Virado: Patrimônio Cultural Imaterial*
Por Sueli Carrasco
Virado à Paulista ou simplesmente Virado: feijão já cozido, um pouco de seu caldo, refogado em gordura, alho e cebola. Coloca-se sal, mexe-se com farinha de milho ou mandioca. Acompanhamentos essenciais: bisteca ou costelinha de porco, linguiça frita, banana empanada e frita, ovo estrelado com a gema mole, couve em tirinhas finas refogadas, torresmo crocante e arroz branco.
Um pouco da história de seu principal ingrediente, o feijão. É um nome de grande variedade de sementes de plantas de alguns gêneros da família Fabaceae. Proporciona nutrientes como proteínas, ferro, cálcio, vitaminas (principalmente do complexo B), carboidratos e fibras. Descobertas arqueológicas sugerem que o feijão cultivado tenha sua origem no Peru, América do Sul, um local conhecido como sítio arqueológico Caverna Guitarrero e depois levado para regiões mexicanas, onde vestígios indicam fora domesticado. Ele é considerado como um dos mais antigos alimentos utilizados pelo homem e importantíssimo na dieta de várias civilizações.
Na Roma antiga os feijões eram usados como moedas em jogo de apostas e na elaboração de sofisticados pratos. Existem registros de receitas de Apicius, famoso gourmet que vivia na época do imperador Augusto. Os Budistas, que não consomem carne, encontraram no feijão um grande aliado para uma alimentação saudável. Na Grécia antiga o feijão era oferecido como lanche em simpósios quando homens se reuniam para discutir política ou filosofia. No Brasil não poderia ser diferente: é um dos principais pratos que formam a base da nossa alimentação.
Voltando ao Virado também conhecido como Virado à Paulista. É um prato típico do estado de São Paulo. Surgiu com as entradas*, bandeiras* e monções*, no Brasil colônia. Os bandeirantes paulistas embrenhavam-se nas matas sem rumo ou data para voltar em busca de índios: como mão de obra escrava, ouro e pedras preciosas. Precisavam de uma refeição que sustentasse e fornecesse energia suficiente para as longas jornadas pelo interior.
Ao contrário dos índios, os brancos não sabiam encontrar na mata, comida com facilidade: era perigoso comer algo estranho e morrer envenenado.
Levavam mulas carregando armas, ferramentas e farnéis de comidas como feijão, farinha de mandioca ou de milho, carne seca, toucinho e outros na garupa dos animais, galopando, chacoalhando. O Virado surgiu com esse nome porque no caminhar das expedições, muitas vezes os terrenos percorridos eram acidentados e de difícil locomoção e os ingredientes utilizados para refeições ficavam revirados dentro das bolsas.
Os bandeirantes levaram o Virado para Minas Gerais, estado vizinho, região a desbravar na época e lá se converteu em Tutu à Mineira, mas com uma diferença, no tutu os grãos do feijão são moídos, e no paulista os grãos são inteiros.
No livro “Na Trilha da Independência”, a folclorista Maria de Lourdes Borges Ribeiro conta que D. Pedro I em sua viagem do Rio de Janeiro para São Paulo, comeu virado na Fazenda Pau d’Alho em São José do Barreiro, Vale do Parnaíba, no dia 17 de agosto de 1822 antes de dar o “Grito do Ipiranga”.
Com o passar da carruagem o Virado à Paulista ganhou nova identidade e na prática tornou-se uma refeição completa inventada pelos caminhos de São Paulo.
O Virado tornou-se prato oficial das segundas feiras nos restaurantes. Foi reconhecido como patrimônio imaterial do estado de São Paulo, título concedido no dia 6 de fevereiro de 2018 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Governo do Estado de São Paulo (Condephaat). As justificativas do título são de suma importância nas viagens de expansão do território brasileiro. Há documentos do prato desde 1602, quando era usado para alimentar as expedições dos bandeirantes.
O que é Patrimônio Cultural Imaterial?
Patrimônio Cultural Imaterial são práticas, representações, expressões, e técnicas transmitidas de geração em geração e constantemente recriadas pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
*Bandeiras eram expedições organizadas e financiadas por particulares principalmente por paulistas, que partiam de São Paulo e São Vicente rumo às regiões centro oeste e sul do Brasil com o objetivo principal de descobrir minas de ouro, prata e pedras preciosas apriconar levar índios para mão de obra escrava.
*Entradas: eram expedições organizadas pelo governo para fazer o mapeamento do território brasileiro.
*Monções: Expedições fluviais foram a continuação da história das bandeiras paulistas e tiveram um importante papel na coloniazação da região centro-oeste brasileira.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Virado Acessado: 06/02/2018
https://gl.globo.com/sp/...virado-a-paulista-vira-patrimonio-imaterial-do-estado-ghtm Acessado: 06/02/2018
https://saopaulo.estadao.com/br/noticia/geral,virado-a-paulista-e-ereconhecido-como-patrimonio-imaterial,70002180082 Acessado: 07/02/2018
https://guia.folha.uol.com.br/restaurantes/2018/02/virado-a-paulista-e-ereconhecido-como-patrimonio-imaterial-de-sp-saiba-onde-comer-shtml Acessado: 12/02/20
www.picari.org.br/o-que-e-patrimonio-cultural-imaterial/ Acessado: 01/03/2018
|