estimular para o nosso dia-a-dia. Como escreveu Marc Chagal (1887-1985): "Como, obrigatoriamente, toda vida se encaminha para o fim, deveríamos, enquanto ela perdurar, colori-la com os tons do amor e da esperança". Ou nas palavras de Romano Guardini (1885-1968): "Pessoas muito idosas são quietas por iniciativa de seu próprio interior. Têm uma dignidade que emana de seu ser e não de realizações. Em seu âmago alguma coisa se torna presente e dificilmente pode ser designada de modo diferente ao conceito do eterno".

Uma certa visão ocidental da vida humana que pretende persuadir-nos que não só nada é mais belo que a juventude, mas que, passada a juventude, quase não vale mais a pena viver. Permanecei jovens! É o que repete sem cessar uma publicidade a serviço do dinheiro e que a mídia se encarrega de repercutir todo dia.

Uma relação completa é bem recíproca e exige do idoso a capacidade de opor-se aos preconceitos que continuam existindo na sociedade.

Os idosos podem crescer interior, interpessoal e comunitariamente. Têm um futuro nos aspectos qualitativos do tempo que lhes resta. Continuarão a viver naqueles a quem ajudaram, e esperam viver em Deus. Não permitirão serem atiradas numa existência solitária na periferia da sociedade. Retornarão aos centros de decisão, trazendo suas aptidões e sabedoria para o benefício dos outros. Eles nos encorajam a entrar na curva de descensão física da vida com esperança de uma genuína ascensão espiritual em nossa última etapa. Os idosos são transmissores da fé. O envelhecimento é um período de reconciliação.

A sociedade deve criar espaços criativos em favor do idoso através de um trato diferenciado e onde se organiza um espaço próprio que, de forma antecipatória, possibilita ao idoso já, aqui e agora, uma experiência e uma vivência alternativa.

O que importa, verdadeiramente, é criar um clima tal que se possa viver na unidade com Deus e com tudo aquilo que Deus tão prodigamente criou, que se possa olhar para todas as coisas e os outros com alegria e misericórdia, e alegrar-se e rejubilar-se porque foi Deus quem fez este dia, este período da vida humana.

 

 
 
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